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Observações do não-observável: breve relato sobre o I Encontro “Ayahuasca e o Tratamento da Dependência”
“Dá pra se livrar do vício em drogas usando outra? Como é que uma substância alucinógena pode tratar da dependência? Ayahuasca é droga? E o usuário em drogas ou álcool pode ficar viciado em ayahuasca? Como é esse tratamento? Ele funciona mesmo?” Essas são apenas algumas das perguntas que surgem imediatamente ao abordar essa temática. O I Encontro “Ayahuasca e o Tratamento da Dependência”[2], evento realizado entre os dias 12 e 14 de setembro de 2011, no Anfiteatro da Geografia da Universidade..
Observações do não-observável: breve relato sobre o I Encontro “Ayahuasca e o Tratamento da Dependência”
“Dá pra se livrar do vício em drogas usando outra? Como é que uma substância alucinógena pode tratar da dependência? Ayahuasca é droga? E o usuário em drogas ou álcool pode ficar viciado em ayahuasca? Como é esse tratamento? Ele funciona mesmo?” Essas são apenas algumas das perguntas que surgem imediatamente ao abordar essa temática. O I Encontro “Ayahuasca e o Tratamento da Dependência” foi realizado entre os dias 12 e 14 de setembro de 2011, no Anfiteatro da Geografia da Universidade de São Paulo. O evento contou com a presença de antropólogos, psiquiatras, médicos, religiosos de matrizes diversas, pesquisadores de diversas áreas e representantes de centros de tratamento do Brasil, Peru, Argentina e Uruguai. Com o auditório repleto em todos os períodos, o encontro reuniu vozes e atores diferentes, algumas até destoantes, que afirmaram juntas a necessidade de estudos sobre o tema.
Nota dos autores:
Os autores são membros do Grupo NauConsciência, coordenado por Marcelo S. Mercante. Este grupo é parte do NAU – Núcleo de Antropologia Urbana – da USP, que por sua vez é coordenado pelo prof. José Guilherme Magnani. O NauConsciência conta ainda com a participação de Fernanda Escanho e de Álvaro Russo, graduandos em Ciências Sociais da USP
Consumo de drogas por mulheres pertencentes às camadas médias
Enquanto os padrões, perfis e sentidos do uso de drogas lícitas e ilícitas têm sido amplamente pesquisados entre os setores mais pobres e vulneráveis da população, tanto para fins acadêmicos quanto para formulação/ implementação e acompanhamento de políticas públicas de segurança e saúde, outros segmentos sociais estiveram tradicionalmente ausentes destas reflexões. Atento a este problema, este trabalho procura, por meio do arcabouço da sociologia do cotidiano e do método de entrevistas compreensivas, reconstruir os sentidos do uso de drogas lícitas e ilícitas por mulheres de camadas médias em duas Regiões do país. Por meio destas narrativas, reconstruir o circuito que vai do conhecimento dos fármacos aos usos, passando pelas formas de aquisição, o artigo reflete sobre a atribuição de sentido à experiência do uso de drogas pelos sujeitos e a permanente (re)constituição de seus laços sociais e subjetividades. Entre o consumo das lícitas e/ou das ilícitas, as mulheres avaliam qual é substância mais apropriada para o seu consumo privado, pois há muito mais que um modo capitalista em jogo, há um modo de vida que exige dessa usuária escolhas que, a princípio, possibilitam que a mesma se individualize enquanto sujeito, concomitante à sua inserção na vida social e cotidiana
The flower of the egg: trajectories and meanings behind the use of licit and illicit drugs in private contexts
