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PERFIL DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM SANTA CATARINA
A violência contra a mulher e sua submissão às questões de gênero é considerada um fenômeno social de caráter progressivo que afeta todas as dimensões vitais (bio-psico-sociais) que integram a mulher (FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012). Expressões de violência ainda hoje se encontram presentes e arraigadas às culturas e gerações, apesar da existência de políticas públicas para o enfretamento dos casos de violência contra a mulher. Teve-se como objetivo descrever o perfil da violência contra a mulher no Estado de Santa Catarina. Utilizou-se pesquisa exploratória descritiva, desenvolvida a partir de dados secundários, revisão bibliográfica e legislação pertinente. No Brasil, entre 2001 e 2011 ocorreram cerca de 50 mil feminicídios provavelmente decorrentes de violência doméstica, já que aproximadamente um terço das mortes ocorreu em ambiente domiciliar (GARCIA; FREITAS; HÖFELMANN, 2013) e, de acordo com Cavalcanti et al. (2014), em 2011 no Brasil o tipo de violência mais prevalente foi a física (44,2% dos casos) seguida das violências moral (20%) e sexual (12,2%). Além disso, dados mostram que das 223.796 vítimas de violência notificadas no SINAN durante o ano 2014, 147.691 eram mulheres (WAISELFISZ, 2015). Os estudos de Garcia, Freitas e Höfelmann (2013) e de Waiselfisz (2015) apresentem Santa Catarina sendo o penúltimo lugar em homicídios de mulheres; no entanto, a pesquisa de Delviozo (2015) apresenta dados da Secretaria de Segurança Pública que colocam esse Estado como 2º lugar nas taxas de tentativas de estupro e em 5º lugar no ranking nacional de estupros com 44,3 casos por 100 mil mulheres. Dados mostram que no decorrer de 2013 aproximadamente 130 mil mulheres foram vítimas de violência em Santa Catarina, e que entre 2006 e 2013 houve um aumento de 12% dos homicídios de mulheres. Além disso, cerca de 48% dos atendimentos do SUS possuem relação com violência física, especialmente na mulher adolescente e adulta jovem (NÚMEROS..., 2015). Quanto à distribuição das denúncias percebe-se que as regiões mais prevalentes a Nordeste, Centro-Oeste e Norte, respectivamente. Entre os Estados, a distribuição dos feminicídios foi maior no Espírito Santo e na Bahia, e as menores taxas estavam em Santa Catarina e em São Paulo, respectivamente (GARCIA; FREITAS; HÖFELMANN, 2013). A violência acarreta perdas socioeconômicas para a sociedade e sobrecarrega a rede de serviços de saúde, na medida em que leva o indivíduo ao adoecimento, com comprometimento do bem-estar, da segurança e dos direitos humanos e, consequentemente, ao afastamento do trabalho (FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012). No Brasil, embora existam protocolos de segurança e legislação para a proteção da vítima, os casos ainda são prevalentes. O Estado de Santa Catarina, embora se apresente com as menores taxas de denúncias desse tipo de violência, está em destaque nos rankings em estupro no País. Conclui-se que é necessário pensar em políticas públicas nas quais o objeto de ação seja a prevenção desse agravo por meio da promoção do empoderamento feminino.Palavras-chave: Violência contra a mulher. Feminicídio. Santa Catarina
CESARIANA COMPULSÓRIA: AÇÃO JUSTIFICADA OU INSUFICIÊNCIA DE INFORMAÇÕES?
