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HISTÓRIA E LINGUAGEM ANÁLISE DE UM PROCESSO INQUISITORIAL: A BÍGAMA MARIA FERREIRA CONDENADA PELA INQUISIÇÃO NO SÉCULO XVII
HISTORY AND LANGUAGE INQUISITORIAL LAWSUIT ANALYSIS: THE BIGAMOUS MARIA FERREIRA CONDEMNED BY THE INQUISITION IN XVII CENTURY ABSTRACT The present study analyses the inquisitorial lawsuit of the Portuguese lady Maria Ferreira, condemned in 1673 by the Santo Ofício Court to a seven-year-banishment in Brazil. She was accused of bigamy, a condition considered as a crime by the Church, a great sin and a serious heresy suspicion. The lawsuit analysis is carried out under a historical, religious and juridical perspective, as well as a linguistic one, by means of the description and analysis of the terms used in the lawsuit by the Inquisition judges. The inquisitorial vocabulary analysis aims at demonstrating that the language uses reveal the culture and the ways of thinking of a society and of a time. KEY WORDS: history, inquisition; bigamy; language.HISTÓRIA E LINGUAGEM Análise de um processo inquisitorial: a bígama Maria Ferreira condenada pela Inquisição no século XVII Resumo: Neste estudo, analisa-se o processo inquisitorial da portuguesa Maria Ferreira, condenada em 1673 pelo tribunal do Santo Ofício, a sete anos de degredo no Brasil. A ré era acusada de bigamia, condição considerada pela Igreja um crime, um grande pecado e uma grave suspeita de heresia. A análise do processo é feita sob uma perspectiva histórica, religiosa e jurídica, como também sob uma perspectiva linguística, por meio da descrição e análise dos vocábulos utilizados no processo pelos juízes da Inquisição. A análise do vocabulário inquisitorial tem como objetivo demonstrar que os usos da linguagem revelam a cultura e os modos de pensamento de uma sociedade e de uma época.  
ROBERTO MUCHEMBLED
O francês Robert Muchembled é mundialmente conhecido pelos seus estudos alicerçados na história cultural e das ciências sociais. Especialista nos tempos modernos (séculos XVI-XVIII), este historiador focou, com original lucidez, a cultura popular, a violência, a justiça, a feitiçaria, os costumes e os gestos do passado histórico. Os seus estudos dialogam com a Antropologia do poder, a História social e o interacionismo, o qual impetra uma dialética das interações com o outro e com o meio, como desencadeador do desenvolvimento sócio-cognitivo. As análises de Muchembled se fundamentam na prerrogativa dos fenômenos sócio-culturais que envolvem o âmbito do desempenho dos papeis relacionais e seus vínculos com o modo pelo qual cada indivíduo concebe a sua imagem e como pretende preservá-la. Os escritos de Muchembled, particularmente aqueles sobre a feitiçaria e as práticas diabólicas (que privilegiaremos neste artigo), lhe permitiu adentrar no mundo dos heterodoxos, dos estigmatizados, locus das heterotopias, espaços das alteridades, que não estão nem aqui nem lá, que são simultaneamente físicos e mentais