RESUMO: Trata-se de uma pesquisa social realizada a partir de pressupostos da sociologia compreensiva em diálogo com autores das áreas da antropologia, psicanálise e psicologia social em que doze sujeitos apresentaram suas trajetórias e respectivos sentidos para o consumo de drogas lícitas e ilícitas em contextos privados. A partir de suas narrativas pôde-se compreender que o consumo de drogas relaciona-se diretamente com o contexto social na qual vivem os sujeitos, trazendo à tona aspectos morais, estéticos e sociais em seus usos. É possível afirmar como resultados da investigação: que a problemática do consumo de drogas envolve a excessiva medicalização e psiquiatrização de comportamentos, além de uma demasiada testagem entre os usuários de fármacos prescritos; a relação entre vulnerabilidade social e pobreza é um indicador superficial para a compreensão do consumo de drogas, em que a vulnerabilidade não está e não deve ser circunscrita à pobreza, e pessoas de camadas sociais mais favorecidas também fazem uso de drogas das mais diversas e por razões semelhantes àqueles que vivem em situação economicamente desfavorecida; a narrativa oriunda da comunidade científica no tratamento das drogas como um problema de saúde pública legitima o saber biomédico; o consumo do uso de drogas faz parte de um modo e estilo de vida contemporâneos para o alívio, anestesia e recreação de nosso tempo social; a produção de categorias científicas referentes aos usuários de drogas e aos seus estilos de vida acaba por transformar esse saber-poder em mercado para a comunidade científica e médico-jurídica; e, por fim, que o consumo de drogas não é um problema de saúde pública, a priori, principalmente, no que diz respeito ao uso das chamadas ilícitas, mas faz parte de um regime de moralidades. Nesse contexto, é o uso excessivo de fármacos prescritos e sua testagem em consumidores que devem ser olhados como problema de saúde pública, já o consumo de drogas ilícitas torna-se uma questão de saúde pública apenas na medida em que o usuário e/ou seu entorno justificam seu consumo como problemático a partir de uma construção social em que os saberes da medicina e da justiça tratam-no como sendoABSTRACT: This is a social research study based on the assumptions of interpretative sociology (Verstehen), in dialogue with authors from the areas of anthropology, psychoanalysis and social psychology, in which twelve subjects presented their personal histories and respective meanings in relation to the consumption of licit and illicit drugs in private contexts. From these narratives it was possible to comprehend that the consumption of drugs is directly related to the social context in which the subjects live, thereby bringing to light the moral, aesthetic and social aspects of their uses. It is possible to affirm the following results from the research: that the issue of drug consumption includes the excessive medicalization and psychiatrization of behaviors, in addition to excessive testing among users of prescribed drugs; the relationship between social vulnerability and poverty is a superficial indicator in the understanding of drug use, considering that vulnerability is not and should not be circumscribed to poverty since people from the most favored social strata also use a wide range of drugs for reasons similar to those of individuals in economically disadvantaged situations; the scientific community´s narrative in the treatment of drugs as a public health problem legitimizes biomedical knowledge; drug use exists as part of contemporary lifestyles and ways of life to provide relief, anesthesia and recreation during our social time; the production of scientific categories for drug users and their lifestyles ends up transforming this know-how into a market for the scientific and medical-legal community; and, finally, that drug use is not a public health problem a priori, especially with regard to the use of so-called illicit drugs, but exists within the context of a set of moral codes. In this context, it is the excessive use of prescription drugs and their testing on consumers that should be regarded as a public health problem, while the consumption of illicit drugs becomes a public health issue only to the extent that the user and/or his/her environment justify their consumption as \'problematic\' as a result of the social construction in which medical and legal knowledge considers them as suc
Resenha: DIAS DA SILVA, C. Viver em primeira pessoa: uma etnografia sobre humanização e técnicas do corpo. CRV Editora, 2016, 155 p.
