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    Ó Deus, não permaneças em silêncio! (Sl 83,2a)

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    O saltério põe nos lábios de quem os reza palavras que expressam os mais vívidos sentimentos humanos: sofrimento, júbilo, indignação, pedido por justiça diante dos adversários, dentre outros. Particularmente com relação aos inimigos ou adversários, a tradição do saltério conservou o elemento literário-teológico da imprecação. Alguns Salmos são totalmente imprecatórios e outros possuem apenas versículos ou partes imprecatórias. A Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II reconheceu a dificuldade psicológica, não teológica, que a imprecação pode causar em quem reza tais salmos sem a devida formação teológica, por isso essas partes e alguns salmos inteiros foram retirados da Liturgia das Horas. Considerou-se que tais orações poderiam supor a legitimação, ainda que apenas em nível do desejo, da violência contra os adversários. O presente artigo tem como objetivo apresentar uma visão acerca do sentido teológico da imprecação, tanto na Escritura quanto na própria existência humana. Em seu centro é feita uma breve análise literário-teológica do Sl 83, dando destaque para o modo como o salmo relaciona a imprecação com a possibilidade de conversão dos inimigos. O desejo expresso pelo Salmo ganha um tom de positividade nos vv. 17 e 19, onde se espera que o juízo divino possa despertar a conversão daqueles que a Ele se opõem. Conclui-se que tal modo de ler o Salmo torna-o perfeitamente coadunável com a perspectiva neotestamentária, segundo a qual Deus também há de fazer justiça aos que se opõem ao seu projeto salvífico. Ainda que tal não se possa ver em plenitude no desenrolar da história, se verá sem dúvida na escatologia
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