Um dos equívocos fundamentais da posição que argumenta pela compatibilidade entre livre-arbítrio e determinismo na resolução do problema do compatibilismo na modernidade é tomar causalidade por determinação. Essa confusão tem origem em Hume e na sua proposta de compatibilizar liberdade com necessidade na discussão desta querela. Entretanto, em An Essay on Free Will (1983), Peter van Inwagen, amparado na argumentação de Elizabeth Anscombe, demonstra que essa associação é equivocada à medida que determinismo e causalidade significam estados de coisas distintos, e o primeiro inviabiliza a existência do livre-arbítrio, enquanto o segundo, não. Diante desse quadro, este artigo tem dois objetivos: a) apresentar as distinções entre causalidade e determinação feitas por van Inwagen e Anscombe, a fim de auxiliar no entendimento da obra An Essay on Free Will (1983), uma vez que van Inwagen menciona a argumentação da filósofa britânica como fundamental para esclarecer essa confusão, sem apresentá-la diretamente nesse livro e, consequentemente, b) explicitar que esses dois estados de coisa não são o mesmo. Assim, o artigo será dividido em três partes centrais: na primeira delas apresentarei um breve panorama histórico de como Hume, considerado um dos mais influentes compatibilistas, estabeleceu uma conexão necessária entre causalidade e necessidade, dando origem à interpretação de que causalidade implica necessidade (determinação) – o que foi seguido na tradição compatibilista; na segunda parte vou expor os argumentos de Anscombe contrários a essa conexão; e, por fim, explicitarei o tratamento de van Inwagen acerca da tese determinista para esclarecer porque a determinação implica na não existência do livre-arbítrio, enquanto a causalidade, não