Este artigo analisa algumas imprecisões narrativas em um conjunto de relatos autobiográficos de refugiados norte-coreanos divulgados em fontes midiáticas e livros, tomando por base os recursos da história oral e o entendimento de aspectos da memória coletiva e da identidade. O caminho do texto mostrará que, para além das inexatidões, as narrativas revelam uma tentativa de afirmação da identidade no exílio. A história de Yeonmi Park será o ponto de partida para a discussão, analisada ao lado de outros casos. Algumas questões clássicas da história oral permeiam a argumentação: seriam as falhas na memória indicativas de que um narrador está mentindo? Como os pesquisadores de história oral lidam com as inconsistências nas entrevistas com as quais trabalham? Quais os recursos da história oral para enfrentar as eventuais imprecisões dos depoimentos e quais os seus significados? A metodologia utilizada foi a história oral com uso de fontes secundárias. Os relatos foram analisados a partir da técnica de fichamento temático. As narrativas aqui apresentadas parecem ter um papel relevante na construção da identidade do deslocamento de norte-coreanos e constituem um recurso de história pública “feita pelo público”