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Geodesia no Brasil na passagem do século XIX e XX
Este texto é uma síntese de pesquisas realizadas na área de história da astronomia ao longo de mais de 15 anos. Tem como objetivo apresentar a geodesia, ciência pouco explorada no âmbito da história da ciência, na sua relação com a formação do território nacional, e se utiliza da trajetória profissional de Luiz Cruls como um guia de investigação
A importância dos mapas para a compreensão da Tectónica de Placas
O objetivo deste trabalho é apresentar a importância dos mapas na divulgação da Tectónica de Placas. A sua adequação a exposições de museus de História Natural e Centros de Ciência que divulgam Tectónica
de Placas não é tarefa simples, pois além de enfrentar problemas como falta de financiamento, enfrenta ainda problemas específicos, derivados quer das escalas dimensional e temporal dos fenómenos e processos, quer, pelo menos em teoria, da maior atratividade de outras disciplinas.
Em particular, a compreensão dos processos associados à Tectónica de Placas, não é uma tarefa simples pois implica:
• A capacidade de “visualizar” processos que decorrem durante centenas de milhões de anos - o que torna impossível não só a observação direta dos mesmos, mas também a própria perceção do tempo envolvido;
• A coexistência em cada momento da História da Terra de vários ciclos de abertura e fecho de oceanos (i.e., os chamados ciclos de Wilson) independentes (ou pelo menos com relações pouco evidentes entre si).
Com efeito, tomando como exemplo a situação atual encontramos, por exemplo, um ciclo tectónico associado à evolução do Oceano Pacífico, outro à evolução do Atlântico, outro ainda à evolução do Índico e do rifte Leste Africano, todos eles em diferentes etapas de desenvolvimento.
Apesar da dificuldade, compreender a Tectónica de Placas é fundamental
para perceber o funcionamento do nosso planeta, devido a sua ligação a processos cruciais, como por exemplo a génese dos recursos geológicos, à interação com os ciclos climáticos ou à própria evolução
biológica. O reconhecimento desta importância está bem patente no destaque
que a Tectónica de Placas ocupa, tanto nos curricula do ensino pré-Universitário como nos do Ensino Superior na generalidade dos países. Contudo, devido a sua complexidade, frequentemente a divulgação
junto do grande público, quando ocorre, acaba por transmitir apenas os processos gerais, não realçando a sua integração com outros processos fundamentais para a dinâmica da Terra, em particular a sua influência na biodiversidade do planeta e também na manutenção da própria sociedade
humana, com crescentes necessidades no uso dos recursos naturais.
Por oportuno, uma ferramenta extremamente útil na divulgação e compreensão da Tectónica de Placas, são os mapas. Desde os primeiros relatos científicos de que os continentes não ocuparam sempre a sua
posição atual, os mapas apresentam-se como forte argumento nas Geociências e na História Natural. Exemplo disso foi o trabalho do cartógrafo Abraham Ortellius (1527-1598), que é considerado o primeiro destes relatos.
A partir deste momento na história, muitos outros cientistas vieram a utilizar os mapas para apresentar as suas teorias e corroborar teorias já iniciadas, como são os casos de Charles Darwin (1809-1882) que, utilizando mapas paleogeográficos e as suas observações de fósseis e de
espécies viventes, propôs a Teoria da Evolução, de Alfred Wegener (1880-1930) e a Teoria da Deriva Continental e de Tuzo Wilson (1908-1993) com a Nova Tectónica de Placas.
Com efeito, fica patente que os mapas são fundamentais para a compreensão das mudanças continentais, explicadas pela Tectónica de Placas, pois constituem-se como um forte elo entre o tempo e o espaço, reduzidos a escalas percetíveis aos olhos dos homens. Desta forma, um
maior uso deste recurso cartográfico para a divulgação da Tectónica de Placas torna-se um importante instrumento de atratividade de público e
de consolidação de conhecimento.
Foi feito um estudo por estes autores, a nível de doutoramento, entre os anos de 2013 a 2016, em 14 museus de História Natural e em Centros de Ciência na Península Ibérica e constatou-se que somente em quatro destes locais se fala sobre Tectónica de Placas e apenas em um se utilizam mapas para a divulgação da mudança continental ao longo do tempo
geológico.
Sendo assim, foi possível através destas visitas identificar a pequena
representatividade de exposições que abordam a temática da Tectónica
de Placas, além da falta de utilização de mapas para se tratar o assunto.
