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É assim, porque é assim que tem que ser: a retórica galante nos motetes de José MaurÃcio, observada no uso da pedagogia dos partimenti, da gramática das schemata e da oratória musical
A música no universo galante tinha como teleologia objetivar processos sociocomunicativos através da experiência compartilhada de figuras musicais, campos expressivos, esquemas harmônicos (contrapontÃsticos) e modelos dramáticos transformados em oratória musical (onde a forma se inclui). Estes parâmetros se desdobravam por uma técnica composicional onde cada elemento estava devidamente articulado com uma ideia a se expressar; ou seja, cada elemento tinha uma função e objetivo dentro da estrutura. Assim, frases e cadências, campos expressivos e figuras de retórica, existiam sempre numa relação das partes com o todo. Era o que, na música, se desprendia do esforço de se alinhar a uma ideia hegemônica nos cÃrculos cultos setecentistas: uma lógica de invenção pelo princÃpio da Ars Combinatória de Leibnitz. O presente texto trata de mostrar, primeiro, como a regência desse processo se dava sob uma mentalidade cognitiva operada pela ideia de Retórica Musical. Segundo, como era assimilada e operacionalizada como pedagogia, processo criativo e expressão ideológica, enquanto discurso musical. Para tanto, usaremos excertos de motetes do compositor carioca José MaurÃcio Nunes Garcia (1767-1830) para decantar vários elementos expressivos relacionando-os com modelos aprendidos através da pedagogia dos partimenti e, também, dos processos combinatórios dos esquemas retóricos para construção de pictorialismos naturais da escrita motetistica. Neste sentido, o estudo mostra como tonalidades, cadências, harmonia, schemata e métricas estão articuladas como processos oratóriais que interpretamos ser a ideia de redenção. O texto, diga-se, apresenta resultados de uma linha de pesquisa desenvolvida no Laboratório de Musicologia da EACH-USP sobre processos discursivos na música de José MaurÃcio. Segue a tese das representações de valores e crenças que, metaforizados em música, se alinham com estruturas ideológicas de controle no exercÃcio do espetáculo litúrgico nos domÃnios luso-brasileiros