216 research outputs found

    Nominata 2019

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    A crucificação de Jesus no quadro das violências do Mundo Antigo

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    Este artigo estuda a crucificação dentro do contexto de violência do Mundo Antigo. Em face da crucificação de Jesus, o personagem que trouxe a imagem da cruz para o Ocidente, lugar em que o cristianismo se difundiu, a principal questão estudada é: “Em qual contexto a crucificação pode ser enquadrada?” Deve ser vista como um ato isolado, no qual Deus sacrificou seu Filho? Ou, pelo contrário, a crucificação foi a principal forma de matar violentamente no Mundo Antigo, eleita pelos romanos como propaganda de terror de Estado e de advertência contra criminosos? Os pontos estudados são: 1) a origem da crucificação; 2) os vocábulos referentes à crucificação; 3) os flagelos como parte da crucificação; 4) o titulus crucis; 5) a crucificação como forma violenta de matar; 6) a crucificação como entretenimento; 7) a crucificação como morte aviltante. Os principais resultados são: a crucificação era uma forma comum de matar no Mundo Antigo, e foi a eleita pelos romanos como advertência aos criminosos; fazia parte do processo de crucificação os flagelos; compunha o quadro da crucificação um título contendo o crime do infrator afixado na cruz ou no condenado; a crucificação tornou-se tão comum que chegou a ser encenada nos teatros antigos; e, por fim, a crucificação era uma morte repugnante e ignominiosa, cujo principal alvo era exterminar os cadáveres e, depois, a exposição do corpo crucificado servia de advertência à população, como propaganda de terror e violência de Estado. A crucificação, ao invés do que se pensa hoje, não tinha o objetivo precípuo de matar, mas de exterminar o cadáver. O crucificado não era retirado da cruz, e seu corpo ficaria ali, pendurado, até apodrecer e despencar da trave, sendo devorado por abutres e animais selvagens, negando-se, assim, ao crucificado, o sepultamento. A crucificação poderia ser de vivos ou de mortos

    Uma nova abordagem para a mística

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    O termo mística é portador de uma vasta polissemia, e tem sido objeto de muitos embates entre essencialistas e contextualistas. A partir de uma pesquisa bibliográfica nos trabalhos de William James, Steven Katz, Ermanno Ancilli, Edward Schillebeeckx e Michael Polanyi apresentamos uma nova abordagem metodológica para o seu estudo, que de certa forma poderia arrefecer estas discussões. Assim, cunhamos o termo “realidade periestésica” para tratar do transcendente com o devido agnosticismo metodológico e a partir conceito computacional “dividir para conquistar” propomos a divisão da mística, seja ela religiosa ou não, em camadas que permitiria um estudo distanciado em diversas tradições

    desafio da centralidade humana hoje à luz do pensamento de Fabrice Hadjadj e do ensino social católico

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    O presente trabalho objetiva apresentar panoramicamente a reflexão desenvolvida por Fabrice Hadjadj em seu texto/conferência “Recolocar o homem no centro: desafio antropológico”, colocando-o em diálogo com outras fontes da teologia católica e da Doutrina Social da Igreja no que tange ao tema da antropologia teológica e seus desafios contemporâneos, especialmente em relação à questão econômica. A pesquisa desenvolvida foi de natureza bibliográfica e de viés básico/teórico, tendo como problema central a necessidade de compreender as possíveis imbricações entre a reflexão feita por Hadjadj e o magistério social católico, com vistas a compreender em que medida tal ensino da Igreja ainda tem validade atualmente. Como resultado de investigação, percebemos que há convergência entre a teologia latente presente no texto de Hadjadj e a clarividente antropologia teológica expressa na Doutrina Social da Igreja, oportunizando-nos o reconhecimento da validade perene de tal ensinamento doutrinal nos dias hoje para a promoção da autêntica dignidade humana em uma sociedade que enfrenta sérias dificuldades e entraves socioeconômicos. Do ponto de vista didático, optamos por seguir uma subdivisão temática semelhante às seções originais do texto de Hadjadj, a fim de que a correspondência com sua própria reflexão fique mais evidente ao longo das discussões que aqui propomos. Contudo, ao final, permitimo-nos também acrescentar seções e ampliar reflexões, mas a ampliação aqui proposta é feita de forma conectada com o nosso referencial teórico primário

    O “Resgatador do Sangue” em Nm 35

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    Este artigo propõe sintetizar os resultados da análise exegética de Nm 35, por meio do método histórico-crítico-literário. Objetiva, também, oferecer outras traduções e interpretações de Nm 35,25 à luz dos textos que descrevem as práticas legais de compra e venda no Antigo Oriente e dos ritos de libertação de escravos. Após essa análise, veremos o comentário talmúdico de Lévinas intitulado “Les villes-refuges”, como uma forma de atualizar as “cidades-refúgio” e a função do “resgatador do sangue”, tendo como pressuposto a realidade de nossas cidades, que muitas vezes são marcadas pela indiferença diante das injustiças e da opressão de inúmeras pessoas

