A imagem das fezes na obra de Rubem Fonseca: uma mácula abjeta no espelho realista

Abstract

Segundo Roland Barthes, toda literatura é, em certa medida, realista, pois tenta reproduzir algum aspecto da realidade no universo que cria, valendo-se dos mais diversos expedientes verbais. No entanto, essa tradução intersemiótica, que converte signos de carne e osso (ou qualquer outro soma que o valha) em signos de papel e nanquim, ou voz e ritmo, é sempre um desvario fadado ao fracasso, pois “não se pode fazer coincidir uma ordem pluridimensional (o real) e uma ordem unidimensional (a linguagem)”.Assim, Rubem Fonseca, autor de uma prosa chamada de realista feroz por Antonio Candido, dada a temática da violência e da miséria em seus textos, é, segundo a análise que se propõe neste trabalho, um escritor que abala a paradoxal quimera realista de uma representação fidedigna do real. Para sustentar tal leitura de sua obra, investiga-se aqui a imagem das fezes, recorrente nos escritos do autor, como significante abjeto que macula o espelho mimético e borra o triângulo semiótico (tão equilátero quanto realista) de referente, significante e significado.Palavras-chave: realismo, hiperrealismo, mácula, abjeção, feze

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