Esta tese examina as crónicas coligidas e não-coligidas da autora portuguesa de origens judia alemãs, Ilse Losa (1913-2006). Abrangendo um período de cinco décadas, de 1948 até aos
primeiros anos da década de 1990, as crónicas refletem não só a trajetória pessoal de integração
de Losa, mas também o contexto sociopolítico português enquanto este sofreu as
transformações profundas da segunda metade do século vinte. Tal como Losa, que, como
autora (mulher) de origens estrangeiras, representa para a sociedade e cultura portuguesas uma
identidade marginal a vários níveis, a crónica, como género que se localiza entre diferentes e
aparentemente contrastantes campos discursivos (como os da literatura, da história e do
jornalismo) tende a ser subvalorizada nos estudos literários portugueses. Como resultado, este
aspecto específico da obra da autora representa uma área da literatura portuguesa que, até ao
momento, tem sido duplamente negligenciado pela academia. A tese dedica minuciosa atenção
aos três volumes de crónicas losianas – Ida e Volta: À Procura de Babbitt (1960), Estas Searas
(1984) e À Flor do Tempo (1997); também explora arquivos que contêm textos que Losa
publicava regularmente em revistas e jornais mas que ainda não se encontram em coleções
editadas. O resultante retrato de “Ilse Losa, cronista” que se revela é o de alguém que estava
profunda, consistente e atrevidamente comprometida com questões de justiça social,
frequentemente contornando com destreza a censura do Estado Novo para conseguir expressar
as suas opiniões progressistas e portanto polémicas. Ao combinar dados quantitativos e
qualitativos do arquivo da família Losa com os de quatro estudos de caso (Vértice, Seara Nova,
Diário de Lisboa e Público), a tese, além de desenvolver uma impressão mais nítida da crónica
losiana ao longo das cinco décadas da sua produção, incorpora uma discussão e ilustração
prática da importância de uma abordagem transparente ao trabalho de arquivo.This thesis examines the collated and uncollated crónicas of Jewish-German-born author of
Portuguese literature, Ilse Losa (1913-2006). Spanning a period of five decades, from 1948 to
the early 1990s, the crónicas reflect not only Losa’s personal trajectory of increasing
integration in Portuguese society, but also the Portuguese socio-political context as this
underwent radical transformation throughout the latter half of the twentieth century. Just as
Losa herself, who, as a foreign-born, female writer, represents a multiply marginal figure in
Portuguese society and culture, the crónica, as a genre which sits between different, apparently
distinct discursive fields (such as those of literature and history, or literature and journalism)
has tended to be undervalued within Portuguese literary studies. As such, this particular aspect
of this particular author’s oeuvre represents an area of Portuguese literature which, so far, has
been doubly neglected by scholars. The thesis gives thorough attention to the three published
volumes containing Losian crónicas – Ida e Volta: À Procura de Babbitt (1960), Estas Searas
(1984) and À Flor do Tempo (1997) – as well as embarking on an exploration of archives
containing texts which Losa regularly published in periodicals and newspapers but which have
not been reproduced in anthologised collections. The impression of Losa’s cronista identity
which emerges is of someone thoroughly, consistently and boldly engaged with issues of social
justice, frequently and skilfully navigating Estado Novo censorship in order to express her
controversially progressive views. Combining quantitative and qualitative data from the Losa
family archive plus four case studies (Vértice, Seara Nova, Diário de Lisboa and Público),
beyond developing a fuller picture of the Losian crónica across the five decades of its
production, the thesis also incorporates a discussion and practical illustration of the need for a
transparent approach to archival work