Apresentação feita pelos Organizadores do número temático

Alarcão, Isabel

Andrade, Ana Isabel

Machado, Jane do Carmo

Neves, Rui

Portuguese

Portal De Periódicos Científicos Da Universidade Federal De Juiz De Fora (UFJF)

 ISSN 1984-5499  Licenciado sob uma Licença Creative Commons    A supervisão em contextos de formação: alguns estudos em Portugal  A segunda publicação do ano da Revista Instrumento é uma edição especial que reúne trabalhos relacionados a um tema específico. Fomos convidados para organizar o presente número temático (n.2, v.22, mai./ago. 2020), o que nos trouxe enorme satisfação. Apresentamos onze estudos inscritos na área da Supervisão, todos criteriosamente apreciados por nós, organizadores, cujos autores optaram por escrever segundo a norma do português europeu. São estudos diversificados entre si, realizados por investigadores que, em Portugal, se interessam e se dedicam ao tema. Para tratar as questões presentes nessa área, os autores embasam as suas discussões em pressupostos teóricos-práticos que apontam caminhos possíveis para o aprofundamento e a melhoria de práticas instituídas e a instituir, em especial no que diz respeito à formação e ao trabalho docentes. Inicia-se este número pela apresentação do estudo “Ser Professor em Portugal: a problemática do acesso à formação/profissão”. Nele, Neves carateriza e reflete acerca da questão do acesso à formação e à profissão de Ser Professor no atual contexto social e político em Portugal. Aborda o contexto da formação inicial de educadores e professores e sua articulação com o ingresso na profissão docente e descreve a atual situação em Portugal, destacando constrangimentos, desafios e oportunidades. A documentação europeia e nacional sobre a temática viabiliza a realização de uma análise crítica da realidade e as exigências de um processo de desenvolvimento profissional dos professores, defendendo-se que, para além de atrair as novas gerações, combata o abandono por meio de políticas de qualificação, credibilização e reconhecimento. O estudo “Avaliando o modelo de estágio dos Mestrados em Ensino da Universidade do Minho: entre a qualidade desejada e a qualidade percebida”,  de Vieira, Flores e Almeida, centra-se na avaliação do atual modelo de estágio dos Mestrados em Ensino da Universidade do Minho (Portugal), criados no Ana Isabel Andrade, Isabel Alarcão, Jane do Carmo Machado, Rui Neves   Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 22, n. 2, p. 211-215, mai./ago. 2020 212   âmbito do Processo de Bolonha, implementado há 10 anos, que privilegia a investigação pedagógica como estratégia de formação reflexiva de professores. As autoras identificam nos resultados do questionário, aplicado a supervisores da universidade (n=34), orientadores cooperantes das escolas (n=112) e ex-estagiários (n=133), aproximações e afastamentos entre a qualidade desejada e a qualidade percebida, permitindo traçar algumas propostas de desenvolvimento futuro, assim como apontam ainda a importância do autoestudo na promoção da melhoria da formação docente e da educação. Neste número apresentam-se dois estudos que têm a observação como estratégia de Supervisão como foco. O primeiro de autoria de Condessa, “O recurso à observação como estratégia de formação inicial docente: notas de campo e outros registos”, aborda as potencialidades e limitações da utilização da observação nos estágios pedagógicos do 1º Ciclo do Ensino Básico. Na metodologia, privilegia a análise documental e os resultados indicam potencialidades e limitações da observação. Das potencialidades da observação nas “notas” deixadas sobre três situações de estágio identificam-se:  a compreensão do contexto educativo, o reajuste da intervenção pedagógica e o aprofundamento da temática e das limitações, a falta de treino de observação, a escassez do uso de grelhas e a falta de coerência entre os discursos e as práticas dos profissionais. Na mesma linha, no estudo “Observação colaborativa de aulas, conhecimento profissional docente e supervisão: um estudo numa escola secundária em Portugal”, Macedo e Andrade trazem uma experiência de observação colaborativa de aulas, vivida por um grupo de seis professores, numa escola secundária em Portugal, durante uma oficina de formação, e investigam as suas representações relativamente à observação