Torna-se urgente uma reformulação dos assuntos apresentados na divulgação
científica do ensino não-formal, pois há necessidade inerente de
se conservar os recursos naturais (geológicos e biológicos), dependentes
do entendimento de sua génese e distribuição tratados pela Tectónica de
Placas
Ciência e território em uma revista literária nos primeiros anos da República
Este artigo visa analisar como em um perÌodo de instabilidade política, como o início da República brasileira, a questão do território foi vista pelos cientistas e literatos. O ponto de contato entre aqueles intelectuais era a colaboração em um importante periódico da época, a Revista Brasileira. Os estudos dos periódicos cientÌfico-literários do final do século XIX nos abrem espaço para pensar na relação entre público e ciência. Muito provavelmente era através destas publicações que os leitores tomavam conhecimento das atividades dos cientistas e estas revistas também serviam para que a comunidade científica brasileira em formação soubesse das expectativas da sociedade. O tema do território nacional é privilegiado por permitir analisar como esta dupla determinação se articulava, um momento matricial do pensamento social brasileiro
O desenvolvimento do Fototeodolito e seu uso na fronteira entre Brasil e Argentina
This paper discusses the historical role of the phototheodolite and its interchange between technique, its users and the results obtained. Thus we sought to: explore its technical and scientific background, highlighting the changes and continuities of different features of the instrument and its techniques, especially from the perspective of the history of science; analyze its arrival in Brazil through its use on the Brazil-Argentina border; investigate the construction and the musealization of the phototheodolite as scientific heritage present in the collection of the Museum of Astronomy and Related Sciences (MAST). Developed in France in the mid-nineteenth century, this instrument melded the geodetic technique of angular measurement of the theodolites with the newly developed technique of photography. In Brazil, two of these instruments were imported by the Republican government in the late nineteenth century to take part in the instrumental collection destined to the solution of Brazilian cartographic problems, such as the unresolved borderline issue with Argentina. The Commission for the Demarcation of Limits between Brazil and Argentina (1900-1905) chose this instrument because of the possibility of overcoming topographical obstacles, as in Iguaçu Falls, hardly solved with conventional methods; and by the presence of the astronomer Henrique Morize of the Astronomical Observatory, which mastered both the necessary handling techniques. Finally, after becoming obsolete due to technical innovation the phototheodolite was musealized by MAST in the exhibition “Photography: Science and Art” in 2012. This scientific instrument’s “biography”, from its construction to the current exhibition, allows a broader understanding of the history of Brazilian scientific heritage.Keywords: Brazil-Argentina border, scientific instruments, Henrique Morize.O presente trabalho investigou o papel histórico do fototeodolito e seus diálogos entre a técnica, os usuários e resultados obtidos a partir do uso desse instrumento. Dessa maneira buscamos: abordar seu passado técnico-científico, destacando, do ponto de vista da história da ciência, as permanências e as descontinuidades de diferentes aspectos do instrumento e suas técnicas; analisar sua chegada ao Brasil através do estudo de caso de seu uso na fronteira entre Brasil e Argentina; e, por fim, investigar a construção e a musealização do fototeodolito como patrimônio científico presente no acervo do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Desenvolvido na França em meados do século XIX, esse instrumento mesclava a técnica geodésica de cálculos angulares dos teodolitos com a recém-desenvolvida técnica da fotografia. No Brasil, dois desses instrumentos foram importados pelo governo republicano no fim do século XIX para compor parte do acervo instrumental destinado à solução dos problemas cartográficos brasileiros, como a questão limítrofe ainda não resolvida com a Argentina. A escolha desse instrumento, para ser utilizado pela Comissão Demarcadora de Limites entre Brasil e Argentina (1900-1905), esteve vinculada à presença do astrônomo do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, Henrique Morize, que dominava ambas as técnicas necessárias para o manuseio, e à possibilidade de superar obstáculos topográficos, como em Foz do Iguaçú, dificilmente resolvidos com os métodos convencionais. Por fim, após tornar-se obsoleto frente às inovações técnicas, o fototeodolito foi musealizado pelo MAST, na Exposição “Fotografia: Ciência e Arte” em 2012. A reconstrução da “biografia” desse instrumento, de sua construção até a exposição atual, permite uma compreensão mais ampla sobre a história do patrimônio científico brasileiro.Palavras-chave: fronteira Brasil-Argentina, instrumentos científicos, Henrique Morize
O desenvolvimento do Fototeodolito e seu uso na fronteira entre Brasil e Argentina
