Santos, Natasha Rabelo dos

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Repositório do INPA

I Congresso de Iniciação Científica PIBIC/CNPq - PAIC/FAPEAM Manaus - 2012EFEITO DO GRAU DE COBERTURA RIPÁRIA SOBRE O FATOR DE CONDIÇÃO DEPOPULAÇÕES DE PEIXES EM RIACHOS AMAZÔNICOSNatasha Rabelo Dos SANTOS1; Jansen ZUANON2 ; Rafael Pereira LEITÃO31Bolsista PIBIC/CNPq/INPA; 2Orientador CBIO/INPA; 3 Coorientador PPG-BADPI/INPA1.IntroduçãoA região amazônica é formada por uma grande diversidade de corpos d’água, não somente de grandes rios e lagos,mas também de pequenos riachos, localmente denominados igarapés (Walker, 1995). Os igarapés geralmenteapresentam águas cristalinas e pobres em nutrientes (oligotróficas). A fauna deste ecossistema é fortementedependente do material alóctone vindo da floresta como, por exemplo, frutos, sementes, folhas e pequenosinvertebrados terrestres (Goulding, 1980). Além de fornecer alimentação para a fauna, a mata ripária é responsávelpor uma série de outros fatores, como, por exemplo: I – atenuação da radiação solar e da temperatura da água; II –disponibilização de detritos lenhosos, utilizados como abrigo e sítio de reprodução para uma série de organismos;III – fonte de folhas, formando bancos de folhiço, que são colonizados por invertebrados e peixes; e IV – controle daerosão das margens, evitando, o processo de assoreamento (Allan, 1995; Bojsen & Barriga, 2002). Por essadependência da floresta e pelo pequeno porte, os igarapés são altamente propícios à degradação ambiental, sendoum dos ecossistemas mais ameaçados da região amazônica. Mendonça et al. (2005) ressaltaram que a fauna deigarapés é, geralmente, a primeira a ser impactada por qualquer forma de uso da terra. A fauna de peixes deigarapés pode refletir os efeitos de distúrbios ambientais de diversas formas e níveis de organização biológica.Possivelmente, um dos níveis mais claramente afetados é o populacional. A análise da estrutura de tamanho e depeso de populações pode ser uma eficiente maneira de investigar os efeitos antrópicos sobre a ictiofauna. Acombinação dessas variáveis, através do chamado fator de condição (Le Cren, 1951), pode refinar ainda mais estaanálise. Assume-se que se dois indivíduos com o mesmo comprimento apresentarem diferentes pesos, o maispesado está em melhor condição fisiológica (Froese, 2006). O fator de condição, portanto, é considerado umindicador do grau de higidez ou do bem-estar do organismo, refletindo condições alimentares recentes (Vazzoler,1996). Assim, trata-se de um método eficiente na comparação de populações que ocorrem sobre diferentescondições ambientais e de disponibilidade de recursos. Caramaschi (1999) ressalta a necessidade de estudoscapazes de prover respostas básicas a questões de conservação e manejo para peixes de riacho. Possivelmente, aavaliação de parâmetros como o fator de condição médio de diferentes populações seria adequada para evidenciarrespostas da ictiofauna a distúrbios ambientais como o desmatamento. Portanto, o objetivo do presente estudo foiavaliar o efeito do grau de cobertura ripária sobre o fator de condição de populações de quatro espécies de peixes(duas insetívoras alóctones e duas piscívoras) em igarapés da região de Santarém-Belterra (PA). A hipótese doestudo é que, para espécies insetívoras, quanto menor for o grau de cobertura ripária menor será o fator decondição. Por outro lado, para as espécies piscívoras, espera-se que não haja diferenças no fator de condição deacordo com o grau de cobertura ripária.2.Material e MétodosA etapa de obtenção de dados em campo foi previamente realizada, em julho e agosto de 2010, quando foramamostradas populações de peixes de 48 igarapés de pequeno porte (1a e 2a ordens) na região deSantarém-Belterra (Pará). A área amostrada é drenada pelas bacias dos rios Curuá-Una e Tapajós, afluentes do rioAmazonas. O forte desenvolvimento da agricultura (sobretudo o plantio de soja) e pecuária na região resultou emuma paisagem degradada em diversos níveis. Os poucos remanescentes de mata íntegra na região sãoencontrados principalmente na FLONA Tapajós. Foram amostrados igarapés que corriam em áreas total ouparcialmente desmatadas até áreas de floresta íntegra.  Para avaliar a porcentagem de cobertura de dossel foramtomadas 60 medidas, utilizando esfero-densiômetro, ao longo de cada igarapé. A partir do cálculo da média destas60 medidas, foi obtido um valor de cobertura de dossel por igarapé. A captura de peixes foi realizada em trechos de150m em cada igarapé, utilizando puçás, peneiras e redes de arrasto (protocolo adaptado de Mendonça et al.,2005). Os peixes foram anestesiados em solução de eugenol e preservados em formol 10%. No laboratório deSistemática e Ecologia de Peixes do INPA, os peixes foram transferidos para frascos com álcool 70%. Para opresente estudo foram utilizadas quatro espécies, sendo estas pertencentes a dois grupos alimentares: as piabasMoenkhausia aff. collettii “alta” e Bryconops giacopinii, ambas insetívoras alóctones; a traíra Hoplias malabaricus eo jacundá Crenicichla aff. menezesi, ambas piscívoras. Os exemplares foram mensurados quanto ao comprimentopadrão, com o uso de paquímetro digital, e pesado em balança de precisão. Foi calculado o fator de condição paracada exemplar através da seguinte fórmula: FC=PE/CPb Onde: FC é o fator de condição alométrico, PE é o pesodo corpo, CP é o comprimento padrão, e