INTRODUÇÃO: O corte manual da cana-de-açúcar é uma atividade que impõe ao cortador uma elevada carga física, pois requer a execução de movimentos vigorosos, rápidos e repetitivos. Trabalham em condições de elevadas temperaturas ambientais e baixa umidade relativa do ar que, com o uso de vestimentas aumenta risco de sobrecarga térmica, bem como se expõem aos poluentes gerados pela queima da cana-de-açúcar. OBJETIVO: avaliar os efeitos agudos e em longo prazo do trabalho na colheita de cana-de-açúcar queimada nas concentrações da proteína CC16, na função renal e em marcadores inflamatórios sistêmicos, em um grupo de cortadores de cana-de-açúcar. MÉTODOS: Foram avaliados 78 homens, cortadores de cana-de-açúcar empregados em uma usina de açúcar e álcool localizada na Região Oeste do Estado de São Paulo. Eles foram submetidos a avaliações clínicas e à coleta de amostras de sangue e de urina, utilizadas para análises de marcador de toxicidade pulmonar (proteína CC16), de marcadores renais e inflamatórios sistêmicos, em três momentos distintos ao longo do ano: 1) Pré-Safra, (Abril de 2014), no início da jornada de trabalho (7h00min); 2) Três meses após o início da safra, antes e após uma jornada diária de trabalho (7h00min e 16h00min); 3) Após seis meses do início da safra, antes do início da jornada de trabalho (7h00min). Foram realizados registros da concentração de material particulado (MP2,5), temperatura e umidade relativa do ar. RESULTADOS: A concentração de MP2,5 foi de 27,0 (23,0-33,0) ug/m3 e 101,0 (31,0-139,5) ?g/m3 no período da pré-safra e na safra respectivamente. A mediana da temperatura e umidade relativa do ar no período da pré-safra foram de 32,6 (25,4-37,4)°C e 45,4 (35,0-59,7)% respectivamente; no período da Safra foram de 29,7 (24,1-34,0)°C e 54,9 (34,7-63,2)% respectivamente. A idade dos trabalhadores foi de 37,9±11,0 anos, eles cortam, em média, nove toneladas de cana-de-açúcar/dia. Foram observadas reduções agudas e ao longo da safra nas concentrações plasmáticas e urinárias da proteína CC16. Após uma jornada diária de trabalho observou-se evidências de desidratação, queda da filtração glomerular, aumento de biomarcadores de injúria e reparação tubular renal (NGAL, KIM-1, IL-18, calbindina, MCP-1, osteopontina, e TFF-3) e aumento de marcadores inflamatórios sistêmicos (leucócitos, ácido úrico, LDH). Ao longo da safra observou-se aumento significante de cistatina C, ureia, CPK, NGAL e monócitos no sangue e de marcadores urinários como NGAL, MCP-1, TFF-3, fósforo, magnésio e densidade. CONCLUSÃO: O trabalho no corte manual de cana-de-açúcar submete os trabalhadores à sobrecarga física, exposição a poluentes e à elevadas temperaturas. Foi observado efeito agudo e ao longo da safra nas concentrações da proteína CC16, na alteração de biomarcadores inflamatórios sistêmicos, de equilíbrio hidroeletrolítico e na função renal, incluindo alterações de marcadores que sugerem lesão estrutural renalINTRODUCTION: The manual sugarcane harvesting is an activity that requires considerable physical exertion, involves vigorous, quick, repetitive cutting movements. They work under conditions of high temperatures and low relative air humidity that, with the use of clothing, increases the risk of thermal overload, as well as expose themselves to the pollutants from burning of sugarcane. AIM: To evaluate the short and long-term effects of harvesting burnt sugarcane on the CC16 protein concentrations, renal function, and systemic inflammatory markers in a group of sugarcane cutters. METHODS: A total of 78 sugarcane cutters employed in a sugar-alcohol mill in the state of São Paulo, Brazil were evaluated. They underwent clinical evaluations and the collection of both blood and urine samples, used for analysis of pulmonary toxicity (CC16 protein), renal markers and systemic inflammatory markers performed at three different times throughout the year: 1) In the pre-harvest period (April 2014), at the onset of the working shift (7h00 am); 2) Three months after the onset of the harvest, before and after the daily work shift (7h00 a.m. and 4h00 p.m.); 3) Six months after the onset of the harvest, before the work shift (7h00 am). The concentrations of particulate matter (MP2.5), temperature and relative air humidity were recorded. RESULTS: The concentrations of PM2.5 were 27.0 (23.0-33.0) and 101.0 (31.0-139.5) ?g/m3 in the pre-harvest and harvest periods, respectively. The medians temperature and relative air humidity in the pre-harvest period were 32.6 (25.4-37.4) °C and 45.4 (35.0-59.7) % respectively; in the harvest period were 29.7 (24.1-34.0) °C and 54.9 (34.7-63.2) % respectively. The age of the workers was 37.9 ± 11.0 years, they cut, on average, nine tons of sugarcane/day. Short and long-term reductions in plasmatic and urinary concentrations of CC16 protein were observed. There was an acute increase in the concentrations of markers suggestive of dehydration, decreased glomerular filtration, increased biomarkers of injury and renal tubular repair (NGAL, KIM-1, IL-18, calbindin, MCP-1, osteopontin, and TFF-3 ) and increased systemic inflammatory markers (leukocytes, uric acid, DHL). Six months after the onset of the harvest, a significant increase of cystatin C, urea, CPK, NGAL and monocytes in the blood and urinary markers such as NGAL, MCP-1, TFF-3, phosphorus, magnesium and density were observed. CONCLUSION: The manual sugarcane harvesting exposes workers to physical overload, pollutants and high temperatures. It was observed an acute and chronic effects in the concentrations of CC16 protein, in systemic inflammatory biomarkers, hydroelectrolytic balance and renal function, including changes in markers that suggest renal structural damag