O artigo trata do livro O primeiro ano: como se faz um advogado publicado no Brasil em 1994. Nele, Scott Turow narra as angústias, dificuldades e triunfos vividos quando estudante do primeiro ano da graduação na Faculdade de Direito de Harvard, uma das mais bem conceituadas dos Estados Unidos. Durante seu período na instituição, Turow manteve a escrita de um diário onde relatava trechos e reflexões a respeito de suas experiências como aluno. O depoimento dramático do autor evidencia os esforços empreendidos para fazer-se advogado, o que pressupõe “aprender a pensar” e a se comportar como um. Nesse processo, os estudantes são apresentados aos conteúdos necessários à formação na área, ministrados por professores que mesmo tendo perfis docentes distintos conduziam as aulas a partir do chamado “método socrático”, em que os alunos são individualmente interrogados sobre suas impressões acerca dos conteúdos. Contudo, durante o percurso acadêmico os jovens também confrontam-se com uma diversidade de saberes não-ditos advindos da tradição institucional de um “sistema de estudos que pouco mudou no último século”, ofertador implícito de modos de ser, de saber fazer e de saber dizer transmitidos e incorporados de forma não sistematizada pelos estudantes, que sentiam um profundo pesar por identificarem estar “se tornando pessoas estranhamente diferentes daquelas que chegaram à faculdade”. A partir da noção de inconsciente da escola cunhada por Pierre Bourdieu, este artigo propõe-se a analisar as práticas docentes e as experiências discentes relatadas por Scott Turow, buscando compreender os modos como as estruturas institucionais transmutam-se em estruturas cognitivas.Palavras-chave: Memórias autobiográficas. Relação pedagógica no ensino superior. Práticas docentes. Inconsciente da escola. ON HOW UNIVERSITY TEACHES MORE THAN IT CLAIMS TO TEACH: the book One L: The Turbulent True Story of a First Year at Harvard Law School, by Scott TurowAbstractThe article is about the book One L: The Turbulent True Story of a First Year at Harvard Law School published in Brazil in 1994. In it, Scott Turow narrates the anguish, difficulties and triumphs he experienced as a first-year undergraduate student at Harvard Law School, one of the most highly regarded in the United States. During his time at the institution, Turow kept writing a diary where he reported excerpts and reflections on his experiences as a student. The dramatic testimony of the author highlights the efforts undertaken to become a lawyer, which presupposes “learning how to think” and to behave like one. In this process, students are introduced to the content which is necessary for their formation in the area, taught by professors who, despite having different teaching profiles, conducted classes using the so-called "Socratic method", in which students are individually questioned about their impressions on the content. However, during their academic career, young people are also confronted with a diversity of unspoken knowledge arising from the institutional tradition of a “system of studies that has changed little in the last century”, an implicit provider of ways of being, of knowing how to do and of knowing how to say transmitted and incorporated in a non-systematized way by the students, who felt a deep regret for identifying that they were “becoming strangely different people from those who arrived at college”. Based on the notion of the unconsciousness of the school coined by Pierre Bourdieu, this article aims to analyze teaching practices and student experiences reported by Scott Turow, seeking to understand the ways in which institutional structures are transmuted into cognitive structures. Keywords: Autobiographic memories. Pedagogical relations in Higher Education. Teaching practices. Unconsciousness of the school. DE COMO LA UNIVERSIDAD ENSEÑA MAS DE LO QUE AFIRMA ENSEÑAR: el libro One L: The Turbulent True Story of a First Year in Harvard Law School, de Scott TurowResumenEl artículo aborda el libro One L: The Turbulent True Story of a First Year in Harvard Law School publicado en Brasil, en 1994, con el título O primeiro ano: como se faz um advogado. En la obra, Scott Turow narra las angustias, dificultades y triunfos vividos cuando era estudiante del primer año de grado en la Facultad de Derecho de Harvard, una de las más reconocidas de Estados Unidos. Durante su período en la institución, Turow mantuvo la práctica de escribir un diario, donde relataba fragmentos y reflexiones sobre sus experiencias como alumno. El testimonio dramático del autor evidencia los esfuerzos emprendidos para hacerse abogado, lo que presupone "aprender a pensar" y a comportarse como uno. En ese proceso, se presentan a los alumnos los contenidos necesarios a la formación en el área, impartidos por profesores que, aunque tengan perfiles docentes distintos, conducen las clases a partir del llamado "método socrático" en que se interroga individualmente a los alumnos sobre sus impresiones acerca de los contenidos. Sin embargo, durante la trayectoria académica, los jóvenes también se enfrentan a una diversidad de saberes no dichos, provenientes de la tradición institucional de un "sistema de estudios que poco cambió en el último siglo", que ofrece implícitamente modos de ser, de saber hacer y de saber decir, transmitidos e incorporados de una manera no sistematizada por los estudiantes, que sienten una profunda angustia por identificar que están "volviéndose personas extrañamente diferentes de aquellas que llegaron a la facultad". A partir de la noción de inconsciente de la escuela de Pierre Bourdieu, este artículo se propone a analizar las prácticas docentes y las experiencias discentes relatadas por Scott Turow, buscando comprender los modos como las estructuras institucionales se transmutan en estructuras cognitivas.Palabras clave: Memorias autobiográficas. Relación pedagógica en la enseñanza superior. Prácticas docentes. Inconsciente de la escuela