This paper discusses the historical role of the phototheodolite and its interchange between technique, its users and the results obtained. Thus we sought to: explore its technical and scientific background, highlighting the changes and continuities of different features of the instrument and its techniques, especially from the perspective of the history of science; analyze its arrival in Brazil through its use on the Brazil-Argentina border; investigate the construction and the musealization of the phototheodolite as scientific heritage present in the collection of the Museum of Astronomy and Related Sciences (MAST). Developed in France in the mid-nineteenth century, this instrument melded the geodetic technique of angular measurement of the theodolites with the newly developed technique of photography. In Brazil, two of these instruments were imported by the Republican government in the late nineteenth century to take part in the instrumental collection destined to the solution of Brazilian cartographic problems, such as the unresolved borderline issue with Argentina. The Commission for the Demarcation of Limits between Brazil and Argentina (1900-1905) chose this instrument because of the possibility of overcoming topographical obstacles, as in Iguaçu Falls, hardly solved with conventional methods; and by the presence of the astronomer Henrique Morize of the Astronomical Observatory, which mastered both the necessary handling techniques. Finally, after becoming obsolete due to technical innovation the phototheodolite was musealized by MAST in the exhibition “Photography: Science and Art” in 2012. This scientific instrument’s “biography”, from its construction to the current exhibition, allows a broader understanding of the history of Brazilian scientific heritage.Keywords: Brazil-Argentina border, scientific instruments, Henrique Morize.O presente trabalho investigou o papel histórico do fototeodolito e seus diálogos entre a técnica, os usuários e resultados obtidos a partir do uso desse instrumento. Dessa maneira buscamos: abordar seu passado técnico-científico, destacando, do ponto de vista da história da ciência, as permanências e as descontinuidades de diferentes aspectos do instrumento e suas técnicas; analisar sua chegada ao Brasil através do estudo de caso de seu uso na fronteira entre Brasil e Argentina; e, por fim, investigar a construção e a musealização do fototeodolito como patrimônio científico presente no acervo do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Desenvolvido na França em meados do século XIX, esse instrumento mesclava a técnica geodésica de cálculos angulares dos teodolitos com a recém-desenvolvida técnica da fotografia. No Brasil, dois desses instrumentos foram importados pelo governo republicano no fim do século XIX para compor parte do acervo instrumental destinado à solução dos problemas cartográficos brasileiros, como a questão limítrofe ainda não resolvida com a Argentina. A escolha desse instrumento, para ser utilizado pela Comissão Demarcadora de Limites entre Brasil e Argentina (1900-1905), esteve vinculada à presença do astrônomo do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, Henrique Morize, que dominava ambas as técnicas necessárias para o manuseio, e à possibilidade de superar obstáculos topográficos, como em Foz do Iguaçú, dificilmente resolvidos com os métodos convencionais. Por fim, após tornar-se obsoleto frente às inovações técnicas, o fototeodolito foi musealizado pelo MAST, na Exposição “Fotografia: Ciência e Arte” em 2012. A reconstrução da “biografia” desse instrumento, de sua construção até a exposição atual, permite uma compreensão mais ampla sobre a história do patrimônio científico brasileiro.Palavras-chave: fronteira Brasil-Argentina, instrumentos científicos, Henrique Morize
A Carta do Brazil do Estado Maior do Exército (1901)
Uma introdução O objetivo deste artigo é apresentar A Carta do Brazil: projecto elaborado no Estado Maior do Exército de 1901. Esse documento nos interessa, pois evidencia a relação entre Cartografia e Astronomia na passagem do século XIX para o XX. Mesmo não tendo sido implementado, este projeto é uma fonte rica que nos fornece indícios sobre as tensões e disputas relativas aos agentes envolvidos na produção cartográfica daquele momento. O documento, publicado na forma de livro pela Imprensa..
Astronomia no Império brasileiro: longitude, congresso internacional e a busca por uma ciência universal no final do século XIX
Resumo Não há uma visão clara na historiografia internacional sobre a participação do Brasil na Conferência de Washington de 1884. No Brasil há uma interpretação de que o voto brasileiro acompanhou a França, por razões de subordinação. Este texto pretende estabelecer um diálogo com essas produções, ao trazer fontes inéditas sobre o tema, como as cartas trocadas por Luiz Cruls, tanto com o imperador como com sua esposa, bem como notícias de periódicos, anais e relatórios. Neste artigo foi utilizada uma abordagem da história da ciência, preocupada com os processos de institucionalização da astronomia no Brasil em meio a um debate mundial sobre padronização e universalização da ciência