10 research outputs found

    Cuidados de saúde materno-infantis à população imigrante residente em Portugal

    Get PDF
    Tese de doutoramento em Psicologia (área de especialização em Psicologia Social)Num mundo em progressiva movimentação, com sociedades cada vez mais diversificadas, o número de mulheres a viver a maternidade em contexto multicultural e migratório é, nos dias de hoje, uma realidade com uma expressão reconhecida, tanto a nível mundial como nacional. Todavia, o conhecimento em torno da qualidade e da eficácia do acesso dos/as imigrantes aos cuidados de saúde, especialmente no que respeita às mulheres imigrantes, é ainda escasso em Portugal (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2007). Os estudos sugerem que as mulheres migrantes se deparam com enormes desafios no que à questão da acessibilidade aos cuidados de saúde diz respeito. As dificuldades parecem intensificar-se durante a gravidez e a maternidade, períodos de maior vulnerabilidade à doença e ao risco, para elas e para as/os suas/seus descendentes. Face a este cenário, a presente dissertação tem por objetivo principal analisar e caracterizar os cuidados materno-infantis prestados à população imigrante residente em Portugal. Situada em pressupostos teóricos e epistemológicos críticos oferecidos pelo construcionismo social, a presente investigação, de natureza qualitativa, compreendeu a realização de dois estudos empíricos. O estudo 1, pretendeu caracterizar os discursos, perceções e vivências de trinta mulheres de nacionalidade cabo-verdiana, brasileira e ucraniana nos cuidados de saúde materno-infantis em Portugal. O estudo 2, pretendeu contribuir para um melhor conhecimento sobre o acesso e capacidade de resposta do Sistema Nacional de Saúde e suas/seus profissionais à procura de cuidados por mulheres imigrantes grávidas residentes em Portugal bem como pretendeu caracterizar os discursos de catorze profissionais de saúde sobre os cuidados específicos preconizados às mulheres imigrantes durante o período de gravidez, parto e puerpério. No estudo 1 através da análise temática efetuada foram identificados dois temasmovimentações na diáspora e cuidados de saúde materna: facilidades e constrangimentos, cuja análise em profundidade foi auxiliada pela análise crítica do discurso (Willig, 2003, 2008). Os resultados mostram, de um modo geral, que os padrões de procura de serviços de saúde para vigilância de gravidez são tardios. Para isso contribuem as experiências vivenciadas nos diversos contextos sociais (e.g., experiências discriminatórias) bem como os múltiplos e diferenciados obstáculos que encontram (e.g., culturais, informativos, económicos, comunicacionais, burocráticas, familiares) quando acedem ou tentam aceder aos serviços. Embora a maioria faça uma apreciação positiva dos cuidados recebidos, todas elas alertam para a insensibilidade demonstrada pelas/os profissionais face à diversidade cultural e a constante discriminação preconizada, que é diferenciada consoante as suas pertenças identitárias. Face às dificuldades sentidas e aos discursos com os quais vão contactando, estas mulheres vão alimentando uma noção de si como pessoas com menos direitos, o que as leva conformarem-se com as práticas ocidentais de cuidado e a silenciar-se face às práticas discriminatórias a que são sujeitas. Deste modo, os resultados apontam para que as estratégias individuais utilizadas não constituem qualquer tipo de ameaça ao grupo hegemónico, contribuindo para a manutenção do status quo (Lewin, 1948/1997) e da desigualdade. No estudo 2 através da análise temática efetuada foi identificado um grande temaconhecimento, constrangimentos e práticas face aos cuidados de saúde à população imigrante grávida, cuja reflexão foi também complexificada com o uso da análise crítica do discurso. Neste estudo, os resultados apontam para a existência de vários entraves ao acesso das imigrantes aos cuidados de saúde primários. O desconhecimento da legislação vigente por parte das/os profissionais, a falta de infraestruturas de gestão capazes de responder às diferentes necessidades, nomeadamente no que concerne à atribuição de um/a técnico para seguir a grávida durante um longo período, o tempo limitado das consultas, bem como as barreiras comunicacionais e linguísticas existentes parecem contribuir para este cenário. Por outro lado, os resultados mostram que os discursos das/os profissionais são discursos hegemónicos que levam a uma regulação de saberes das imigrantes em prol do conhecimento biomédico ocidental. Assim, as evidências desta investigação apontam para uma assimetria de poderes nas relações de cuidado materno-infantis, que se por um lado, têm como função proteger as mulheres garantindo-lhes um melhor bem-estar e