Trabalho final de mestrado integrado em Medicina (Medicina Interna/Oncologia Médica), apresentado à Faculdade de Medicina da Universidade de CoimbraIntrodução: Cerca de 30 – 60% dos doentes oncológicos a efectuar terapêutica citostática e mais de 66% dos que apresentam cancro avançado referem dor. A dor é severa e com um impacto significativo na qualidade de vida em cerca de 78% de todos os doentes oncológicos. Uma adequada classificação da dor é essencial para o estabelecimento da estratégia terapêutica. As guidelines da Organização Mundial de Saúde têm revelado eficácia no controlo da dor oncológica, sendo, por isso, recomendadas na prática clínica.
Objectivos: O presente estudo pretende avaliar as características clínicas da dor oncológica, bem como a eficácia de diversas estratégias terapêuticas instituídas, em doentes seguidos na Unidade da Dor do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra.
Metodologia: Análise clínica retrospectiva de 80 processos de doentes oncológicos, admitidos na Unidade da Dor no ano de 2009. A colheita dos dados clínicos incluiu parâmetros como a idade, sexo, localização anatómica do tumor primário, metastização, tipo de dor, intensidade da dor à data de admissão e após instituição da terapêutica, terapêutica analgésica e adjuvante.
Resultados: 65% dos doentes eram do sexo masculino e a idade mediana do grupo foi de 67 anos. Quanto à origem do cancro, o cancro colo-rectal e o do pulmão foram os mais frequentes e 76% dos doentes apresentavam doença metastizada na data da primeira consulta. A dor nociceptiva foi o tipo de dor mais frequentemente observado (53,8%). De uma forma global, a intensidade média da dor na primeira consulta foi 6. Os grupos de fármacos mais usados consoante o tipo de dor foram: na dor neuropática - analgésicos não-opióides (65%), opióides fortes (59%), anticonvulsivantes (82%) e anti-inflamatórios (77%); na dor nociceptiva – analgésico não-opióide (74%) e anti-inflamatórios (74%); na dor mista - analgésicos não-opióides (80%), opióides fortes (60%), anti-inflamatórios (90%) e anti-depressivos (45%). Observou-se dor controlada, na altura da reavaliação, em 47% dos doentes com dor neuropática, em 74,3% dos doentes com dor nociceptiva e em 60% dos doentes com dor mista.
Conclusão: O tipo de dor influencia a intensidade de dor oncológica, o tratamento médico usado e a sua eficácia. A dor neuropática, pelas suas especificidades etiológicas e clínicas bem como pela sua importância na dor oncológica, destaca-se como um desafio terapêutico. A utilização na prática clínica das guidelines da Organização Mundial de Saúde revela-se eficaz no controlo da maior parte dos casos de dor oncológica.Introduction: Approximately 30-60% of cancer patients that receiving cytotoxic therapy and more than 66% of those with advanced cancer report pain. The pain is severe and has a significant impact on quality of life by about 78% of all cancer patients. Proper classification of pain is essential for the establishment of a therapeutic strategy. The guidelines of the World Health Organization have shown efficacy in controlling cancer pain, and is therefore recommended in clinical practice.
Objectives: This study aims to evaluate the clinical characteristics of cancer pain and the effectiveness of different therapeutic strategies established in patients followed in the Pain Unit of the University Hospital of Coimbra.
Methods: Retrospective clinical analysis of 80 cases of cancer patients admitted to the Unit of Pain in 2009. The collection of clinical data included parameters such as age, sex, anatomical location of primary tumor, metastasis, type of pain, pain at the time of admission and after institution of therapy, and adjuvant analgesic therapy.
Results: 65% of patients were male and the median age group was 67 years. Regarding the origin of cancer, colorectal cancer and lung were the most frequent and 76% of patients had metastatic disease at first assessment. Nociceptive pain was the kind of pain most frequently observed (53.8%). Holistically, the average intensity of pain at first consultation was 6. The most commonly used drug groups according to type of pain were in neuropathic pain - non-opioid analgesics (65%), strong opioids (59%), anticonvulsants (82%) and anti-inflammatory drugs (77%) in nociceptive pain - non-opioid analgesic (74%) and anti-inflammatory drugs (74%), in mixed pain - non-opioid analgesics (80%), strong opioids (60%), anti-inflammatory drugs (90%) and anti-depressants (45%). There is pain controlled at the time of reassessment in 47% of patients with neuropathic pain, in 74.3% of patients with nociceptive pain and 60% of patients with mixed pain.
Conclusions: The type of pain influences the intensity of cancer pain, medical treatment used and its effectiveness. Neuropathic pain, its etiological and clinical characteristics as well as its importance in cancer pain, stands out as a therapeutic challenge. The use in clinical practice guidelines of the World Health Organization appears to be effective in controlling the majority of cases of cancer pain