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Gradualismo do processo de gramaticalização e princípio da persistência: indícios de uma hierarquia de traços?
From the analysis of prototypical cases of grammaticalization that were studied in a diachronic perspective and that have attested a persistence of formal features, this text discusses the thesis that the features that define the grammatical categories are hierarchically marked in the linguistic system. This way, it is assumed that there are features stronger than others, which could explain their persistence even in advanced stages of the process of grammaticalization, and it is proposed a hierarchy for such features into two levels, a macro one, taking as a parameter the stratum in which the categorical change takes place, and a micro one, for analyzing the features in each stratum.A partir da análise de casos prototípicos de gramaticalização que, estudados numa perspectiva diacrônica, atestam uma persistência de traços formais, este texto discute a tese de que os traços definidores das categorias gramaticais são marcados hierarquicamente no sistema linguístico. Dessa forma, assume se que existem traços mais fortes que outros, fato que explicaria sua persistência até mesmo em estágios avançados do processo de gramaticalização, e se propõe uma hierarquia para tais traços em dois níveis, sendo um deles macro, tomando por parâmetro o estrato em que a mudança categorial se processa, e o outro micro, analisando-se os traços em cada estrato
CONSOLIDAÇÃO DA GRAMÁTICA NACIONAL: UMA ANÁLISE DO QUADRO PRONOMINAL NO CONTEXTO MINEIRO SETECENTISTA
This article intends to revisit the issue of national genesis of grammar, from the analysis of a corpus of five unpublished documents that was writing in the region of Diamantina (MG) in the second half of the eighteenth century. The data analyzed here according to the assumptions sociolinguistic endorse the hypothesis that destabilization of pronominal framework and the consequent weakening of the agreement of the Portuguese system were already established in this region in the late eighteenth century. From this result, we speculate about the socio-historical role of the Minas Gerais region in implementing linguistic changes determinants for the establishment of a national grammar.O tema da constituição da gramática nacional é revisitado neste artigo, a partir da análise de um corpus constituído de cinco documentos escritos na região de Diamantina, Minas Gerais, na segunda metade do século XVIII, sendo eles três estatutos de irmandades, um estatuto de ordem terceira e oitenta e oito termos de devassa. Os dados coletados e analisados endossam a hipótese de que a desestabilização do quadro pronominal e o consequente enfraquecimento do sistema de concordância do português já estavam estabelecidos no final do século XVIII, pelo menos na região analisada, contrariando a tese que radica tais mudanças tão significativas para a constituição da gramática nacional no final do XIX. A partir desse resultado, especula-se sobre o papel sócio-histórico da região de Minas Gerais no cenário das mudanças linguísticas nacionais, considerando-se que há indícios da existência de uma gramática nacional nas Minas setecentistas.
Sistema de abreviaturas de documentos adamantinos setecentistas
Tem-se como objetivo principal a identificação, a classificação e a caracterização das abreviaturas do século XVIII de documentos da cidade de Diamantina, Minas Gerais, Brasil. As abreviaturas, representação de uma ou mais palavras por meio de apenas algumas de suas letras ou por um ou mais sinais, é um fenômeno bastante usual, presente em manuscritos de muitos séculos atrás. Os documentos analisados apresentam variadas abreviaturas, em grande quantidade, as quais, analisadas, poderão fornecer novas informações sobre a língua portuguesa. Além disso, compreender o sistema braquigráfico do século XVIII permite melhor entender a cultura escrita na qual os documentos do corpus - termos de devassa e estatutos de irmandades religiosas - estavam inseridos, favorecendo, também, os estudos históricos e sociais. Propõe-se, assim, a distribuição dos vários tipos de abreviaturas em um contínuo de legibilidade, com a intenção de verificar o grau de legibilidade de cada uma. Conclui-se que a abreviatura numérica é a que apresenta o maior grau de legibilidade, tendo tanto o copista quanto o leitor menor esforço para “desvendá-la”. Já a abreviatura por sinal especial é a que demanda maior conhecimento de regras específicas e, consequentemente, maior grau de letramento por parte do copista e do leitor
