11 research outputs found
Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
O objetivo desta reflexão são os movimentos sociais que, em tempos recentes, se afirmaram na rua, em Portugal. Os últimos três ou quatro anos foram marcados por movimentos sociais de protesto, ancorados na indignação resultante de tensões sociais que se acumularam paulatinamente, fruto quer da crise financeira global, quer dos fenómenos inerentes às mudanças do mercado de trabalho, quer ainda das consequências da globalização. A classe média e os jovens foram os principais protagonistas destas vagas de contestação social, onde a afirmação da cidadania se fez ouvir para defender direitos suprimidos, para lutar contra o aumento das desigualdades sociais, da ineficácia das instituições e das políticas públicas, contra o desmoronamento do Estado Social, para dar voz ao descontentamento face aos partidos e à democracia representativa e para contestar a precarização laboral. Estes movimentos fizeram Portugal acordar para uma realidade diferente. A tradicional passividade e individualismo acrítico, deu lugar à contestação e à adesão aos movimentos de rua, onde se expressava a indignação pública contra o “estado das coisas”. Estes movimentos caracterizavam-se pela sua natureza difusa, ausência de orientação ideológica e forte presença nas, e das redes sociais. Na ausência de enquadramento político e de objetivos claros, estes movimentos guiavam-se mais por impulsos contestatários do que por uma orientação política definida. A este fato não é alheia a desconfiança inicial que geraram em termos de adesão, sobretudo daqueles que sempre se acostumaram a ver enquadrada politicamente a sua ação de protesto. No entanto, o espaço e interesse mediático que alcançaram, associados à indignação contra uma causa comum, fizerem destes movimentos uma expressão viva e máxima da democracia participativa. Os movimentos e ações contestatárias são uma consequência da democracia e quanto mais se democratiza um país, mais cidadãos haverá falando dos seus problemas em locais não tradicionais da política. A justificação para a forte adesão e participação dos vários setores da sociedade, nestes movimentos, deveu-se à sua mensagem clara, objetiva e transversal (classes sociais, grupos etárias e profissionais), que espelhava um desagrado comum a todos. Também a prática discursiva das mensagens políticas das manifestações contribuiu para o forte impacto das mesmas ao tornarem coletivo o individual, numa expressão conjunta de valores, ideais comuns ou apenas de indignações partilhadas (Alves, 2013). Nesta expressão de cidadania as mensagens contrastavam com o discurso político tradicional sempre pautado pela regularidade, previsibilidade e coerência discursiva. As temáticas dominantes dirigiam-se para as questões mais abrangentes da vida social e incluíam referências de natureza extra-política, através de um discurso direto e assertivo, ao qual ninguém ficava indiferente. No entanto para Estanque, “se ficou claro o desejo de defenderem a coesão e a justiça social, também ficaram latentes os sentimentos de insatisfação individual e de realização do sonho consumista por cumprir, ou que foi inesperadamente defraudado” (Estanque, 2014: 76)
A herança dos “mal-nascidos”: Dos filhos do passado aos filhos da ciência
Apresentam-se alguns dos resultados obtidos num estudo sobre o quotidiano de risco genético de cancro hereditário. Seguindo uma metodologia qualitativa, avaliou-se todo o trabalho de gestão individual desse risco, desde o momento do diagnóstico ao accionar dos mecanismos, estratégias e concepções que, quotidianamente, permitem dar sentido ao acontecido. A perspectiva analítica que é possível esboçar, a partir dos relatos individuais, no respeitante à representação social da doença, estrutura-se em torno do tempo que o cancro “rouba” e do tempo que o cancro hereditário “dá” e remete para a importância do clima de aceitação positiva do risco, expresso nos desejos individuais e colectivos de um futuro melhor garantido pela evolução científica e tecnológica. Frente ao risco genético de que os sujeitos são portadores e que escapa à sua lógica de controlo, a pressão é colocada sobre a ciência (genética) e a medicina, cujo poder e prestígio nunca são questionados.This paper presents some of the results of a study on the daily life of people at genetic risk for hereditary cancer. Following a qualitative methodology, this study assessed all the work of individual management of that risk, from the time of the diagnosis to the setting in motion of the mechanisms, strategies and conceptions that allow people to give meaning to what has happened. Based on individual reports, the analytic perspective regarding the social representation of the disease is structured around the time that cancer “takes away” and the time that hereditary cancer “gives”, and it points to the importance of an attitude of positive acceptance of the risk, expressed in both individual and collective hopes for a better future, which is guaranteed by scientific and technological evolution. The subjects that face a genetic risk that is beyond their control put pressure on science (genetics) and medicine, whose power and prestige are never questioned.Nous présenterons dans ce texte certains résultats obtenus par une étude sur le concret du risque génétique du cancer héréditaire. Suivant une méthodologie qualitative, tout le travail de la gestion individuelle de ce risque a été évalué, du moment du diagnostic jusqu’au déclenchement des mécanismes, des stratégies et des conceptions qui, quotidiennement, permettent de donner un sens à l’événement. Quant à la représentation sociale de la maladie, la perspective analytique qu’il est possible d’ébaucher à partir des rapports individuels se structure autour du temps que le cancer “vole” et du temps que le cancer héréditaire “donne”. Elle renvoie à l’importance de l’état d’acceptation positive du risque, exprimé dans les désirs individuels et collectifs d’un meilleur avenir garanti par l’évolution scientifique et technologique. Face au risque génétique dont les sujets sont porteurs et qui échappe à leur logique de contrôle, la pression est portée sur la science (génétique) et la médecine, dont le pouvoir et le prestige ne sont jamais mis en cause
Acesso aos Cuidados de Saúde: um direito em risco?. Relatório Primavera 2015
Em Portugal a saúde tem a dignidade de ser considerada
na Constituição da República (CR), no capítulo dos direitos e deveres sociais (Capítulo II).
