Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - PPGAV-UFRGS
Abstract
Por que a cultura modernista foi tão incapaz de integrar imaginativamente a criatividade das mulheres em suas narrativas de radicalismo, inovação, dissidência e transgressão, quando o gênero deveria ser reconhecido como um dos pontos nevrálgicos da própria modernidade? Se a história canônica da arte introduziu gênero no modernismo apenas no negativo, apagando suas representantes mais ativas – as mulheres vanguardistas - como pode uma arqueologia retrospectiva da vanguarda, não como uma única vanguarda, mas como uma constelação de momentos contingentes históricos e auto posicionamentos radicais, vis-à-vis com a triangulação da família, do estado e da religião - típico da modernidade burguesa ocidental -, abrirem novas linhas de análise, revelar o lugar oscilante do "feminino/le féminin" em todas as vanguardas? Baseando-se na sociologia contemporânea da modernidade líquida de Zygmunt Bauman e nos pensamentos sempre férteis de Julia Kristeva sobre as temporalidades da diferença sexual, este artigo argumenta, em primeiro lugar, que em tempos líquidos o terreno relativamente sólido contra o qual operava a transgressão de vanguarda não é mais operativo, deslocando o modelo clássico da vanguarda, enquanto, em segundo lugar, a perspectiva feminista sobre a longa duração da ordem simbólica falocêntrica coloca uma intervenção “no, do e sobre o feminino” continuamente em uma posição estratégica de dissidência histórica e transformadora. Meu argumento tece materialismo histórico, psicanálise e teorias feministas de estética e diferença sexual, contestando as rápidas mudanças na moda intelectual típica da modernidade líquida que estão se infiltrando na academia e levando ao abandono prematuro de certos projetos político-intelectuais. Apesar de todos os perigos e complexidades de pensar sobre "o feminino" em qualquer forma, e certamente agora, quando as altas teorias feministas da diferença sexual são aparentemente tão démodé, mostro como este conceito problemático e preocupante ainda é historicamente significativo e teoricamente relevante para repensar a vanguarda