Braido, Angela Maria

Plank, Priscila Yara

Reffatti, Carla

Schneider, Deborah Sandra Leal Guimarães

Silva, Helaine Maruska Vieira

Portuguese

Em Questao

Identificação do cronotipo e nível de atenção de estudantes do ensino médio

Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 6, supl. 1, p. 42-44, set. 2008  Introdução O complexo processo de aprendizagem é resultado da percepção, memória, controle e transformação da informação. Interferências no processo de aprendizagem podem ocorrer quando o aluno tem dispersão de atenção, por redução de sua capacidade perceptiva [1]. A diminuição do nível de atenção normalmente ocorre em indivíduos cansados física e /ou mentalmente que apresentam privação do sono ou ciclo sono-vigília alterado.  O cronotipo, classificado em matutino, vespertino e intermediário (indiferente), reflete o horário do dia em que o indivíduo preferencialmente encontra-se disposto à realizar diversas tarefas do cotidiano. [2]. O cronotipo é determinado por um relógio biológico interno, que por sua vez é regulado pela intensidade luminosa do meio externo. O conhecimento desse ritmo interno, além de melhorar a qualidade de vida do indivíduo, é fundamental para adequar o horário de estudo do aluno ao seu cronotipo, proporcionando também melhora no nível de atenção e no rendimento escolar. O objetivo do presente trabalho consistiu na identificação do cronotipo e avaliação do nível de atenção de alunos do ensino médio dos turnos de estudo diurno e noturno.   Material e métodos Foram selecionados aleatoriamente 116 alunos do ensino médio, matriculados no período diurno e noturno no Colégio Estadual Costa e Silva, da cidade de Cascavel-PR. A entrevista foi realizada coletivamente em horário escolar mediante apresentação do termo de consentimento assinado pelo entrevistado ou responsável legal, quando se tratava de menor de idade.  Para a determinação do perfil cronobiológico, foi aplicado um questionário específico de identificação de cronotipos contendo nove questões com respostas de múltipla escolha, proposto por Horne & Östberg em 1976. [2, 3]. O questionário é composto por perguntas que envolvem as principais atividades desenvolvidas pelo indivíduo ao longo do dia, e a resposta reflete o horário de preferência do entrevistado para executar as atividades do cotidiano. Os dados obtidos foram avaliados de acordo com a tabela e o escore propostos pelos autores acima citados. [2, 3].   Através do teste de atenção concentrada (AC), classificou-se o nível de atenção individual dos alunos em inferior, médio inferior, médio, médio superior, superior ou muito superior. O teste AC é destinado a avaliar a rapidez de reação e exatidão na execução de uma tarefa simples, de natureza perceptiva, a identificação de três tipos diferentes de um determinado símbolo (ponta de flecha). Pontua-se o número de acertos, erros e omissões.[4]. Os resultados obtidos foram analisados através do teste de associação de contigencial – BioEstat 4.0.  Resultados Foram entrevistados 116 alunos do ensino médio, matriculados no período diurno (n=81) e noturno (n=35). A amostra da população estudada apresentava idade média de 16 anos e distribuição similar de indivíduos do sexo feminino e masculino.  O perfil cronobiológico dos alunos do ensino médio pode ser observado na tabela 1. Independente do turno de estudo (diurno ou noturno), a maioria dos entrevistados (50%) foi identificada como tendo cronotipo intermediário, pois possuem ampla flexibilidade de horário para executar as atividades do dia-a-dia. 17-18% dos estudantes foram considerados matutinos típicos (definitivamente ou moderadamente), ou seja, aqueles que apresentam melhor desempenho de suas atividades cotidianas pela manhã, enquanto 30-37% dos estudantes foram classificados como vespertinos típicos (definitivamente ou moderadamente) por apresentarem melhor disposição para realizar os afazeres no período da tarde ou à noite. A avaliação do nível de atenção (Fig.1) demonstrou que aproximadamente 70% dos estudantes do diurno e noturno possuíam nível de atenção adequado para o período de estudo. Apesar de apresentarem similaridade no percentual do número de estudantes com baixo nível de atenção nos períodos matutino e noturno, é maior a incidência de alunos com nível de atenção classificada como inferior no noturno (21%) quando comparados com os estudantes do período diurno (11%).  Discussão As variações individuais nos diversos ritmos biológicos permitem classificar os indivíduos segundo suas características cronobiológicas (cronotipo), em matutinos, vespertinos e intermediários [2]. Mesmo perfil cronotípico da população observado no presente estudo foi evidenciado em outros trabalhos [5, 6] realizados com acadêmicos dos Cursos de Ciências Biológicas e Pedagogia, onde os intermediários totalizavam a maior parcela da população, seguida da classe dos vespertinos e minoritariamente, os matutinos. No entanto, naqueles Identificação do cronotipo e nível de atenção de estudantes do ensino médio Priscila Yara Plank1, Angela Maria Braido2, Carla Reffatti2, Deborah Sandra Leal Guimarães Schneider3 e Helaine Maruska Vieira Silva4 _________________________ 1.Acadêmico de Ciências Biológicas. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.  2. Psicólogo. Clínica de Psicologia Psicoclínica. Rua Fortaleza, 1851, Centro, Cascavel, PR, CEP 85810-051.  3. Professor Assistente. Universidade Estadual do Oeste do Paraná.  4. Professor Adjunto. Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Rua Universitária, 2069, Cascavel, PR, CEP 85819-110. * Autor para contato. E-mail: hmvsilva@unioeste.br  Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 6, supl. 1, p. 42-44, set. 2008 43 estudos em que a população apresentava maior faixa etária, constatou-se um perfil cronobiológico diferente, a maioria dos indivíduos apresentaram cronotipo matutino, e apenas 10% da população foi classificada como vespertina [7]. A discrepância de resultados poderia, pelo menos em parte, ser atribuída pela diferença de idade das populações.  O aumento da incidência de hábitos matutinos com aumento da idade na população em geral estaria relacionado com a mudança do ritmo biológico em decorrência de alterações no sistema visual (cataratas, degeneração macular e outros) e /ou na sensibilidade do relógio biológico ao ciclo claro/escuro com o avançar da idade [8]. Também, deve-se considerar o fato de que os alunos do ensino médio em sua maioria são adolescentes, fase do desenvolvimento na qual o indivíduo sofre profundas alterações hormonais que podem afetar seu ritmo biológico, dentre essas, principalmente a relação inversa de secreção de melatonina e gonadotrofinas que ocorre durante a puberdade. Não obstante, os adolescentes apresentam hábitos mais noturnos e dificuldades em acordar ou realizar tarefas (estudo) pela manhã, enquanto que pessoas com idade mais avançada têm redução na duração do sono e hábitos mais matutinos [8,9].  De acordo com os resultados apresentados, em ambos os turnos de estudo, a maioria dos alunos (70%) possui nível satisfatório de atenção concentrada. Dentre os estudantes que apresentaram dificuldade de atenção, observou-se prevalência de nível mínimo (inferior) naqueles que freqüentavam aulas no período noturno (21%). Considerando que a maioria dos alunos do período noturno possuía vínculo empregatício (80%), provavelmente o resultado do teste AC foi influenciado pelo cansaço dos indivíduos em decorrência do turno de trabalho desenvolvido anteriormente ao horário escolar. No entanto, para os estudantes do diurno possivelmente a redução de atenção do cansaço seja ocasionada pelo desajuste do cronotipo com turno de estudo.  A percepção, a atenção e a memória estão relacionadas ao desenvolvimento e aprendizado, portanto, os indivíduos que freqüentam a escola em períodos não condizente com seu cronotipo podem estar sendo prejudicados no rendimento escolar. O conhecimento dos cronotipos pode ajudar a compreender e orientar os indivíduos na adequação do horário para o desenvolvimento de atividades sociais, tais como o estudo, trabalho e lazer, oportunizando assim, a obtenção de melhor aproveitamento, desempenho e produtividade de atividades do cotidiano, promovendo melhora na qualidade de vida.   Agradecimentos Agradecemos aos funcionários e professores da Escola Estadual Presidente Costa e Silva pela colaboração na execução do estudo.   Referências  [1] GALLAGHER, J.D.; FRENCH, K.E.; THOMAS, K.; THOMAS, J.R. 1993. Expertise in youth sport: the relationship between knowledge and skill. In: SMOLL, F.L.; SMITH, R.E. (Eds.) Children and youth sport: a biopsychosocial perspective. Indianopolis: Brown & Benchmark. [2] HORNE, J.A. & OSTBERG, O. 1976. A self-assessment questionnaire to determine morningness – eveningness in human circadian rhythms. International Journal of Chronobiology 4: 97-110. [3] CARDINALI, D.P., GOLOMBER, D.A., REY, R.A.B. (1992) Relogies y calendarios biologicos: la sincronia del hombre com el medio ambiente. Buenos Aires: Fondo de Cultura Economica de Argentina, p. 59-78. [4] CAMBRAIA V.S. 2003. Teste AC–Atenção Concentrada. São Paulo, Vetor Editora Psico-Pedagógica.  [5] BURIN, I. & STABILLE, S.R. 2002. Identificação dos cronotipos de acadêmicos do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá durante o ano letivo de 2000. Arquivos de Ciências e da Saúde da Unipar 6(1): 17-24. [6] SCHIO, M.; MIRANDA-NETO, M.H. 1998. Levantamento dos cronotipos de acadêmicos do curso de pedagogia da faculdade de ciências humanas de Francisco Beltrão – PR, 1996.  Arquivos da Apadec 2(2):96-101.  [7] STABILLE, S.R.; GONGORA E. M.; MIRANDA–NETO, M.H. 2001. Cronotipos e horários adequados para o trabalho de servidores técnico-administrativos do centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Maringá, no ano 2000. Arquivos de Ciências e da Saúde da Unipar 5(3): 227-233 [8] PAINE, S.J.; GANDER, P.H.; TRAVIER N. 2006. The epidemiology of morningness/eveningness: influence of age, gender, ethnicity, and socioeconomic factors in adults (30-49 years). Journal of Biological Rhythms 21(1):68-76.  [9] GIANOTTI, F.; CORTESI, F.; SEBASTIANI, T.; OTTAVIANO, S. 2002. Circadian preference, sleep and daytime behaviour in adolescence. Journal of Sleep Research 11:191-199.   Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 6, supl. 1, p. 42-44, set. 2008 44Tabela 1. Classificação  do cronotipo de 116 alunos do Ensino Médio de Cascavel.                 Período Matutino                  Período Noturno                    Tipos cronobiólogicos   Moderadamente  Vespertino 1 % 9% Moderadamente Vespertino  16% 9% Intermediário 54% 45% Moderadamente  Matutino 20% 34% Definidamente  Matutino 9% 3%    21%6% 55% 12% 6% 0% InferiorMédio InferiorMédioMédio SuperiorSuperiorMuito Superior A                          B   Figura 1. Distribuição percentual do nível de atenção dos alunos do ensino médio matriculados no período diurno (A, esquerda) e período noturno (B, direita).  11% 22% 48%13% 5% 1%InferiorMédio InferiorMédioMédio SuperiorSuperiorMuito Superior

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