Aí se afirma que “todos têm direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover” (CR, artº 64, nº 1), balanceando-se assim as responsabilidades do Estado,
através do dever de proteção, com as responsabilidades
individuais, através do dever de defender e promover a saúde.
O Estado assume o seu dever garantindo “o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica” (CR, artº 64, nº3, al. a).
O acesso aos cuidados de saúde constitui-se assim como a forma de o Estado garantir aos cidadãos o direito à saúde
As representações sociais nas sociedades em mudança
O volume reúne um conjunto de textos de autores consagrados no campo da psicologia social e neles o leitor encontrará alguns dos aprofundamentos mais recentes da teoria iniciada em 1961 por Serge Moscovici. “Dada sua variedade e abrangência intelectual, as conferências se debruçam sobre o marco conceitual e empírico da teoria das representações sociais, expressando não apenas aquilo que lhe é distinto enquanto abordagem psicossocial, mas também a produtividade de suas linhas de comunicação com as sociedades vivas. Surpreendentes e inspiradoras, estas vozes nos revelam o marco e a marca da teoria das representações sociais: a dinamicidade dos saberes sociais, sua diversidade interna, e, sobretudo, sua conexão profunda com as condições socioculturais dos lugares e tempos que lhes produzem. Para os que já conhecem e trabalham com a teoria, o livro oferece uma oportunidade única de escutar grandes mestres delineando e avançando seu arcabouço teórico e sua aplicação empírica. Para os que a encontrarão aqui pela primeira vez, será evidente a conexão entre representações sociais e sentido, o problema da significação e variabilidade da ordem simbólica, a importância dos saberes do cotidiano e do senso comum e a atenção empírica aos grandes problemas da contemporaneidade”
A herança dos “mal-nascidos”: Dos filhos do passado aos filhos da ciência
This paper presents some of the results of a study on the daily life of people at genetic risk for hereditary cancer. Following a qualitative methodology, this study assessed all the work of individual management of that risk, from the time of the diagnosis to the setting in motion of the mechanisms, strategies and conceptions that allow people to give meaning to what has happened. Based on individual reports, the analytic perspective regarding the social representation of the disease is structured around the time that cancer “takes away” and the time that hereditary cancer “gives”, and it points to the importance of an attitude of positive acceptance of the risk, expressed in both individual and collective hopes for a better future, which is guaranteed by scientific and technological evolution. The subjects that face a genetic risk that is beyond their control put pressure on science (genetics) and medicine, whose power and prestige are never questioned
EIT Health - Vida saudável e envelhecimento ativo Estratégia, Rumo e Plano para a EDUCAÇÃO
A KIC Health é um consórcio de mais de 50 parceiros principais (para além de 90 organizações associadas) de empresas líderes, centros de pesquisa e universidades de 9 países da UE, foi selecionado pelo Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) como a Comunidade de Inovação e Conhecimento (KIC - Knowledge and Innovation Community) para a Saúde. É uma das maiores iniciativas financiadas públicas de saúde em todo o mundo - volume total de 2,1 mil milhões de euros. Visa Promover o empreendedorismo e desenvolver inovações para uma vida saudável e envelhecimento ativo, dotar a Europa de novas oportunidades e recursos.
