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História da azulejaria portuguesa, iconografia e retórica
A encomenda de azulejos para os colégios jesuítas, com a representação de teoremas
matemáticos, experiências científicas e conceitos filosóficos é um caso exemplar de como a
produção das artes decorativas, no período moderno, se entrelaçou com a cultura erudita.
Ao acompanharmos a renovação da teoria poética aristotélica que, por força da importância
da elaboração de emblemas, empresas e enigmas, englobou o discurso das imagens, é possível
demonstrar que a definição de um programa iconográfico faz parte do processo de atribuição
do significado das imagens. Além do mais, a formação de uma narrativa de imagens foi
determinante para a atribuição de um significado específico ao discurso visual. Foi através do
contexto pedagógico das humanidades, da filosofia, da matemática e da teologia, em suma, do
conhecimento veiculado pelos professores jesuítas, que os painéis de azulejos ganharam um
significado único, que não lhes é inerente.
A identificação de uma retórica do discurso das imagens permitiu-nos definir com maior
clareza o papel do iconógrafo nas campanhas das artes decorativas, aqui extensamente
representadas pelo azulejo.
Dois dos mais importantes conjuntos analisados, os azulejos da Aula da Esfera do Colégio de
Santo Antão-o-Novo e os azulejos das salas de aula do Colégio do Espírito Santo de Évora,
foram realizados entre os anos de 1740 e 1750, período que corresponde à formação da
Grande Oficina de Lisboa, dirigida pelo mestre ladrilhador Bartolomeu Antunes. De forma
inédita, o mestre ladrilhador dos paços reais assalariou o trabalho dos pintores Nicolau de
Freitas, Valentim de Almeida, Sebastião de Almeida, José dos Santos Pinheiro e Joaquim de
Brito e Silva.
A forma de contribuição dos pintores é possível de ser analisada através da reconstituição do
percurso desses profissionais, muitos dos quais anónimos, e através da caracterização das
diversas formas de colaboração com mestres oleiros e ladrilhadores.
Os programas iconográficos analisados reportam-se a conteúdos específicos do programa de
ensino da Companhia de Jesus mas, ao mesmo tempo, consagram a interdependência e
harmonia entre os princípios teológicos defendidos pela Contrarreforma e os novos
conhecimentos veiculados pelas descobertas científicas; ABSTRACT: HISTORY OF PORTUGUESE TILES, ICONOGRAPHY AND RHETORIC
The order of the tiles to the Jesuit colleges, with the depict of mathematical theorems,
scientific experiments, and philosophical concepts, is an exemplary case of how the making of
decorative arts, in the modern period, intertwined with erudite culture.
Based on a new approach to the Aristotelic poetry theory, envisioned for the composition of
emblems, the Jesuits were able to create iconographic programs for figurative tiles.
Furthermore, the idea of the composition of a narrative was decisive to the attribution of a
specific meaning to the images. It was through the pedagogical context of the humanities,
philosophy, sciences, mathematics, and theology, in short, the knowledge taught in the Jesuit
colleges, that the images of the tile panels gained a unique meaning, which is not inherent to
them.
Two of the most important sets of panels studied, the tiles of the Aula da Esfera do Colégio de
Santo Antão-o-Novo, in Lisbon, and the Colégio do Espírito Santo, in Évora, were made
between 1740 and 1750, a period in which the Great Lisbon Workshop was created and
directed by the tiler Bartolomeu Antunes. In an unprecedented way, the tile master of the
royal palaces hired the painters Nicolau de Freitas, Valentim de Almeida, Sebastião de
Almeida, José dos Santos Pinheiro and Joaquim de Brito e Silva.
The analysis of the contribution of these painters was possible by the reconstitution on the
biography of these professionals, many of them anonymous, and through the characterization
of various manners of collaboration with potters and tilers.
The iconographic programs referred to specific contents of the teaching program of the
Society of Jesus, but at the same time, proved the interdependence and harmony between the
theological principles defended by the Counter-Reformation and the new knowledge shown by
scientific discoveries