prevenção de problemas futuros, por outro lado, limitam, constrangem e reprimem as ações destas mulheres, aumentando assim a vulnerabilidade a que estão sujeitas durante o período de gravidez e puerpério.In a world in progressive movement, with increasingly diverse societies, the number of women living their motherhood in a multicultural and migration context is a recognized reality both at global and national levels. However, there’s little knowledge about the quality and effectiveness of the access of immigrant to the national health care system especially regarding immigrant women living in Portugal (Fonseca, Silva, McGarrigle & Esteves, 2007). Studies suggest that migrant women face huge challenges related with the accessibility to health care matters. These difficulties seem to intensify during pregnancy and maternity periods because the vulnerability to diseases and risk to women and their descendants increases. Taking this into account, this paper aims to analyze and characterize the maternal and child healthcare provided to the immigrant population resident in Portugal. Based on theoretical and epistemological critical assumptions given by social constructionism, this qualitative research is divided into two empirical studies. The study 1, intended to characterize (look for the common features in) the speeches, perceptions and experiences of thirty Capeverdean, Brazilian and Ukrainian women about the maternal and child health care services in Portugal. Study 2, intended to contribute to a better understanding of the access and responsiveness of the national health care system and its professionals towards regnant immigrant women living in Portugal as well as to characterize the speeches of fourteen health professionals about the specific care procedures provided to immigrant women during pregnancy, childbirth and postpartum periods. In study 1, a thematic analysis was conducted and two themes could be identified- Movements in the Diaspora and Maternal health care: facilities and constraints - whose in-depth analysis was helped by the critical analysis of the discourse (Willig, 2003, 2008). The results show, that the search of healthcare services for monitoring pregnancies are generally delayed. Personal experiences in different social contexts (e.g., experiences of discrimination) as well as the multiple and different obstacles encountered (e.g., cultural, informational, economic, communication, bureaucratic, familiar) when accessing or attempting to access services seem to be an important contribution. Most of the women made a positive assessment of the care services received but they all warn about the professionals’ insensitivity to cultural diversity and constant discrimination actions performed, which seems to appear in different shapes and related with their identity characteristics. Given the difficulties experienced and the speeches with which they contact, these women nurture a sense of themselves as people with fewer rights and this seems to lead them to comply with Western practices of care and to silence themselves about the discriminatory practices experienced. The results indicate that the individual strategies used do not constitute any threat to the hegemonic group and contribute to the maintenance of the status quo (Lewin, 1948/1997) and inequalities. In study 2, the thematic/theme analysis conducted identified one central subject- Knowledge, constraints and practices in relation to health care in pregnant immigrant population. Once again, the reflection about this matter was performed in accordance with the critical discourse analysis. In this study, the results point out the existence of several barriers to the immigrants’ access of primary health care services. The professionals’ lack of knowledge about legislation, the lack of management infrastructure capable of responding to different needs, particularly in relation to providing a technician to follow each woman for a long period, the time constrainments in the medical consultations as well as the language and communication barriers appear to contribute to this scenario. Moreover, the results show that professionals’ discourses are hegemonic discourses and lead to a regulation of immigrants’ knowledge in favor of western biomedical understandings. Thus, the evidences in this research highlight the presence of power asymmetries in the relations established in the maternal and child care services. If, on the one hand, these relations have the duty to protect women ensuring them a better well-being and prevention of future problems, on the other hand, limit, constrain and restrain the actions of these women while increasing the vulnerability to which they are subjected during pregnancy and postpartum periods