A Justiça do Rio Grande do Sul, por indicação médica, determinou que uma mulher de 29 anos, grávida de 42 semanas, fosse submetida à cesariana, contra sua vontade, mediante justificativa de risco de vida para o bebê e para a gestante. Mediante tal determinação, foram levantadas dúvidas na imprensa sobre se tratar de uma medida extrema em defesa da vida do feto ou um ato de desrespeito à autonomia da gestante. O presente estudo objetivou analisar a indicação de cesariana compulsória para a gestante em trabalho de parto complicado, tanto sob o aspecto ético quanto sob o legal. Foram buscadas as notícias e comentários sobre os fatos noticiados pela imprensa e interpretados à luz dos dispositivos éticos e legais. A gestante ACLG teve indicação de cesariana pela médica assistente, mas se negou terminantemente a consentir, alegando não ter sido informada sobre os riscos que ela e a criança corriam e por desejar uma segunda opinião médica. A médica, então, apelou ao Ministério Público sob a alegação de risco de asfixia para a criança durante o parto, já que estava em posição sentada. A liminar judicial para a realização compulsória do parto cirúrgico foi obtida e a cirurgia foi realizada contra a vontade da paciente. A imprensa fez os seguintes questionamentos: A indicação de cesárea era realmente necessária? Houve desrespeito à vontade da gestante? A justiça equivocou-se? De acordo com o artigo 31 do Código de Ética Médica de 2009 é vedado ao médico “Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte”, o que explicaria a ação da médica, embora o Princípio Fundamental XXI do mesmo Código recomenda que a escolha do paciente seja aceita, desde que ética e legalmente. Em qualquer caso é um dever do médico informar o paciente, segundo complementa o artigo 22. No âmbito jurídico, apesar de o artigo 15 do Código Civil (2002) defender que “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou à intervenção cirúrgica”, a Constituição Federal de 1988, por meio do artigo 227, defende como absoluta prioridade o direito à vida da criança, justificando-se a atitude da Justiça. Em conclusão, sob o aspecto ético, a paciente tinha o direito de receber as informações necessárias e participar da escolha do procedimento. Já do ponto de vista legal, embora não seja permitido o constrangimento à cirurgia, segundo o Código Civil, a defesa à vida da criança é direito constitucional soberano, justificando o tratamento compulsório. Contudo, questiona-se se a insuficiência de informações médicas sobre o procedimento e suas indicações não concorreu para a incomum resistência da mãe em aceitar a indicação.
CUIDADOS PALIATIVOS: AUTONOMIA E DIFICULDADES
A doença e a morte são temas-tabu (COELHO; FERREIRA, 2015). O envelhecimento da população aumentou a prevalência de doenças crônico-degenerativas e, com isso, surgiu a demanda por cuidados paliativos (AMORIM et al., 2014), sobretudo, em fim de vida. O fato de a formação médica ser baseada na preservação da vida (SILVA, 2015) dificulta a aceitação de tratamentos não curativos. Neste trabalho visou-se apontar os conflitos éticos envolvidos na aceitação dos cuidados paliativos pelos profissionais da saúde. Foi realizada uma pesquisa descritiva-exploratória por meio de revisão bibliográfica de artigos da base de dados Scielo e Revista Bioética. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2002), cuidado paliativo é a abordagem destinada a melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares em face de uma doença que põe em risco a continuidade da vida, mediante prevenção e alívio do sofrimento (CARVALHO; PARSONS, 2012). Os cuidados paliativos enfrentam a morte como um evento natural sem prolongá-la (CHAVES et al., 2011). Com a implantação desse conceito, criou-se uma lacuna na formação acadêmica (CARVALHO; PARSONS, 2012) e surgiu um desafio às equipes, pois na saúde considera-se a ausência de cura um fracasso (PAIVA; ALMEIDA JÚNIOR; DAMÁSIO, 2014). Por outro lado, apareceu um dilema ético: o paciente terminal é submetido ao paternalismo médico (CHAVES et al., 2011) e recebe intervenções para prorrogação de vida sem expressar sua autonomia (COELHO; FERREIRA, 2015). Conclui-se que o prolongamento da expectativa de vida foi acompanhado pelo aumento das doenças crônico-degenerativas e gerou a necessidade de promover mais conforto ao paciente em fim de vida. No entanto, a formação em saúde tende a considerar a cura sinônimo de sucesso terapêutico, dificultando a aceitação de que os cuidados paliativos sejam a opção de morte digna. Diante disso, é possível que o paciente acabe submetido a tratamentos fúteis para a prorrogação da vida, sem que possa expressar sua vontade.Palavras-chave: Cuidados paliativos. Ética médica. Morte
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO MUNICÍPIO DE CAPINZAL-SC
No Brasil, a população feminina ultrapassou 103 milhões de mulheres em 2014. Uma em cada cinco, considera já ter sofrido algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido. Objetivou-se analisar os casos de violência contra a mulher ocorridos no ano de 2014 no município de Capinzal. Metodologia: pesquisa retrospectiva, de natureza quanti-qualitativa. Os dados do período de janeiro a dezembro de 2014 foram coletados por meio de Boletins de Ocorrência (BO) da Delegacia de Polícia Civil de Capinzal após aprovação do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Unoesc. Resultado: No ano de 2014, Capinzal teve 340 casos de violência contra a mulher registrado na delegacia. Os meses de maior incidência foram janeiro (48 casos) e fevereiro (34 casos). A média foi de 28,33 casos mês. Com relação ao tipo de violência, a mais prevalente foi a Psicológica (54%); seguido da Física (22%); Moral (14%); Patrimonial (9%) e sexual (1%). Em 4% dos casos registrados houve associação de álcool, e em 2% dos casos drogas ilícitas por parte do agressor. Conclusões: o tipo de violência mais prevalente neste estudo foi a Psicológica, que muitas vezes está associada com outros tipos de violência, pois as diversas formas e tipos de violência de gênero ocorrem de maneira combinada. A violência contra a mulher é uma problema social, de ordenamento criminal e que deve ser combatido por uma sociedade civil organizada.Palavras-chave: Gênero. Violência contra a mulher. Saúde coletiva.
