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AlĂ©m da legitimidade : as condiçÔes da estabilidade do corpo polĂtico frente Ă ameaça das emoçÔes disruptivas
A relação entre a distribuição de bens e a estabilidade em uma sociedade Ă© um tema recorrente na teoria polĂtica. John Rawls, como muitos antes dele, assume corretamente que uma distribuição equitativa de bens primĂĄrios estĂĄ no centro de uma sociedade legĂtima e estĂĄvel. Ele propĂ”e uma distribuição equitativa em termos liberais, respeitando o pluralismo. Rawls falha, entretanto, em discutir emoçÔes disruptivas conectadas Ă distribuição: inveja e ciĂșme. Ele reivindica que os cidadĂŁos em uma sociedade guiada pelos princĂpios de justiça, uma sociedade bem ordenada, nĂŁo terĂŁo razĂ”es para sentir essas emoçÔes. Seu engano estĂĄ em pensar que, em nome da neutralidade, essas emoçÔes nĂŁo deveriam concernir diretamente as instituiçÔes polĂticas. As pessoas, entretanto, podem sentir inveja e ciĂșme mesmo quando a propriedade Ă© bem distribuĂda, tornando a sociedade instĂĄvel. Seres humanos nunca param de ser ambiciosos e, dado sua pouca capacidade de julgamento sobre o que merecem, seu sentimento pode se tornar um problema polĂtico. O objetivo do artigo Ă© mostrar que essa lacuna previne o liberalismo polĂtico de Rawls de atingir seu fim. Valorizar o pluralismo significa nĂŁo apenas celebrar a liberdade, mas tambĂ©m impedir que ela emerja como intolerĂąncia. Pluralismo e liberdade verdadeira, por exemplo, sĂŁo enfraquecidos pelo discurso que advoga alguma intolerĂąncia religiosa. Portanto, se o liberalismo deseja verdadeiramente promover a liberdade, ele precisa tratar de forma sĂ©ria a questĂŁo do desacordo moral e polĂtico. Thomas Hobbes nĂŁo era um liberal; ele era, entretanto, um filĂłsofo polĂtico profundamente interessado em como superar o desacordo. A solução de Hobbes, a educação civil dos cidadĂŁos, nĂŁo envolve o aprimoramento moral das pessoas. Hobbes justifica a educação civil em termos polĂticos e em uma estrutura de consentimento, na qual a liberdade Ă© limitada com intuito de aprofundar a liberdade â um argumento discutido no artigo e que Ă© de interesse dos liberais contemporĂąneos, especialmente John Rawls. A teoria do poder polĂtica de Thomas Hobbes Ă© mais completa e consistente do que normalmente pensada. A chave para resolver algumas das supostas inconsistĂȘncias estĂĄ na percepção de que Hobbes, na verdade, conta com duas concepçÔes distintas de poder que frequente estĂŁo fundidas em uma expressĂŁo em InglĂȘs: âpoder.â A versĂŁo latina do LeviatĂŁ nos permite ver esses tipos distintos de poder no vocabulĂĄrio hobbesiano, pois lĂĄ ele se utiliza de dois termos: potentia e potestas. Potentia Ă© o meio que alguĂ©m possui para um bem aparente â um poder real, de facto. Para Hobbes, potentia Ă© um poder relativo a cada indivĂduo e depende de âsinaisâ de poder para se manter. Por ser um poder relativo, a potentia Ă© tambĂ©m instĂĄvel: alguĂ©m pode ser poderoso apenas se outros possuĂrem menos poder e, portanto, haverĂĄ competição constante por sinais de poder. Em contraste, potestas Ă© um poder normativo com ums obrigação equivalente e Ă© constituĂdo quando os sĂșditos renunciam ao seu direito natural, isto Ă©, Ă sua liberdade de usar sua potentia. Ă tambĂ©m um poder absoluto, diferentemente da potentia, que Ă© poder relativo. Potestas Ă© um poder supremos que nĂŁo depende do reconhecimento de outros. Ă possĂvel pensar que, quando a RepĂșblica instituĂda, a potestas absoluta e de iure substitui a potentia relativa, de facto. Para Hobbes, elas sĂŁo, contudo, complementares. O poder para gerar obrigaçÔes e comandos nĂŁo Ă© suficiente para manter a integridade da RepĂșblica: a potentia Ă© tambĂ©m necessĂĄria. Isso levanta algo como uma encruzilhada: como pode o poder da RepĂșblica ser estĂĄvel se ele nĂŁo Ă© apenas absoluto (potestas), mas tambĂ©m relativo (potentia)? Naquilo que concerne a potentia, os sinais de poder do Estado sĂŁo as imagens polĂticas que ele propaga sobre si, que sĂŁo poderosas apenas atĂ© o ponto que seus sĂșditos as veem com tal. Portanto, a potestas da RepĂșblica pode ser mantida apenas se ela possui tambĂ©m potenta: uma RepĂșblica Ă© tĂŁo grande quanto seus sĂșditos acreditam que ela seja.The relationship