Nietzsche e a Psicologia da vontade reconsiderada

Abstract

Dissertação (mestrado) — Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, 2022.Trata-se de um estudo sobre a psicologia de Nietzsche no segundo ensaio da Genealogia da Moral (1887), que objetiva entender por que Nietzsche considera a vontade um objeto privilegiado da memória, qual a origem desse modo de pensar e quais suas principais consequências teóricas. Para realizar essa tarefa, procuramos, no primeiro capítulo deste trabalho, promover uma retomada histórico-filosófica que possibilite compreender o modo pelo qual se deu o interesse de Nietzsche pela psicologia. Aqui, nossa pesquisa se distancia da abordagem dominante, para a qual a psicologia vale, na investigação da vontade, como contraponto teórico à metafísica. No segundo capítulo, partindo de uma intuição de Heidegger, mostraremos que a filosofia de Aristóteles se torna o principal eixo articulador do conceito de vontade como faculdade da alma no domínio da psicologia, dado seu interesse em, por meio de uma interpretação da parte racional da alma como algo volitivo, compatibilizar psicologia e ética. No terceiro capítulo, buscamos demonstrar a crítica de Nietzsche a essa captura da vontade pela psicologia orientada eticamente (tal como sugere a interpretação aristotélica). Dessa maneira, a partir do conceito de memória da vontade, visamos a compreender não só como Nietzsche interpreta o processo de transformação do ser humano no tempo em oposição ao seu passado animal sob o domínio do esquecimento, mas também como Nietzsche pensa a constituição da vontade na memória sem uma mediação racional, a partir de uma mutação de forma do sofrimento físico e psicológico. Com base na nossa investigação sobre a relação entre memória, vontade e sofrimento, segundo o fio condutor antirracional da animalidade, concluímos que Nietzsche apresenta uma alternativa estética às representações da dor e do sofrimento fundadas em um ponto de vista éticopsicológico.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).This is a study on Nietzsche's psychology in the second essay of the Genealogy of Morals (1887), which aims to understand why Nietzsche considers the will a privileged object of memory, what is the origin of this way of thinking and what are its main theoretical consequences. To accomplish this task, we seek, in the first chapter of this work, to promote a historical-philosophical resumption that makes it possible to understand the way in which Nietzsche's interest in psychology took place. Here, our research distances itself from the dominant approach, for which psychology is worth, in the investigation of the will, as a theoretical counterpoint to metaphysics. In the second chapter, starting from an intuition of Heidegger, we will show that Aristotle's philosophy becomes the main articulating axis of the concept of will as a faculty of the soul in the field of psychology, given its interest in, through an interpretation of the rational part of the soul as something volitional, to reconcile psychology and ethics. In the third chapter, we seek to demonstrate Nietzsche's critique of this capture of the will by ethically oriented psychology (as suggested by the Aristotelian interpretation). In this way, from the concept of memory of the will, we aim to understand not only how Nietzsche interprets the process of transformation of the human being in time in opposition to his animal past under the domain of forgetfulness, but also how Nietzsche thinks about the constitution of the will in memory without a rational mediation, from a mutation in the form of physical and psychological suffering. Based on our investigation of the relationship between memory, will and suffering, according to the anti-rational thread of animality, we conclude that Nietzsche presents an aesthetic alternative to representations of pain and suffering based on an ethical-psychological point of view

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