VIA DE PARTO: DIREITO DE ESCOLHA
O surgimento de novas normas e orientações para gestantes sobre a escolha da via de parto criou uma dicotomia: as usuárias do SUS ou de convênios tiveram sua autonomia limitada, já as pacientes particulares não. Neste trabalho, visou-se discutir o respeito à autonomia da gestante na escolha da via de parto e correlacioná-la com o fator econômico. Foi realizada uma pesquisa exploratória descritiva, por meio de revisão bibliográfica de artigos da base de dados Scielo, da Revista Bioética e da legislação pertinente. A autonomia é um princípio ético garantido pelo artigo 5º da Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos (UNESCO, 2006), o qual foi consubstanciado pelo artigo 31 do Código de Ética Médica, que veda ao médico desrespeitar o direito do paciente de “[...] decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas”, e robustecido pela Carta de Direitos dos Usuários da Saúde, a qual defende o direito de o paciente recusar procedimentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Ressalta-se, também, que a valorização da autonomia do paciente aumenta o sucesso na assistência à saúde (SOARES; CAMARGO JÚNIOR, 2007). A desigualdade na assistência é percebida desde o pré-natal, quando a gestante assistida pelo SUS é atendida por diversos profissionais de saúde e induzida ao parto vaginal, desde que não haja contraindicações, e no sistema privado, é acompanhada pelo mesmo médico e recebe maior aconselhamento pró-cesárea (DOMINGUES et al., 2014). Ressalva-se que a atitude paternalista do médico pode induzir ao procedimento que a gestante não deseja (BARCELLOS; SOUZA; MACHADO, 2009). Ademais, o número de gestações prévias e a experiência anterior de parto influem na decisão, embora, em relação à questão socioeconômica, observa-se que o aumento da renda diminui a opção por parto normal (FAISAL-CURY; MENEZES, 2006). Conclui-se que, nesse cenário, o médico tem o dever de orientar a gestante sobre as formas de parto, explicando riscos e benefícios, empoderando-a e permitindo que sua decisão seja individual.Palavras-chave: Autonomia. Via de parto. Bioética
O DESAFIO DIAGNÓSTICO DA OTOSSÍFILIS: RELATO DE CASO
A Otossífilis é uma complicação rara da infecção crônica pelo espiroqueta Treponema pallidum. O diagnóstico e o tratamento apresentam dificuldades e existem divergências na literatura. O objetivo neste trabalho foi expor um relato de caso e discutir essas particularidades por meio de prontuário médico e revisão de literatura. A paciente, do sexo feminino, 63 anos, procurou atendimento neurológico com quadros episódicos de vertigem há cerca de um ano. Em uso de prótese auditiva no ouvido direito há quatro anos em razão de hipoacusia e acufenos, com 15 anos de evolução. O exame otoneurológico demonstrou a presença de lesão neurossensorial unilateral à direita, de grau moderado, acompanhada de ausência de reflexos estapedianos ipsi e contralaterais, além de índices percentuais de reconhecimento de fala muito baixos e alterações vestibulares centrais no exame de vectoeletronistagmografia (prova optocinética assimétrica). Os exames sorológicos revelaram Anticorpos Totais Anti Treponema positivos e FTA-ABS reagente. A paciente relatou ser casada há 38 anos e que, um ano após o casamento, cursou com DST, contudo, não se recorda do diagnóstico e do tratamento na época. Passou a apresentar lesões cutâneas próximas à virilha, também sem diagnóstico específico na época. Solicitou-se, então, exame do líquor (citologia quantitativa e qualitativa e bioquímica, todos sem anormalidades, e pesquisa de VDRL e FTA-Abs negativos), bem como a tomografia e a ressonância magnética de crânio e ouvido interno, que não apresentaram alterações. Em discussão conjunta com o infectologista e o otorrinolaringologista, a paciente foi diagnosticada com sífilis latente tardia e tratada com Penicilina Benzatina 2.400.000 UI por semana, durante três semanas. O marido foi encaminhado ao urologista; visto que sua sorologia era também positiva para Lues, recebeu o mesmo esquema terapêutico. O diagnóstico da otossífilis depende