b é o coeficiente angular da reta dada pela relação entre o peso e ocomprimento de cada espécie. Para o cálculo de b, os dados de peso e comprimento foram previamentelogaritmizados (base 10). Em seguida, foi calculada a média do fator de condição de cada espécie para cadaI Congresso de Iniciação Científica PIBIC/CNPq - PAIC/FAPEAM Manaus - 2012igarapé. Para determinar a possível influência do grau de cobertura ripária sobre o fator de condição daspopulações de peixes foram realizadas regressões lineares simples entre a proporção de cobertura de dossel decada igarapé e os valores médios de fator de condição para cada população.3.Resultados e DiscussãoNo total, foram mensurados e pesados 1.164 peixes, sendo 783 exemplares da piaba Moenkhausia aff. collettii“alta”, 267 da piaba Bryconops giacopinii, 23 da traíra Hoplias malabaricus, e 91 do jacundá Crenicichla aff.menezesi. Os valores médios, mínimos e máximos de comprimento padrão e peso para cada espécie podem serobservados na Tabela 1. Foi observada relação positiva entre o comprimento e o peso das quatro espéciesestudadas. Os coeficientes angulares (b), utilizados posteriormente para o cálculo do fator de condição, foram de1,39 para Bryconops giacopinii, 0,72 para Moenkhausia aff. collettii “alta”, 2,23 para Hoplias malabaricus, e 1,87para Crenicichla aff. menezesi. Como esses valores foram inferiores a 3, conclui-se que as quatro espéciesapresentam crescimento alométrico negativo (Vazzoler, 1996). Não ocorreu relação significativa entre aporcentagem de cobertura de dossel dos riachos e o fator de condição médio para as quatro espécies estudadas,independentemente do grupo alimentar a que pertencem (Figura 1). Para os peixes piscívoros (Hoplias malabaricuse Crenicichla aff. menezesi) este resultado é esperado, visto que sua alimentação não necessariamente apresentadependência da vegetação ripária. O resultado para as piabas Bryconops giacopinii e Moenkhausia aff. collettii“alta”, por outro lado, refutou a hipótese inicial do presente estudo. Isto porque são espécies consideradas naliteratura como insetívoras alóctones, ou seja, que se alimentam de insetos vindos da mata ao redor dos riachos.Era esperado, portanto, que em igarapés com maiores porcentagens de cobertura de dossel estas espéciesapresentassem maiores valores de fator de condição, devido a maior disponibilidade de recursos alimentares,quando comparado a igarapés desmatados. Uma das possíveis explicações para este resultado é que Bryconopsgiacopinii e Moenkhausia aff. collettii “alta” apresentariam alta plasticidade alimentar. Ou seja, são espécies quepoderiam mudar seu modo predominante de alimentação em função das alterações nas condições ambientais. Parapeixes de riachos há registros de espécies com alta plasticidade trófica (Esteves & Aranha, 1999). No caso daregião de Santarém-Belterra, onde há igarapés sujeitos a diferentes graus de desmatamento, estas piabas podemestar consumindo diferentes recursos alimentares e mantendo-se em estados fisiológicos regulares (fator decondição semelhante entre igarapés íntegros e desmatados). Por exemplo, populações que habitam igarapésaltamente desmatados podem estar consumindo presas autóctones, como pequenos crustáceos, larvas de insetos,dentre outros. Futuros estudos sobre a alimentação especificamente dessas populações de peixes podem elucidarmelhor os resultados obtidos no presente trabalho.Tabela 1: Valores médios, mínimos e máximos de comprimento padrão e peso das quatro espécies estudadas nosigarapés de Santarém-Belterra.I Congresso de Iniciação Científica PIBIC/CNPq - PAIC/FAPEAM Manaus - 2012Figura 1: Relação entre cobertura do dossel (%) e fator de condição de Bryconops giacopinii (A), Moenkhausia aff.collettii “alta” (B), Hoplias malabaricus (C), e Crenicichla aff. menezesi (D) em igarapés da região deSantarém-Belterra (PA).4.ConclusãoCom os resultados obtidos, corroboramos a hipótese de que não há relação entre grau de cobertura ripária e fatorde condição para as os peixes piscívoros Hoplias malabaricus e Crenicichla aff. menezesi. Por outro lado, refutamosa hipótese para as espécies insetívoras Bryconops giacopinii e Moenkhausia aff. collettii “alta”. Sugere-se que estasduas piabas apresentem alta plasticidade alimentar, o que as manteriam em bom estado fisiológicoindependentemente da cobertura vegetal ao redor dos riachos.5.Referencias BibliográficasAllan, J.D. 1995. Stream ecology: structure and function of running Waters. Chapman & Hall.Bojsen, B.H. & Barriga, R. 2002. Effects of deforestation on fish community structure in Ecuadorian Amazonstreams. Freshwater Biology, 47, 2246-2260.Caramaschi, E.P. 1999. Ecologia de peixes de riachos, v. 6, Série Oecologia Brasiliensis, PPGE-UFRJ, pp. ix-x.Carvalho, L.N. 2008. História natural de peixes de igarapés amazônicos: utilizando a abordagem do Conceito do RioContínuo. Tese de Doutorado, INPA, 142pp.Esteves, K.E. & Aranha, J.M.R. 1999. Ecologia trófica de peixes de riachos. In: Ecologia de peixes de riachos, v. 6,Série Oecologia Brasiliensis, PPGE-UFRJ, pp. 157-182.Froese, R. 2006. Cube Law, condition factor and weight-length relationships: history, meta-analysis andrecommendations. 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Efeito do Grau de Cobertura Ripária Sobre o Fator de Condição de Populações de Peixes em Riachos Amazônicos

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