    Inclusão/exclusão das mulheres imigrantes nos cuidados de saúde em Portugal: reflexão à luz do feminismo crítico

    Get PDF
    O processo migratório pode constituir um factor de risco para a saúde, podendo acarretar uma maior vulnerabilidade em relação a problemas de saúde em geral (Carballo et al. , 1998) e de saúde mental em particular, devido não só à dureza do processo migratório (Carta et al. , 2005), mas também à exposição quotidiana a formas de discriminação (in Pusseti, Ferreira, Lechner & Santinho, 2009). Se existe um elevado desconhecimento do acesso efectivo dos/as imigrantes aos cuidados de saúde (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2009) mais acentuado é no que se concerne à mulher imigrante. Esta apresentação pretende evidenciar e reflectir sobre a necessidade dos países de acolhimento desenvolverem políticas a nível dos serviços de saúde, à luz dos feminismos, tendo em conta o estatuto de mulher e imigrante. Trata-se uma reflexão teórica sobre o tema que está a ser trabalhado empiricamente no âmbito de um doutoramento em Psicologia Socia

    Immigrant women in Portugal: A gender analysis

    Get PDF
    Este texto procura discutir teoricamente a importância de se analisar as migrações a partir de uma perspectiva de gênero. Tomando como referência uma das mais marcantes características da era atual das migrações, a feminização, aponta-se a necessidade de refletir e questionar os processos e as dinâmicas subjacentes às migrações femininas e às suas características específicas. São apreciados neste texto os contributos das teorias feministas para o entendimento das migrações das mulheres, assim como são observadas as implicações de se considerar as migrações um fenômeno genderizado. São também sistematizados alguns dos estudos sobre mulheres imigrantes realizados em Portugal mais recentemente, mapeando-se as temáticas mais abordadas e os resultados alcançados.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    VIVÊNCIAS DE MULHERES BRASILEIRAS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE MATERNA

    Get PDF
    O número de mulheres a viver a maternidade em contexto multicultural e migratório é, atualmente, uma realidade com uma expressão reconhecida. Todavia, o conhecimento em torno da qualidade e da eficácia do acesso das imigrantes aos cuidados de saúde, é ainda diminuto em Portugal (Fonseca et al., 2007). Situado em pressupostos teóricos e epistemológicos críticos oferecidos pelo construcionismo social, o presente estudo, de natureza qualitativa, pretendeu analisar e caracterizar, através de entrevistas semiestruturadas, os discursos, perceções e vivências de dez mulheres brasileiras que estavam grávidas e/ou foram mães em Portugal acerca dos cuidados de saúde materno-infantis recebidos no país. Como método de análise recorremos à análise temática (Braun e Clarke, 2006) sendo esta complexificada com uma análise em profundidade auxiliada pela análise crítica do discurso (Willig, 2003, 2008). Os resultados mostram que, apesar de gratuitos, os padrões de procura de serviços de saúde para vigilância de gravidez são tardios. Para isso contribuem as experiências vivenciadas nos diversos contextos sociais (e.g., discriminação) bem como os múltiplos e diferenciados obstáculos que encontram (e.g., económicos, burocráticas) quando acedem ou tentam aceder aos serviços. Embora a maioria faça uma apreciação positiva dos cuidados recebidos, algumas queixam-se da interpretabilidade da lei e sua usurpação por parte de quem as recebe nos serviços, bem como alertam para a insensibilidade demonstrada pelas/os profissionais face à diversidade cultural e a constante discriminação preconizada. Face às dificuldades sentidas e aos discursos com os quais vão contactando, estas mulheres vão alimentando uma noção de si como pessoas com menos direitos, o que as leva conformarem-se com as práticas ocidentais de cuidado e a silenciar-se face às práticas discriminatórias a que são sujeitas. As estratégias individuais utilizadas parecem não constituir qualquer tipo de ameaça ao grupo hegemónico, contribuindo para a manutenção do status quo e da desigualdade (Topa et al., 2013)

    Inclusão/exclusão das mulheres imigrantes nos cuidados de saúde em Portugal: Reflexão à luz do feminismo crítico