de alto nível de suspeição e da correta solicitação e interpretação de exames sorológicos (BARROS et al., 2005). Ainda assim o diagnóstico costuma ser presuntivo (YIMTAE et al., 2007; CHOTMONGKOL et al., 2012) e pode ocorrer em qualquer fase da doença. Apesar de divergências na literatura, normalmente quando o líquor é normal, a doença não é classificada como sífilis terciária, e o tratamento pode ser feito com Penicilina Benzatina. Quando o líquor é anormal, o tratamento é feito com penicilina cristalina e corticoesteróides (DARMSTADT; HARRIS, 1989). A otossífilis deve ser sempre incluída como hipótese diagnóstica em pacientes com sinais de disfunção vestíbulo-coclear (hipoacusia, tinnitus, vertigem) sem causa aparente e testes sorológicos positivos para sífilis.Palavras-chave: Sífilis. Otossifilis. Hipoacusia neurosensorial
Um olhar sobre a população haitiana em Pato Branco
Introdução: Apesar de o Haiti ter sido o primeiro país latino-americano a se libertar da colonização hispânica, e consequentemente da escravidão que o assolava, o que se viu foi uma subservidão frente aos países mais desenvolvidos, o que dificultou seu crescimento e estabilização como nação, e ainda enfrenta o estigma de país mais pobre do continente latino-americano. O somatório entre baixo IDH (Índice Desenvolvimento Urbano), surto de cólera (2010) e desastres naturais (terremotos e furacões) culminou na imigração desse povo que começou a entrar no Brasil em 2010, quando formavam pequenos grupos que não somavam duas centenas de pessoas, e em 2013 esse número ultrapassou 20.000 pessoas. Objetivos: Identificar a população de haitianos instalados na Cidade de Pato Branco, PR; acolher a população de imigrantes; identificar dificuldades encontradas pelos imigrantes, demandas sociais e de saúde; e relacionar diferenças do acesso e uso do Sistema de Saúde Pública Brasileira e Haitiana. Materiais e Métodos: Estudo transversal sobre população de imigrantes haitianos residentes no Município de Pato Branco, realizado no período de março a outubro de 2016. O Estudo foi conduzido por meio de revisão bibliográfica de artigos científicos, visitas domiciliares e atendimentos no Centro de Saúde, aplicação de questionário quantitativo e qualitativo para 46 haitianos e realização de análise dos dados. Resultados: Foram entrevistados 46 haitianos, sendo 40 homens e seis mulheres, dois quais 32 são solteiros, 14 casados e um divorciado, e o tempo para chegar ao Brasil variou de um mês a um ano. A maioria apresentou idade economicamente ativa (de 20 a 44 anos). Os principais motivos para a imigração foram, em ordem de prioridade, procura de emprego, estudo, busca por uma vida melhor, ganhar dinheiro e seguridade social. No Haiti, a maioria exercia funções como estudantes, professores, motoristas e pedreiros e, aqui no Brasil, o emprego atual de quase a totalidade deles não tem relação com as atividades realizadas no país de origem. Em relação aos problemas de saúde, 30 imigrantes afirmaram ter algum problema, e os mais citados foram cefaleia, visual, hipertensão arterial sistêmica, amigdalite e lombalgia. Entre os medicamentos mais usados estão Paracetamol, Ibuprofeno, Enalapril e Metformina. Dos 46 entrevistados, 44 afirmavam já ter feito uso do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo o principal motivo do atendimento a solicitação de exames, e destes, 32 classificaram o serviço como bom, e os demais teceram críticas relacionadas à demora até o atendimento e ao médico não os ter examinados. Quanto às dificuldades encontradas no País, relatam principalmente emprego, aluguel, comunicação, racismo e custo de vida. Uma unanimidade entre todos os entrevistados é que aprender o idioma facilitaria a integração, e todos consideraram isso como fundamental, ao mesmo tempo em que reclamam da falta de cursos disponíveis. Conclusão: O trabalho permitiu a identificação de uma parte da população de origem haitiana na Cidade de Pato Branco, PR, e o conhecimento de suas aspirações e dificuldades, permitindo, quem sabe, uma maior integração desses imigrantes com a comunidade brasileira.Palavras-chave: Imigrantes. Haitianos. Saúd