Construções aspectuais [andar + gerúndio] e [viver + gerúndio] no português
This work chose as object of study two aspectual constructions of the Portuguese language: [V1ANDAR (TO WALK)+ V2GERUND] e V1VIVER (TO LIVE) + V2GERUND]. Based on a quantitative and a qualitative analysis of 542 data collected in the Corpus do Portuguêsdatabase (https://www.corpusdoportugues.org/), in a synchronous profile that includes three centuries (XVIII, XIX and XX), we evaluated the hypothesis that such constructions would be linguistic variants. The results showed that, despite both constructions evoking the notion of iteration, they are not linguistic variants. It was found that the construction whose auxiliary is the verb VIVER (TO LIVE) denotes an aspectual notion whose internal time limit is unknown, while the construction whose auxiliary verb is ANDAR (TO WALK) translates an aspectual notion whose time limit and duration are known. It was also identified that the constructions introduced by the verb ANDAR (TO WALK) are more likely to be ambiguous than those introduced by the verb VIVER (TO LIVE).Este trabalho elegeu como objeto de estudo duas construções aspectuais da língua portuguesa: [V1ANDAR+ V2GERÚNDIO]e [V1VIVER+ V2GERÚNDIO]e [V1VIVER+ V2GERÚNDIO. A partir de uma análise quantitativa equalitativa de 542 dados coletados no banco de dados do Corpus do Português (https://www.corpusdoportugues.org/), num recorte sincrônico que contemplou três séculos (XVIII, XIX e XX), avaliou-se a hipótese de que tais construções seriam variantes linguísticas. Os resultados acusaram que, a despeito de ambas as construções evocarem a noção de iteração, elas não são variantes linguísticas. Constatou-se que a construção cujo auxiliar é o verbo VIVER denota uma noção aspectual cujo limite do tempo interno é desconhecido, enquanto a construção que tem ANDAR como verbo auxiliar traduz uma noção aspectual cujo limite de tempo e sua duração são conhecidos. Identificou-se, ainda, que as construções introduzidas pelo verbo ANDAR são mais susceptíveis a serem ambíguas do que aquelas introduzidas pelo verbo VIVER
Percurso de mudança de [meio que] no português brasileiro e as construções [kind of/kinda] do inglês e [en plan (de)] do espanhol: investigação contrastiva à luz da Gramática de Construções Diacrônica
This paper analyzes the change path of the construction [meio que] in Brazilian Portuguese, using data covering a period of six centuries (16th-21st), extracted from the Corpus do Português (DAVIES; FERREIRA, 2006; DAVIES, 2019). Based on the theoretical framework of Diachronic Construction Grammar (SOMMERER; SMIRNOVA, 2020; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), it is proposed that this construction integrates the network formed by the superior node [X que], however, unlike other instantiated constructions by this node, [meio que] is not grammaticalized as a conjunction or as an index of modality, but, initially, as an adverb and, later, as a discourse marker. Furthermore, it is proposed that the process was triggered from the reanalysis of the complex NP [Det meio [que...]]NP, comprising a change path similar to that of the constructions [kind of/kinda] in English (MARGERIE, 2010) and [en plan (de)] in Spanish (RODRÍGUEZ-ABRUÑEIRAS, 2020), which translinguistically attests the cline noun > adverb > discourse marker, as proposed by Rodríguez-Abruñeiras (2020). Additionally, the factors of schematicity, compositionality and productivity of the construction [meio que] were analyzed. It was found that there is a downward trend in lexical uses (as a complex NP whose head is the noun meio or as part of a numeral followed by que) in the 20th century and a growing trend in constructionalized uses (as an adverb or as a discourse marker) from that same century, period in which the change occurs, as well as that such series are inversely correlated, as attested by the statistical tests used in the quantitative analysis of the phenomenon.Este trabalho analisa o