de aulas, procurando compreender os efeitos desta estratégia supervisiva na (re)construção do conhecimento profissional. Os resultados evidenciam as potencialidades formativas da observação colaborativa de aulas na (re)construção do conhecimento profissional docente ao permitirem que os docentes conheçam, interpretem e reconstruam o ensino que praticam. Nos três estudos seguintes os autores discutem e refletem questões associadas à área da Supervisão mais direcionadas a contextos de Formação. Machado e Alarcão, em “A relevância da ‘Supervisão’ na organização curricular dos mestrados na área: sua relação com outras disciplinas”, apresentam uma análise sobre os Mestrados em Supervisão e sobre aqueles em que esta área é especialidade de outros Mestrados em Educação/Ciências da Educação a partir dos planos curriculares (planos de estudos) de 13 Instituições de Ensino Superior em Portugal. Nos resultados, as autoras constatam que os ECTS (Créditos Europeus de Transferência e Acumulação) atribuídos às disciplinas de um total de 1922 correspondem apenas a 17, 17% (330 ECTS) atribuídos às disciplinas que possuem em Ana Isabel Andrade, Isabel Alarcão, Jane do Carmo Machado, Rui Neves   Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 22, n. 2, p. 211-215, mai./ago. 2020 213   sua designação a palavra supervisão. Identificam ainda que unidades curriculares com grande peso incidem sobre a investigação e a avaliação e que unidades curriculares sobre observação e relações interpessoais possuem fraca presença. No estudo de Mesquita, Sanches e Freire-Ribeiro, intitulado “Contributos da supervisão pedagógica para a formação docente em Portugal”, as autoras desenvolvem uma discussão em torno dos contributos da supervisão pedagógica para a formação docente em Portugal, desde que o conceito de “supervisão” foi pela primeira vez apreciado na legislação nacional, mais especificamente com a publicação do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário (DECRETO-LEI Nº 139-A/90, de 28 de abril de 1990). Constatam que a supervisão torna-se a pedra angular na formação inicial de educadores/professores; como também que uma ação supervisiva mais colaborativa, formativa, crítica, emancipadora e desafiadora, fomenta uma melhor aprendizagem e o desenvolvimento de saberes, capacidades e atitudes, habilitando os formandos para um desempenho profissional mais competente em contexto. Machado e Andrade, no artigo intitulado “Supervisão: conceito e tendências num estudo de revisão da literatura”, centram-se na compreensão da investigação produzida na área da Supervisão a partir do levantamento de estudos realizados nos cursos de Mestrado e Doutoramento de Instituições de Ensino Superior Portuguesas, públicas e privadas. A partir dos dados, as autoras apontam que o conceito de Supervisão e a própria prática supervisiva presentes apresentam potenciais e, ao mesmo tempo, constrangimentos, pois transitam entre o real e o ideal no campo da formação e do trabalho. Esses resultados levam a ratificar a necessidade de uma articulação teoria-prática mais profícua e significativa neste campo do conhecimento. Macedo e Paixão, em seu estudo intitulado “Da avaliação do desempenho docente ao desenvolvimento profissional do professor: perceções dos atores envolvidos”, focam as potencialidades da avaliação do desempenho docente (ADD) a partir das perceções que 81 professores, em resposta a um inquérito por questionário, têm sobre a sua relação com o desenvolvimento profissional. Os resultados apontam que os professores estão de acordo com a avaliação e que esta pode ser potenciadora do desenvolvimento profissional, uma vez que a base de partilha de experiências e de ser avaliado por avaliadores em quem confiem torna-a um processo mais coerente e justo, mesmo se consideram que o modelo atual da ADD não é uma resposta eficaz. O artigo de Lopes, Tomaz e Ferreira, intitulado “Da avaliação externa à supervisão interna: um olhar sobre Centros de Formação contínua de professores “, apresenta um estudo realizado por uma equipa de avaliação externa a Planos de Formação de cinco Centros de Formação contínua de Ana Isabel Andrade, Isabel Alarcão, Jane do Carmo Machado, Rui Neves   Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 22, n. 2, p. 211-215, mai./ago. 2020 214   professores na zona