Toda mulher tem sua hora da estrela: Clarice Lispector, Maria Bethânia e Macabéa

Abstract

Pesquisa sem auxílio de agências de fomentoTrabalho de Conclusão de Curso (Graduação)Ao fazer, como ela mesma afirma, “da língua portuguesa sua língua interior”, Clarice Lispector atravessa a vida e a obra de diversos outros artistas que, como ela o fez, carregam também junto a si a flor do Lácio enquanto instrumento poético. Um desses atravessamentos deu-se quando, no interior da Bahia, Maria Bethânia é apresentada por seu irmão, Caetano Veloso, à então escritora, cujos textos, após digeridos pela menina dos olhos de Oyá, passaram a ser interpretados potentemente por Bethânia em vários de seus shows. A boa conversa entre a música e a literatura pode ser observada no trabalho de alguns dos nomes mais representativos do nosso acervo literário e musical e, no caso específico desse estudo, encontra local fecundo nas performances rapsódicas de Bethânia, em que ela, enquanto intérprete e atriz, para além da cantora, constrói um enredo teatralizado no qual declama dramaturgicamente fragmentos de textos literários. Desse modo, pensando em específico no atravessamento da literatura e, possivelmente, da figura de Clarice em Bethânia pessoa, cantora e intérprete, esse trabalho se costura analisando, em movimento relacional com o último texto de Clarice Lispector publicado em vida, um espetáculo apresentado por Maria Bethânia, sob direção de Naum Alves de Souza, em 1984, ao comemorar os 64 anos que Clarice estaria fazendo. Tal espetáculo, intitulado A hora da estrela, homônimo da obra prestigiada de Clarice, publicada no ano de 1977, apresenta uma Bethânia que se transmuta em Macabéa, personagem central do livro em questão, ao interpretar trechos da narrativa ao passo em que canta canções escritas por nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque e Waly Salomão, que, por sua vez, estabelecem um diálogo com a obra de Clarice, voluntária ou involuntariamente, afinal “todo texto é um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto.” (KRISTEVA, 1974, p. 64). Assim, é interessante analisar como essa escrita poética declamada e interpretada por Bethânia se faz em cima da escrita poética de Clarice, gerando, como disse a escritora à intérprete na primeira vez em que assistiu a um show seu: “Faíscas. Faíscas no palco.” E as mesmas faíscas encontramos na preciosidade narrativa de Clarice, A hora da estrela

    Similar works