PERFIL DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM SANTA CATARINA
A violência contra a mulher e sua submissão às questões de gênero é considerada um fenômeno social de caráter progressivo que afeta todas as dimensões vitais (bio-psico-sociais) que integram a mulher (FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012). Expressões de violência ainda hoje se encontram presentes e arraigadas às culturas e gerações, apesar da existência de políticas públicas para o enfretamento dos casos de violência contra a mulher. Teve-se como objetivo descrever o perfil da violência contra a mulher no Estado de Santa Catarina. Utilizou-se pesquisa exploratória descritiva, desenvolvida a partir de dados secundários, revisão bibliográfica e legislação pertinente. No Brasil, entre 2001 e 2011 ocorreram cerca de 50 mil feminicídios provavelmente decorrentes de violência doméstica, já que aproximadamente um terço das mortes ocorreu em ambiente domiciliar (GARCIA; FREITAS; HÖFELMANN, 2013) e, de acordo com Cavalcanti et al. (2014), em 2011 no Brasil o tipo de violência mais prevalente foi a física (44,2% dos casos) seguida das violências moral (20%) e sexual (12,2%). Além disso, dados mostram que das 223.796 vítimas de violência notificadas no SINAN durante o ano 2014, 147.691 eram mulheres (WAISELFISZ, 2015). Os estudos de Garcia, Freitas e Höfelmann (2013) e de Waiselfisz (2015) apresentem Santa Catarina sendo o penúltimo lugar em homicídios de mulheres; no entanto, a pesquisa de Delviozo (2015) apresenta dados da Secretaria de Segurança Pública que colocam esse Estado como 2º lugar nas taxas de tentativas de estupro e em 5º lugar no ranking nacional de estupros com 44,3 casos por 100 mil mulheres. Dados mostram que no decorrer de 2013 aproximadamente 130 mil mulheres foram vítimas de violência em Santa Catarina, e que entre 2006 e 2013 houve um aumento de 12% dos homicídios de mulheres. Além disso, cerca de 48% dos atendimentos do SUS possuem relação com violência física, especialmente na mulher adolescente e adulta jovem (NÚMEROS..., 2015). Quanto à distribuição das denúncias percebe-se que as regiões mais prevalentes a Nordeste, Centro-Oeste e Norte, respectivamente. Entre os Estados, a distribuição dos feminicídios foi maior no Espírito Santo e na Bahia, e as menores taxas estavam em Santa Catarina e em São Paulo, respectivamente (GARCIA; FREITAS; HÖFELMANN, 2013). A violência acarreta perdas socioeconômicas para a sociedade e sobrecarrega a rede de serviços de saúde, na medida em que leva o indivíduo ao adoecimento, com comprometimento do bem-estar, da segurança e dos direitos humanos e, consequentemente, ao afastamento do trabalho (FONSECA; RIBEIRO; LEAL, 2012). No Brasil, embora existam protocolos de segurança e legislação para a proteção da vítima, os casos ainda são prevalentes. O Estado de Santa Catarina, embora se apresente com as menores taxas de denúncias desse tipo de violência, está em destaque nos rankings em estupro no País. Conclui-se que é necessário pensar em políticas públicas nas quais o objeto de ação seja a prevenção desse agravo por meio da promoção do empoderamento feminino.Palavras-chave: Violência contra a mulher. Feminicídio. Santa Catarina
VIA DE PARTO: DIREITO DE ESCOLHA
O surgimento de novas normas e orientações para gestantes sobre a escolha da via de parto criou uma dicotomia: as usuárias do SUS ou de convênios tiveram sua autonomia limitada, já as pacientes particulares não. Neste trabalho, visou-se discutir o respeito à autonomia da gestante na escolha da via de parto e correlacioná-la com o fator econômico. Foi realizada uma pesquisa exploratória descritiva, por meio de revisão bibliográfica de artigos da base de dados Scielo, da Revista Bioética e da legislação pertinente. A autonomia é um princípio ético garantido pelo artigo 5º da Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos (UNESCO, 2006), o qual foi consubstanciado pelo artigo 31 do Código de Ética Médica, que veda ao médico desrespeitar o direito do paciente de “[...] decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas”, e robustecido pela Carta de Direitos dos Usuários da Saúde, a qual defende o direito de o paciente recusar procedimentos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Ressalta-se, também, que a valorização da autonomia do paciente aumenta o sucesso na assistência à saúde (SOARES; CAMARGO JÚNIOR, 2007). A desigualdade na assistência é percebida desde o pré-natal, quando a gestante assistida pelo SUS é atendida por diversos profissionais de saúde e induzida ao parto vaginal, desde que não haja contraindicações, e no sistema privado, é acompanhada pelo mesmo médico e recebe maior aconselhamento pró-cesárea (DOMINGUES et al., 2014). Ressalva-se que a atitude paternalista do médico pode induzir ao procedimento que a gestante não deseja (BARCELLOS; SOUZA; MACHADO, 2009). Ademais, o número de gestações prévias e a experiência anterior de parto influem na decisão, embora, em relação à questão socioeconômica, observa-se que o aumento da renda diminui a opção por parto normal (FAISAL-CURY; MENEZES, 2006). Conclui-se que, nesse cenário, o médico tem o dever de orientar a gestante sobre as formas de parto, explicando riscos e benefícios, empoderando-a e permitindo que sua decisão seja individual.Palavras-chave: Autonomia. Via de parto. Bioética
O DESAFIO DIAGNÓSTICO DA OTOSSÍFILIS: RELATO DE CASO
A Otossífilis é uma complicação rara da infecção crônica pelo espiroqueta Treponema pallidum. O diagnóstico e o tratamento apresentam dificuldades e existem divergências na literatura. O objetivo neste trabalho foi expor um relato de caso e discutir essas particularidades por meio de prontuário médico e revisão de literatura. A paciente, do sexo feminino, 63 anos, procurou atendimento neurológico com quadros episódicos de vertigem há cerca de um ano. Em uso de prótese auditiva no ouvido direito há quatro anos em razão de hipoacusia e acufenos, com 15 anos de evolução. O exame otoneurológico demonstrou a presença de lesão neurossensorial unilateral à direita, de grau moderado, acompanhada de ausência de reflexos estapedianos ipsi e contralaterais, além de índices percentuais de reconhecimento de fala muito baixos e alterações vestibulares centrais no exame de vectoeletronistagmografia (prova optocinética assimétrica). Os exames sorológicos revelaram Anticorpos Totais Anti Treponema positivos e FTA-ABS reagente. A paciente relatou ser casada há 38 anos e que, um ano após o casamento, cursou com DST, contudo, não se recorda do diagnóstico e do tratamento na época. Passou a apresentar lesões cutâneas próximas à virilha, também sem diagnóstico específico na época. Solicitou-se, então, exame do líquor (citologia quantitativa e qualitativa e bioquímica, todos sem anormalidades, e pesquisa de VDRL e FTA-Abs negativos), bem como a tomografia e a ressonância magnética de crânio e ouvido interno, que não apresentaram alterações. Em discussão conjunta com o infectologista e o otorrinolaringologista, a paciente foi diagnosticada com sífilis latente tardia e tratada com Penicilina Benzatina 2.400.000 UI por semana, durante três semanas. O marido foi encaminhado ao urologista; visto que sua sorologia era também positiva para Lues, recebeu o mesmo esquema terapêutico. O diagnóstico da otossífilis depende de alto nível de suspeição e da correta solicitação e interpretação de exames sorológicos (BARROS et al., 2005). Ainda assim o diagnóstico costuma ser presuntivo (YIMTAE et al., 2007; CHOTMONGKOL et al., 2012) e pode ocorrer em qualquer fase da doença. Apesar de divergências na literatura, normalmente quando o líquor é normal, a doença não é classificada como sífilis terciária, e o tratamento pode ser feito com Penicilina Benzatina. Quando o líquor é anormal, o tratamento é feito com penicilina cristalina e corticoesteróides (DARMSTADT; HARRIS, 1989). A otossífilis deve ser sempre incluída como hipótese diagnóstica em pacientes com sinais de disfunção vestíbulo-coclear (hipoacusia, tinnitus, vertigem) sem causa aparente e testes sorológicos positivos para sífilis.Palavras-chave: Sífilis. Otossifilis. Hipoacusia neurosensorial