Trata-se de resenha do livro publicado em 2016, de autoria de Cristina Dias da Silva que versa sobre uma etnografia realizada em um hospital filantrópico a respeito da humanização e técnicas corporais
O sentido solidário e sua relação com os limites éticos em pesquisa etnográfica com crianças cronicamente enfermas
Through the theoretical and practical references of ethnography, from a phenomenological perspective, this article presents reflections on the ethical limits of research with chronically ill children. From the presentation of an outpatient narrative of a child affected by atopic dermatitis, the concept of supportive meaning is developed as a requisite for parrhesia in order to establish a genuine exchange between researcher and informant. In this case, in addition to an ethical listening, the researcher must consider that the current state of the ill child requires a different perception and care from those related to the development of ethnographic research in other contexts.Por meio dos referenciais teóricos e práticos da etnografia, a partir de uma perspectiva fenomenológica, este artigo desenvolve reflexões sobre os limites éticos da pesquisa com crianças cronicamente enfermas. A partir da apresentação de uma narrativa ambulatorial de uma criança acometida por dermatite atópica, desenvolve-se o conceito de sentido solidário como requisito para a parrhesía a fim do estabelecimento de uma troca genuína entre pesquisador e informante. Nesse caso, para além de uma escuta ética, o pesquisador deve considerar que o atual estado da criança enferma exige uma percepção e cuidados distintos daqueles relativos ao desenvolvimento de pesquisas etnográficas em outros contextos
Social representations of yoga practice with adolescents residents and employees of the Fundação CASA
Trata-se de uma pesquisa de orientação qualitativa, utilizando a teoria e método propostos pelas Representações Sociais a respeito da prática de yoga junto a adolescentes internos e funcionários da Fundação CASA. Como objetivos do estudo, temos: caracterização dos sujeitos; contextualização da atividade de yoga dentro da unidade da Fundação CASA; análise da atividade de yoga enquanto cuidado de si e seus possíveis impactos na vida do jovem interno dentro da Fundação CASA por meio das representações sociais dos adolescentes praticantes e dos funcionários da instituição e, por fim, descrição das dificuldades e desafios para a construção de um sentimento de paz e bem-estar internos. Realizada na Unidade de Internação Divisão Regional 5 – Unidade de Internação Paulista, na Vila Maria, em São Paulo, a pesquisa contou com a participação de quatro adolescentes e cinco funcionários da instituição. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados a entrevista com três questões norteadoras e a observação participante. Os dados obtidos e organizados a partir da Teoria do Núcleo Central desvelaram um desenho que tem como núcleo central a prática de yoga na Fundação CASA e núcleos periféricos “repercussões da prática de yoga”, “conceito”, “dificuldades” para o grupo formado por adolescentes internos, e “percepção da repercussão da atividade”, “dúvidas” e “conceito”, para o grupo de funcionários. Bem-estar, vínculo, auto-avaliação, resistência, ambiente e cotidiano, auxílio no cumprimento da medida socioeducativa, postura corporal e desconhecimento foram alguns elementos periféricos surgidos nas narrativas dos participantes. Comentado à luz das teorias de Winnicott e Foucault, o material permitiu observar diferenças no entendimento dos objetivos, conceitos e vivências ao que se propõe o yoga entre os grupos, ao mesmo tempo em que aproxima dificuldades. O estudo deu voz para ambos os públicos apresentarem suas respectivas representações sociais sobre a yoga praticada nas dependências de uma instituição de seqüestro.This is a qualitative research project, conducted using theory and methodology proposed by Social Representation with respect to the yoga practice of adolescent inmates and employees of the CASA Foundation. The objectives of the study are based on the following themes: characterization of the subjects; contextualization of the yoga activity within the organization of CASA Foundation; analysis of the yoga practice as a self-help tool and its potential impacts on the lives of young residents in the CASA Foundation through social representation of the adolescent practitioners and staff of the institution and, finally, an analysis of the difficulties and challenges involved in building a sense of inner peace and well-being. Held at the “Unidade de Internação Divisão Regional 5 – Unidade de Internação Paulista”, in Vila Maria, São Paulo, the survey was carried out with the participation of four teenagers and five employees of the institution. Interviews with three guiding questions and the observation of participants were used as data collection instruments. The data collected and organized using the Central Nucleus Theory unveiled a design that has as its core the practice of yoga in the CASA Foundation with peripheral nuclei of "repercussions of the practice of yoga", "concepts" and "difficulties" for the group composed of internal adolescents, and "perception of the impact of activity," "doubts" and "concepts" for the group of employees. Factors relating to well-being, attachment, self-assessment, resistance, environment and everyday life were important in compliance with the socio-educative measures and body posture and lack of knowledge were some of the peripheral elements emerging from the narratives of the participants. Considered through Winnicott´s and Foucault´s theories the material allowed us to observe differences in the understanding of objectives, concepts and experiences in the proposal of the practice of yoga between the different groups, at the same time as these difficulties arise. The study gave voice to both participant groups, allowing them to submit their social representations of the yoga practiced in the premises of a corrective institution such as this.TED