EIT Health permitirá aos cidadãos levar vidas saudáveis e mais produtivas, oferecendo produtos, serviços e conceitos que vão melhorar a qualidade de vida e contribuir para a sustentabilidade dos cuidados de saúde em toda a Europa. Tem três desafios específicos: Promover uma vida saudável; Apoiar o envelhecimento ativo; e Melhorar a saúde e três desafios transversais: Remover barreiras à inovação; Aproveitar talentos e educação; e Ativar tecnologias e exploração de Big Data. O financiamento é feito através das KCA - KIC Complementar Activities. Financiamento de atividades complementares (investigação, educação, etc.), que fornecem as base de conhecimentos e competências de apoio ao projeto KIC e das KAVA - KIC Added Value Activities. Permite definir o financiamento de cada projeto proposto
Comentário: da candura das questões à nocividade das conceções
Na sociedade atual cada vez se vive mais tempo e com mais saúde e no entanto os indivíduos nunca se preocuparam tanto com a saúde. Cada vez se fala mais de saúde, cada vez se reivindica mais saúde e cada vez se têm mais medos associados à saúde, medos esses alimentados pelas campanhas promovidas por organizações nacionais e internacionais de promoção da saúde. Nestas campanhas, em que a saúde é apresentada com um direito individual inalienável, persiste também a noção de que os estilos de vida atuais são, por definição, não saudáveis e também a principal causa das doenças que afligem a sociedade (cancro, diabetes, doenças cardiovasculares, demências).
O medo provocado e mantido pelas campanhas de promoção da saúde, encoraja o sentimento de responsabilidade individual pela saúde e pela doença, levando os indivíduos a comer saudavelmente, a praticar exercício físico, a deixar de fumar, a fazer checkups regulares, a tomar medicação preventiva. Estes medos, por sua vez, geram ansiedade, a adesão a novas regras e a um aumento da supervisão individual (Fitzptrick, 2001; Crawford, 2006).
A adesão individual a este programa de controlo social, transfigurado em promoção da saúde, é incondicional. Neste contexto, os governos e os grandes grupos financeiros e farmacêuticos fomentam e capitalizam o aumento da ansiedade individual e coletiva e vêm nela a oportunidade de introduzir um novo quadro normativo, dentro do qual os indivíduos se sintam confortáveis e adiram a novas regras, numa regulação contínua dos espaços e tempos individuais e sociais (Iriart, Franco e Merhy, 2011).
O sentimento de vulnerabilidade individual também nunca foi tão grande e as campanhas de saúde são a resposta, sempre bem-vinda, para sanar medos e ansiedades, de um público aparentemente informado e integrando os estratos mais elevados da sociedade – aqueles que consomem regularmente saúde. Para os outros, aqueles que não consomem regularmente saúde (só quando estão doentes) e cuja participação e acesso a bens e serviços é escassa, estas campanhas apenas configuram mais uma mudança das políticas de saúde, longe de qualquer preocupação com as suas reais necessidades
Representation of illness in Familial Amyloidotic Polyneuropathy Portuguese Association newspaper: A documental study
This study explores illness representations within Familial Amyloidotic Polyneuropathy Portuguese Association newspaper .A content analysis was performed of the issue data using provisional coding related to the conceptual framework of the study. All dimensions of illness representation in Leventhal’s Common Sense Model of illness cognitions and behaviors are present in the data and reflect the experience of living with this
disease. Understanding how a person living with an hereditary, rare, neurodegenerative illness is important for developing community nursing interventions. In conclusion, we suggest an integration of common sense knowledge with other approaches for designing an intervention program centered on people living with an hereditary neurodegenerative illness, such as familial amyloidotic polyneuropathy
Enfermagem Contemporânea. Dez Temas, Dez Debates II
Mensalmente, as Oficinas Temáticas promoveram um espaço de reflexão, discussão e partilha de saberes aberto aos diferentes atores da academia e da socieda-de/comunidade sobre a saúde na atualidade e incentivaram a produção de relatos, resultantes da discussão e reflexão, que agora são publicados e partilhados na comu-nidade virtual, através deste Ebook.
Os temas debatidos neste segundo ano foram mais uma vez aqueles que habitualmen-te não integram os programas curriculares da enfermagem, mas cuja centralidade marca as agendas da área clínica, da investigação e metodologia, do ensino e das polí-ticas de saúde, de que são exemplo as questões da dor em pediatria, o processo de aquisição de competências relacionais pelos estudantes de enfermagem no processo de cuidar do doente, as potencialidades da análise prospetiva para a Investigação em saúde, a gestão integrada da doença crónica, os desafios que os envelhecimento colo-ca aos sistemas de saúde, o trabalho em equipa e as controvérsias que o marcam, a gestão do conhecimento em saúde, a vulnerabilidade de género e intervenção em con-textos localizados, as questões metodológicas inerentes à história oral de vida e os dilemas dos pais face à obesidade dos filhos