    Como seguir a Jesus: análise exegética de Marcos 8,34 – 9,1

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    O convite ao discipulado é um elemento fundamental na caminhada cristã. A perícope analisada se dá no contexto do caminho de Jerusalém; já a caminho da cruz. Trata-se de um relato de vocação, que se constituem por narrativas breves, com uma finalidade paradigmática, neste caso, apresentar o modelo de comportamento a ser seguido. O texto quer pintar o quadro de uma cosmovisão que objetiva exortar aos leitores a assumir um comportamento bem definido. Seguir a Jesus significava uma negação radical de si mesmo. O discípulo deve “carregar a sua cruz”. E isso implica ter plena comunhão com o próprio destino de Jesus: perseguição, sofrimento e morte. Aqueles que suportam os sofrimentos vinculados ao seguimento de Jesus, são objetos de promessas da parte do Mestre. Em Marcos, a expressão tomar (= portar) a própria cruz é uma representação metafórica da disposição ao martírio e do espírito de abnegação que devem distinguir os seguidores de Cristo. Jesus chama de forma imperativa a multidão e aos seus discípulos. Aqueles que “querem” seguir a Jesus devem cumprir duas condições: negar-se a si mesmo, e tomar a sua cruz. Implica na aceitação da disposição de morrer por causa do seguimento, e se refere a todas as perseguições e tribulações que os discípulos podem experimentar durante o projeto do discipulado

    Ó Deus, não permaneças em silêncio! (Sl 83,2a)

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    O saltério põe nos lábios de quem os reza palavras que expressam os mais vívidos sentimentos humanos: sofrimento, júbilo, indignação, pedido por justiça diante dos adversários, dentre outros. Particularmente com relação aos inimigos ou adversários, a tradição do saltério conservou o elemento literário-teológico da imprecação. Alguns Salmos são totalmente imprecatórios e outros possuem apenas versículos ou partes imprecatórias. A Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II reconheceu a dificuldade psicológica, não teológica, que a imprecação pode causar em quem reza tais salmos sem a devida formação teológica, por isso essas partes e alguns salmos inteiros foram retirados da Liturgia das Horas. Considerou-se que tais orações poderiam supor a legitimação, ainda que apenas em nível do desejo, da violência contra os adversários. O presente artigo tem como objetivo apresentar uma visão acerca do sentido teológico da imprecação, tanto na Escritura quanto na própria existência humana. Em seu centro é feita uma breve análise literário-teológica do Sl 83, dando destaque para o modo como o salmo relaciona a imprecação com a possibilidade de conversão dos inimigos. O desejo expresso pelo Salmo ganha um tom de positividade nos vv. 17 e 19, onde se espera que o juízo divino possa despertar a conversão daqueles que a Ele se opõem. Conclui-se que tal modo de ler o Salmo torna-o perfeitamente coadunável com a perspectiva neotestamentária, segundo a qual Deus também há de fazer justiça aos que se opõem ao seu projeto salvífico. Ainda que tal não se possa ver em plenitude no desenrolar da história, se verá sem dúvida na escatologia

    poder do silêncio nos Cantos do servo e na escravidão do Brasil

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    O artigo desenvolve, em duas partes, o silenciamento de pessoas escravizadas no exílio babilônico e no Brasil colonial. Mostra como esse silêncio se torna poderoso, em forma de resistência, de luta por direito e justiça e por mudança da realidade. Na primeira parte, são selecionados quatro versos relativos ao silenciamento da palavra, um em cada canto do servo sofredor (Is 42,2; 49,4; 50,4; 52,15). Na segunda parte, são analisados aspectos semelhantes, com relação à escravidão africana no Brasil, tais como cantos de esperança, manifestações religiosas e tradições culturais. Com essa exposição, objetiva-se demonstrar como o silenciamento das pessoas oprimidas pela escravidão pode inverter-se como força transformadora, através da fé em divindades libertadoras. O método utilizado é bibliográfico, priorizando literatura brasileira. Espera-se, como resultado, reforçar teses e ações em vista da superação de situações de exílio e escravidão

    A leitura girardiana do endemoninhado geraseno

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    O fator violência é uma obscura constante antropológica. Ele se manifesta sob diversas tipologias, com múltiplos matizes e valendo-se de diversos mecanismos. René Girard constatou tal universalidade e intuiu uma presença ritualística naquilo que denomina o mecanismo do bode expiatório. A revelação judaico-cristã apresenta os efeitos nocivos desse círculo vicioso, que exige sempre um novo sacrifício para restabelecer o equilíbrio de uma coletividade, e o Novo Testamento propõe a superação desse mecanismo perverso, por meio da oferta que Jesus faz de si. As vítimas tornam-se proclamadores da boa nova sobre a violência superada. Nesse sentido, esta pesquisa apresentará a hermenêutica aplicada por Girard à perícope neotestamentária, comumente intitulada “O endemoninhado geraseno”, presente na tríplice tradição sinótica (Mc 5,1-20; Mt 8, 28-9,1a; Lc 8,26-39). O contraponto estabelecido, com o auxílio de alguns comentários exegéticos, tem por escopo trazer à luz as importantes contribuições desse estudioso, que se aventurou pela seara bíblica e favoreceu, com sua teoria, o diálogo e o mútuo enriquecimento entre exegese e antropologia

    O profetismo autêntico confronta as autoridades injustas

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    Em geral, os poderes civil e religioso constituídos estão em disputa pelo controle do povo. Quando se unem, na maioria das vezes, se tornam responsáveis por realizar ações nefastas e que abalam profundamente as estruturas sociais. Miqueias nos apresenta o ponto alto da exploração, da violência e da opressão do povo por parte de seus príncipes e chefes. Para isso, ele utiliza verbos que pertencem ao vocabulário da opressão social do Antigo Testamento, descrevendo o comportamento antissocial dos líderes bem como a natureza de seus crimes. Os frágeis e menos favorecidos são os que mais sofrem as consequências. Miqueias, como profeta e líder camponês, teria sido testemunha ocular da brutalidade política e religiosa que assolava o povo de Deus. A situação precária das vítimas da violência é a causa manifesta de que Deus assuma sua defesa e proteção. A presente reflexão, feita a partir de abordagens diacrônicas e sincrônicas, permite alcançar o sentido literal do texto e de entrever a atualidade da sua mensagem
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