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    A Pesquisa Científica e a Psicologia

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    As múltiplas psicologias que pretendem descrever o homem dão a impressão de ser tentativas desordenadas. Elas pretendem se construir a partir das estruturas biológicas e reduzem seu objeto de estudo ao corpo ou o deduzem das funções orgânicas; a pesquisa psicológica não é mais que um ramo da fisiologia (ou de um domínio dela): a reflexologia. Ou então elas são reflexivas, introspectivas, fenomenológicas e o homem é puro espírito. Elas estudam as diversidades humanas e descrevem a evolução da criança, as degradações do louco, a estranheza dos primitivos. Ora elas descrevem o elemento, ora pretendem compreender o todo. Às vezes se ocupam exclusivamente com a forma objetiva do comportamento, outras vezes vinculam as ações à vida interior para explicar as condutas, ou ainda pretendem apreender a existência vivida. Algumas deduzem, outras são puramente experimentais e utilizam estruturas matemáticas como forma descritiva. As psicologias diurnas querem explicar a razão da vida do espírito pelos clarões decisivos da inteligência, enquanto as outras visam as inquietantes profundezas da obscuridade interior. Naturalistas, elas traçam os contornos definitivos do homem; humanistas, reconhecem nele algo de inexplicável. Esta complexidade é, talvez, justamente a nossa. Pobre alma (as psicologias que hesitam sobre seus conceitos não sabem sequer nomeá-la), cercada de técnicas, remexida de questões, posta em formulários, traduzida em curvas. Auguste Comte acreditava, com algumas reservas, que a psicologia era uma ciência ilusória, impossível e a menosprezou. Não somos tão ousados. Apesar de tudo, há psicólogos, e que pesquisam

    Nascimentos da Psicologia: A Natureza e o Espírito

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    Desde sua constituição como domínio do saber no fim do século XVI, a psicologia divide-se rapidamente em duas tendências com orientações diferentes. A primeira, de inspiração naturalista, situa-se no prolongamento do comentário da Física aristotélica e se desenvolve principalmente nas universidades protestantes de Marburgo e Leiden. Nesses estabelecimentos onde reinava então um espírito humanista, racionalista e tolerante, toma lugar a primeira forma de dualismo da alma e do corpo. Mas na mesma época, em círculos místicos e herméticos, desenvolve-se uma outra concepção da psicologia, cujo método interpretativo inspira-se na exegese bíblica e emprega procedimentos terapêuticos, cuidados da alma e cuidados magnéticos, sustentados sobre a influência psicológica

    Para uma Historia da Psicologia

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    A história da psicologia, tal como aparece em algumas obras (E.G. Boring 1950; M. Reuchlin 1957; P. Fraisse e J. Piaget 1963) ou em capítulos introdutórios de alguns manuais (M. Reuchlin 1977), reflete uma adesão — raramente discutida — a uma concepção internalista. Segundo essa concepção, a psicologia seria animada por uma dinâmica própria, um processo evolutivo totalmente endógeno, e seria independente de fatores externos tais como os domínios religiosos, sociopolíticos e econômicos. Além do mais, os partidários dessa história aceitam ver a psicologia influenciada por disciplinas situadas em suas fronteiras, como a biologia, a fisiologia e, em menor medida, a física. Esses domínios fronteiriços geralmente dizem respeito a objetos psicológicos habitualmente qualificados de inferiores, como reflexos, sensações e percepções, em oposição à linguagem e ao pensamento, qualificados como processos superiores. Esses mesmos domínios fronteiriços engendraram por sua vez subdomínios relativamente autônomos, tais como a psicofísica ou a psicofisiologia. Correlativamente a essa concepção internalista, o desenvolvimento científico é apresentado como um caminho ao estado de psicologia positiva, tal como A. Comte a definiu em 1837 na 45a lição do Curso de Filosofia Positiva. A caminhada até a positividade foi indicada pelo próprio A. Comte: estudo da anátomo-fisiologia do sistema nervoso (a frenologia de Gall lhe parece a esse respeito uma contribuição decisiva), estudos comparados, análise de casos patológicos, estudo dos comportamentos animais e do desenvolvimento individual. Considerando a evolução da psicologia nos últimos cem anos, seríamos tentados a sustentar que ela realizou o projeto positivista. Psicologia diferencial, psicopatologia, etologia animal e psicologia da criança são vários domínios que concorrem para essa realização. Entretanto, esses domínios estão longe de parecerem homogêneos quanto aos métodos empregados e os modelos epistemológicos aos quais se referem. Um exame atento dessas dimensões metodológicas e epistemológicas mostra que se avança, sobretudo, em ordem dispersa
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