between distribution of goods and stability in a society is a recurrent theme in political theory. John Rawls, as did many others before him correctly assumes that a fair distribution of primary goods is at the core of a legitimate and stable society. He proposes a fair distribution in liberal terms, respecting pluralism. Rawls fails, however, to address politically disruptive emotions connected to distribution: envy and jealousy. He claims that citizens in a society guided by his principles of justice, a well-ordered society, will have no reason to feel these emotions. His mistake is in thinking that, in the name of neutrality, these emotions should not directly concern political institutions. People, however, may feel envious or jealous of others even when property is well distributed, making society unstable. Human beings never stop being ambitious and, given their poor judgment of what they deserve, their sentiment may become a political problem. My objective in this article is to show how this gap hinders Rawlsâs political liberalism from achieving its ends. Valuing pluralism means not only cherishing freedom, but also preventing the last from emerging as intolerance. Pluralism and actual freedom are undermined, for instance, by speech advocating religious intolerance. Thus if liberalism wishes to truly promote freedom, it needs to seriously address the issue of moral and political disagreement. Thomas Hobbes was not a liberal himself; he was, however, a political philosopher deeply interested in how to overcome disagreement. Hobbesâs solution, civil educating citizens, does not involve improving people morally. Hobbes justifies civil education in political terms and within a framework of consent, where freedom is limited in order to further freedom â an argument discussed in the article which is of interest to contemporary liberals, especially John Rawls. Thomas Hobbesâs theory of political power is more complete and consistent than is normally thought. The key to resolving some of the supposed inconsistencies in Hobbesâs theory of power lies in noticing that Hobbes actually relies on two distinct conceptions of power that are often conflated in one English expression, âpower.â The Latin version of the Leviathan enables us to see these distinct types of power in the Hobbesian vocabulary, because there he uses two expressions: potentia and potestas. Potentia is the means one has to an apparent good â an actual, de facto power. For Hobbes, potentia is a relative power: it is relative to each individual, and depends upon âsignsâ of power to maintain itself. Because it is a relative power, it is also unstable: one may be powerful only if others are less powerful, and thus there will be constant competition for signs of power. In contrast, potestas is a normative power with an equivalent obligation, and it is constituted when subjects renounce their natural right, that is, their liberty to use their potentia. It is also an absolute power, unlike potentia, which is a relative power. Potestas is a supreme power that does not depend on its acknowledgment by others. One might think that when the commonwealth is instituted, absolute, de jure potestas completely replaces relative, de facto potentia. To Hobbes, they are however complimentary. The power to generate obligations and commands is not sufficient to maintain the integrity of a commonwealth: it also requires potentia. This raises somewhat of a conundrum: how can a commonwealth be stable if its power is not just absolute (potestas), but also relative (potentia)? In what regards potentia, its signs of power are the political images it propagates about itself, which are powerful only to the extent which its subjects see those images of power as equivalent to power itself. Thus, the potestas of the commonwealth can be maintained only if it also has potentia: a commonwealth is only as great as its subjects believe it to be
The problem of envy in ideal and nonideal theory