centro de Portugal. As autoras analisam o modo como as secções de Formação e Monitorização são compostas e as possibilidades que evidenciam de realizar um trabalho de acompanhamento junto dos profissionais de educação, das escolas e dos agrupamentos de escolas que compõem os Centros de Formação. De um modo geral, os resultados do estudo apontam para a necessidade de reconceptualizar a função e o processo de avaliação, aproximando-o mais do processo de Supervisão, entendendo este como um importante caminho para a transformação das práticas educativas. Embora o último artigo se enquadre na área da Psicologia, traz contributos para a compreensão da Supervisão no campo educacional. Assim, o estudo feito por Saraiva, Silva, Fraga, Mário e Brandão, intitulado “Supervisão e intervisão na Psicologia das Organizações e dos Recursos Humanos”, aborda a Supervisão e a Intervisão como práticas amplamente utilizadas e reconhecidas no desempenho profissional de áreas como a Psicologia e o Ensino. Pretende, a partir de experiências profissionais concretas, substantificar o uso e os desafios destas práticas na área da Psicologia das Organizações, do Trabalho e dos Recursos Humanos. Do estudo, identifica-se uma escassez de literatura, de diretrizes e de práticas de supervisão e intervisão nesta área, apesar de se perceber no terreno o recurso à supervisão e intervisão com alguma regularidade e intencionalidade. Finaliza apresentando algumas dimensões que devem ser consideradas para o desenvolvimento de boas práticas de supervisão e intervisão. Como desfecho deste número temático, é apresentado o relato reflexivo, intitulado “Supervisão do percurso profissional: relato de experiência”, de autoria de Martins sobre a sua própria experiência pessoal-profissional na área da Supervisão, com especial destaque para o contexto dos mestrados profissionalizantes em ensino e do mestrado académico em Educação e Formação do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro (Portugal). A autora sustenta a reflexão inicial sobre a definição do conceito de Supervisão considerando as dimensões do tríptico supervisivo (profissional, curricular e investigativa) à semelhança do tríptico didáctico enunciado por Alarcão (1994) em “A didáctica curricular na formação de professores”. Para finalizar, traz uma interrogação sobre a necessidade de se criar um “terceiro espaço” configurador da dimensão político-interventiva da Supervisão. Para finalizar, importa referir que os estudos aqui apresentados pretendem contribuir para a construção de uma imagem do entendendimento de Supervisão pelos sujeitos que a praticam em contextos de formação, de trabalho e de investigação em Portugal, afirmando-se como entradas Ana Isabel Andrade, Isabel Alarcão, Jane do Carmo Machado, Rui Neves   Instrumento: Rev. Est. e Pesq. em Educação, Juiz de Fora, v. 22, n. 2, p. 211-215, mai./ago. 2020 215   possíveis num campo que exige mais trabalho e mais investigação, de modo mais demorado e aprofundado. Os resultados dos estudos que podemos ler neste número temático da Revista Instrumento mostram que a Supervisão constitui-se como um processo inquestionável em situações de formação inicial e como um processo desejável em situações de trabalho e de formação contínua, faltando para tal os meios e o enquadramento legal. De alguma forma, em diferentes contextos em que os estudos foram realizados, os autores reconhecem a importância da Supervisão, mesmo se ela sofre de falta de autonomia em relação a outros processos, tais como os processos de avaliação, de monitorização e de formação. Como organizadores deste número especial, esperamos contribuir para o aprofundamento das questões que permeiam a área da Supervisão não apenas para os estudiosos portugueses nesta área, mas para que o conhecimento que aqui deixamos possa alargar as reflexões em outros contextos e para outros sujeitos. Os organizadores: Ana Isabel Andrade Isabel Alarcão Jane do Carmo Machado Rui Neves     

A supervisão em contextos de formação : alguns estudos em Portugal

https://periodicos.ufjf.br/index.php/revistainstrumento/article/view/30873/20834

A supervisão em contextos de formação : alguns estudos em Portugal

Abstract

Similar works

Full text

Available Versions

Portal De Periódicos Científicos Da Universidade Federal De Juiz De Fora (UFJF)