    Full text link
    O processo migratório pode constituir um factor de risco para a saúde, podendo acarretar uma maior vulnerabilidade em relação a problemas de saúde em geral (Carballo et al., 1998) e de saúde mental em particular, devido não só à dureza do processo migratório (Carta et al., 2005), mas também à exposição quotidiana a formas de discriminação (in Pusseti, Ferreira, Lechner & Santinho, 2009). Se existe um elevado desconhecimento do acesso efectivo dos/as imigrantes aos cuidados de saúde (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2009) mais acentuado é no que se concerne à mulher imigrante. Esta apresentação pretende evidenciar e reflectir sobre a necessidade dos países de acolhimento desenvolverem políticas a nível dos serviços de saúde, à luz dos feminismos, tendo em conta o estatuto de mulher e imigrante. Trata-se uma reflexão teórica sobre o tema que está a ser trabalhado empiricamente no âmbito de um doutoramento em Psicologia Social.info:eu-repo/semantics/publishedVersio

    Inclusão/exclusão das mulheres imigrantes nos cuidados de saúde em Portugal: Reflexão à luz do feminismo crítico

    Full text link
    The migration process can be a health factor risk, which may cause greater vulnerability to health problems in general (Carballo et al., 1998) and mental health in particular, not only because of the hardness of migration process (Charter et al., 2005), but also to exposure to everyday forms of discrimination (in Pusseti, Ferreira, Lechner & Santinho, 2009). If there is a high lack of effective access to the immigrants health care (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2009) more pronounced is in related to immigrant women. Its accessibility is very dependent on the situation of legality or illegality of their economic status, (un) aware of their rights of access to care health and their beliefs (2004 World Survey on the Role of Women in Development, 2006). This paper aims to highlight and reflect, under feminist perspective, on the need for host countries develop policies on the level of health services, given a real status to being a women and an immigrant. This is a theoretical reflection on the topic that is being worked empirically under a Ph.D. in Social Psychology.O processo migratório pode constituir um factor de risco para a saúde, podendo acarretar uma maior vulnerabilidade em relação a problemas de saúde em geral (Carballo et al., 1998) e de saúde mental em particular, devido não só à dureza do processo migratório (Carta et al., 2005), mas também à exposição quotidiana a formas de discriminação (in Pusseti, Ferreira, Lechner & Santinho, 2009). Se existe um elevado desconhecimento do acesso efectivo dos/as imigrantes aos cuidados de saúde (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2009) mais acentuado é no que se concerne à mulher imigrante. Esta apresentação pretende evidenciar e reflectir sobre a necessidade dos países de acolhimento desenvolverem políticas a nível dos serviços de saúde, à luz dos feminismos, tendo em conta o estatuto de mulher e imigrante. Trata-se uma reflexão teórica sobre o tema que está a ser trabalhado empiricamente no âmbito de um doutoramento em Psicologia Social.El proceso de migración puede ser un factor de riesgo para la salud y puede conducir a una mayor vulnerabilidad a los problemas de salud en general (Carballo et al., 1998) y la salud mental, en particular, debido no sólo a la dureza del proceso de migración (Carta et al., 2005), sino también la exposición formas cotidianas de discriminación (in Pusseti, Ferreira, Lechner & Santinho, 2009). Si hay una falta de alta de un acceso efectivo hacia los inmigrantes cuidado de la salud (Fonseca, Silva, Esteves & McGarrigle, 2009) más pronunciado es en relación con las mujeres inmigrantes. Esta presentación tiene por objetivo destacar y reflexionar sobre la necesidad de los países de acogida desarrollar políticas en el nivel de los servicios de salud, a la luz del feminismo, dada la situación de las mujeres y los inmigrantes. Se trata de una reflexión teórica sobre el tema que se está trabajando empíricamente el marco de un doctorado en Psicología Social

    Mulheres imigrantes em Portugal: uma análise de gênero

    Full text link
    Resumo Este texto procura discutir teoricamente a importância de se analisar as migrações a partir de uma perspectiva de gênero. Tomando como referência uma das mais marcantes características da era atual das migrações, a feminização, aponta-se a necessidade de refletir e questionar os processos e as dinâmicas subjacentes às migrações femininas e às suas características específicas. São apreciados neste texto os contributos das teorias feministas para o entendimento das migrações das mulheres, assim como são observadas as implicações de se considerar as migrações um fenômeno genderizado. São também sistematizados alguns dos estudos sobre mulheres imigrantes realizados em Portugal mais recentemente, mapeando-se as temáticas mais abordadas e os resultados alcançados
    corecore