A FICÇÃO DO CARIBE: Tituba e a invenção do mundo colonial

Abstract

Este artigo pretende investigar as relações entre memória, ficção e história no romance Eu, Tituba Bruxa Negra de Salém, de Maryse Condé (2020). Em nossa perspectiva, consideramos a literatura como possibilidade de narrar a vida de sujeitos que foram silenciados pelos registros oficiais (RAMOS; MELO, 2013). Assim, face ao silêncio que recai sobre os sujeitos escravizados, nossa hipótese é a de que a literatura de Maryse Condé mobiliza elementos ficcionais para preencher algumas lacunas da história, em busca da memória desses sujeitos silenciados no processo de colonização. Para tanto, toma alguns registros oficiais como ponto de partida e, ao fazê-lo, desloca certezas e questiona as narrativas oficiais sobre o passado, já cristalizadas, elaboradas a partir da visão dos colonizadores. Maryse Condé debruça-se sobre os vazios da memória para, por meio do exercício da ficção, preenchê-los de narrativa e existência, o que nos parece uma hipótese razoável para a obra selecionada. Assim, nossos objetivos são: 1) analisar a produção ficcional que questiona a história oficial; 2) investigar a representação de Tituba; e 3) discutir a relação entre memória, ficção e história em Condé (2020). Nosso trabalho se inscreve no campo dos Estudos Pós-Coloniais e Decoloniais, a partir de Quijano (2009), Maldonado-Torres (2009), Said (1995; 2007), Roeber (2004) e Ramos e Melo (2013). Os resultados apontam para uma releitura dos processos coloniais como possiblidade de questionar as narrativas hegemônicas a partir da literatura.Palavras-Chave: Literatura. Tituba. Memória.Abstract:This essay aims to analyze the relations among fiction, history and memory based on the novel I, Tituba Black Witch of Salem, by Maryse Condé. Here, literature is understood as a way of creating new reading about the colonial past in order to contest the official narrative. This way, considering the silence upon enslaved subjects’ history, my hypothesis takes into account Maryse Conde’s literature as a possible fictional element producer in order to rescue African-Descendants memory. For achieving this, Condé uses official registered information as an initial writing marker. Through this strategic work she makes questions and brings other interpretation about the past related by colonizers’ point of view. Maryse Condé’s perspective puts the focus of her masterpiece on an enslaved black woman to narrate her history since her own voice. This way, my goals are: 1) analyzing Condé’s fiction writing uses to fill the gap about the history of enslaved African descendants’ people; 2) investigating the relation among fiction, memory and history; and 3) discussing Tituba’s representation in the novel. It is a bibliographic work based on the Post-Colonial and Decolonial studies since Quijano (2009); Maldonado-Torres (2009); Said (1995; 2007); Roeber (2004); Ramos & Melo (2013). This way, the results suggest an emergent re-reading perspective about the colonial process able to question some crystallized truths upon the slavery period since the fiction in order to consider black people’s perspective as a central one for understanding that period.Keywords: Literature. Tituba. Memory

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