In recent years, scholars have explored the potential of John Rawlsâs concept of excusable envy as a source of motivation for building fairer societies. However, I argue that these scholars overlook Rawlsâs conceptual account of envy and the distinction between ideal and nonideal theory in A Theory of Justice. Consequently, they unintentionally rely on a thesis that Rawls aimed to distance his theory from: the notion that equality is a product of envy. Additionally, I engage with critics of Rawls who claim that his treatment of the problem of envy is inadequate. They assert that the least advantaged individuals often assess their societal position based on merit rather than legitimate expectations, which can lead to envy and destabilize a well-ordered society. I assert that while this criticism cannot impact Rawlsâs ideal theory, it offers an unintended contribution to nonideal theory. To enrich this perspective, I briefly consider the psychology not only of the least advantaged but also of the most advantaged members of society. By delving into this matter, I aim to illuminate the ongoing theoretical debate and provide insights into the ways we can transition to a more just society
As faculdades humanas e a polĂtica em Hobbes
Essa dissertação Ă© composta de trĂȘs artigos independentes, que podem ser lidos separadamente sem prejuĂzo Ă compreensĂŁo de cada um deles. Juntos, contudo, eles compartilham o atributo de fornecer um panorama sobre as faculdades humanas relativas Ă s paixĂ”es, Ă prudĂȘncia e Ă razĂŁo e de mostrar a relação dessas faculdades com o argumento de Hobbes sobre a necessidade da busca da paz e da constituição do Estado. No primeiro artigo, tratarei das causas das paixĂ”es, relacionando-as aos movimentos do corpo e tambĂ©m comentarei uma paixĂŁo especĂfica: o desejo por poder, mostrando a relação desse desejo com a glĂłria. O objetivo do artigo Ă© mostrar que a compreensĂŁo da dinĂąmica que envolve o desejo de poder e a glĂłria Ă© importante para entender as causas da guerra de todos contra todos e tambĂ©m como Ă© possĂvel, para o soberano, lidar com essa dinĂąmica no Estado, garantindo que a paz seja mantida. No segundo artigo, buscarei mostrar que a faculdade que todos os indivĂduos possuem para raciocinar e que Ă© essencial para eles, a prudĂȘncia, pode interferir negativamente na busca pela paz. Como a prudĂȘncia Ă© desenvolvida pela observação de experiĂȘncias passadas, por meio dela Ă© impossĂvel obter certeza, fazendo com que os indivĂduos desenvolvam muitas opiniĂ”es incorretas. AlĂ©m disso, por meio da prudĂȘncia nĂŁo Ă© possĂvel descobrir as leis de natureza, essenciais para a paz. As leis de natureza sĂł podem ser descobertas pela faculdade discutida no Ășltimo artigo: a razĂŁo. A razĂŁo, contudo, nĂŁo Ă© apresentada como natural aos indivĂduos no Leviathan, sendo necessĂĄrio que eles a adquiram por meio da indĂșstria. Nesse artigo, tratarei da relação do mĂ©todo utilizado pela razĂŁo com a linguagem. AlĂ©m disso, tentarei expor como se dĂĄ a derivação das leis de natureza a partir desse mĂ©todo. Por fim, discutirei a fonte de obrigatoriedade das leis de natureza, uma vez que o mĂ©todo proposto por Hobbes parece nĂŁo ser capaz de fornecer a normatividade que ele afirma que elas desfrutam.This thesis is compounded of three independent articles that can be read separately with no harm to understanding each one of them. Together however they share the attribute of providing a overview of the human faculties related to the passions, prudence and reason as well as showing the relationship between these faculties with Hobbesâs argument over the necessity to pursuit peace and to constitute a state. In the first article I will address the causes of passions linking them to the movements of the body. And I will also comment on a specific passion: the desire of power, showing its relation to glory. The articleâs aim is to show that understanding the dynamics surrounding desire of power and glory is important to understand the causes of the war of all against all and also how it is possible to the sovereign to deal with this dynamic in the state in order to assure peace is maintained. In the second article I aim to show that the faculty all individuals possess to ratiocinate and that is essential to them, prudence, may interfere negatively in the pursuit of peace As prudence is advanced by observing past experiences it is impossible to use it as a mean to obtain certainty, what results in individuals developing incorrect opinions. Besides by using prudence it is not possible to discover the laws of nature, necessary to peace. The laws of nature can only be discovered through the faculty discussed in the last article: reason. Reason however is not presented as natural capacity in the individuals in Leviathan, they must acquire it by industry. In this article, I will address the link between the method used by reason and language. Besides I will try to show how the derivation of the laws of nature starting from this method occurs. Finally I will discuss the laws of nature source of obligation once the method presented by Hobbes doesnât seem to be able to provide the normativity he asserts they enjoy
As paixĂ”es e a polĂtica em Hobbes : um estudo sobre o poder
Thomas Hobbes Ă© mais conhecido por sua obra polĂtica, mas era um filĂłsofo completo, tendo desenvolvido, por exemplo, uma teoria das paixĂ”es que influenciou suas concepçÔes polĂticas. Na primeira parte desta monografia estĂĄ caracterizada a teoria das paixĂ”es de Hobbes, ressaltando o desejo de potĂȘncia como paixĂŁo fundante e como proteção do movimento vital. AlĂ©m disso, estabelece-se a teoria das paixĂ”es de Hobbes como independente da teoria aristotĂ©lica apresentada na RetĂłrica, contrariamente ao afirmado por Leo Strauss, na obra The Political Philosophy of Hobbes. As teorias de ambos estĂŁo assentadas em fundamentos bem diferentes, nĂŁo havendo, por exemplo, em AristĂłteles, uma paixĂŁo fundante. A segunda parte do texto tem como objetivo identificar as relaçÔes entre a teoria hobbesiana das paixĂ”es e sua concepção de polĂtica. A obra polĂtica de Hobbes parece possuir como razĂŁo a busca e a manutenção da paz. Ă nesse contexto que sĂŁo tratadas as leis de natureza e que elas sĂŁo relacionadas com o desejo de potĂȘncia e com o direito de natureza. Por fim, a teoria do poder de Hobbes Ă© caracterizada a partir de seus fundamentos: o reconhecimento da potĂȘncia de um indivĂduo pelo outro e o nascimento do poder (potestas) a partir dessa relação.Thomas Hobbes is best known by his political work, but he was a complete philosopher, developing, for example, a theory of emotions that influenced his political conceptions. In the first part of this monography itâs characterized Hobbesâs theory of emotions, emphasizing the desire for power (potentia) as the foundational emotion and as the vital motionsâ main protection. Besides that, itâs established the independence of Hobbesâs theory of emotions in relation to the aristotelic theory, contrarily to the asserted by Strauss in The Political Philosophy of Hobbes. The theories are settled in different bases, there is no foundational emotion in Aristotleâs theory, for instance. The second part of the text aims the identification of the relations between Hobbesâs theory of emotion and his political conception. Hobbesâs political work seems to have the pursuit and the maintenance of peace as its reason. In this context the laws of nature are discussed and related to the desire for power (potentia) and to the right of nature. At last, Hobbesâs power theory is characterized out of its foundations: the recognition of an individualâs power (potentia) by other and the birth of power (potestas) from this relation
O FenÎmeno Histórico da Codificação
A codificação marcou profundamente o direito continental. Com a complexização da sociedade, principalmente com o nascimento da burguesia que queria positivar as liberdades, principalmente, econĂŽmicas que havia consagrado na prĂĄtica se tem inĂcio o processo que resultarĂĄ nos cĂłdigos modernos. A base ideolĂłgica desse processo encontra-se, principalmente, no jusnaturalismo, no jusracionalismo, no iluminismo, na idĂ©ia de soberania nacional e na afirmação dos direitos individuais. A unificação do direito em cada estado se deu pela unificação das fontes em uma principal: a estatal. JĂĄ a sistematização estava tĂŁo implĂcita no pensamento da Ă©poca que foi primeiramente aplicada e depois percebida como tal e teorizada, isso, no entanto se deu de forma diferente em cada estado
TEXTOS SELECIONADOS DE FILOSOFIA DA ECONOMIA
Translation into Portuguese of SEP entries on Philosophy of Economic
PrefĂĄcio
PrefĂĄcio ao Volume XI, NĂșmero 2, Ano 201
PrefĂĄcio
PrefĂĄcio ao Volume XI, NĂșmero 1, Ano 201
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