percurso de mudança da construção [meio que] no português brasileiro, fazendo-se uso de dados que abarcam um período de seis séculos (XVI-XXI), extraídos do Corpus do Português (DAVIES; FERREIRA, 2006; DAVIES, 2019). Propõe-se, com base no quadro teórico da Gramática de Construções Diacrônica (SOMMERER; SMIRNOVA, 2020; TRAUGOTT; TROUSDALE, 2013), que essa construção integra a rede formada pelo nó superior [X que], contudo, diferentemente de outras construções instanciadas por esse nó, [meio que] não se gramaticaliza como conjunção ou como índice de modalidade, mas, inicialmente, como advérbio e, posteriormente, como marcador discursivo. Ademais, propõe-se que o processo tenha sido desencadeado a partir da reanálise do NP complexo [Det meio [que...]]NP, compreendendo uma trajetória de mudança semelhante à das construções [kind of/kinda] do inglês (MARGERIE, 2010) e [en plan (de)] do espanhol (RODRÍGUEZ-ABRUÑEIRAS, 2020), o que atesta translinguisticamente o cline nome > advérbio > marcador discursivo, como propôs Rodríguez-Abruñeiras (2020). Adicionalmente, foram contemplados na análise os fatores de esquematicidade, de composicionalidade e de produtividade da construção [meio que]. Constatou-se que há uma tendência de queda dos usos lexicais (como NP complexo cujo núcleo é o nome meio ou como parte de um numeral seguido de que) no século XX e uma tendência de crescimento dos usos construcionalizados (como advérbio ou como marcador discursivo) a partir desse mesmo século, período em que ocorre a mudança, bem como que tais séries estão inversamente correlacionadas, conforme atestaram os testes estatísticos empregados na análise quantitativa do fenômeno
Consolidação de uma gramática nacional: a implementação do genitivo “dele” nas Minas setecentistas
Brazilian Portuguese brings together several studies (SILVA, 1982, 1984, 1991; and CUNHA, 2007) analyzing the use of the possessive forms “seu” and “dele” under a variationist perspective. It has been attributed to this phenomenon a change in the pronominal system, which has been destabilized with the addition form “você” instead of “tu” (KATO, 1985; PERINI, 1985; CERQUEIRA, 1996a, 1996b), generating ambiguity of interpretation in some contexts. The genitive form “dele” appears, then, as a preferred variant, due to disambiguator function. In this context, this study compared the uses of the standard possessive form with the innovative one, in order to verify that the destabilization of pronominal setting had already being felt in the 18th century Minas Gerais. Adopting a quantitative and qualitative researchs methodology, theorically based on Labovian sociolinguistics assumptions, it was concluded that in the 18th century in Minas Gerais the third-person possessive was already opaque, which suggests the competition between “tu” e “você” in this region on 18th century.O Português do Brasil reúne vários estudos (SILVA, 1982, 1984, 1991; CUNHA, 2007) que investigam o uso dos possessivos seu e dele sob uma perspectiva variacionista. Tem-se atribuído esse fenômeno a uma mudança no sistema pronominal, que se desestabilizou com a entrada da forma você em lugar de tu (KATO, 1985; PERINI, 1985; CERQUEIRA, 1996a, 1996b), gerando ambiguidade de interpretação em alguns contextos. A forma genitiva dele surge, então, como variante preferida por ter função desambiguizadora. Nesse contexto, este estudo compara os usos da forma possessiva padrão com a inovadora, para verificar se os reflexos da aludida desestabilização do quadro pronominal já se faziam sentir nas Minas setecentistas. Adotando-se uma metodologia quantitativa e qualitativa de pesquisa, embasada teoricamente nos pressupostos sociolinguísticos labovianos, chega-se à conclusão de que, nas Minas setecentistas, o possessivo de terceira pessoa já era opaco, o que sugere a concorrência entre as formas tu e você nesta região no século XVIII
UM ESTUDO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO LIAME PREPOSICIONAL EM CONSTRUÇÕES [VDAR + PREPOSIÇÃO + VINFINITIVO] NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Tendo como sintaxe de busca a estrutura VDAR + PREPOSIÇÃO + VINFINITIVO esta pesquisa analisou 1.141 ocorrências do verbo DAR, na língua portuguesa, coletadas no sítio Corpus do Português, do século XVIII ao século XIX. De posse desses dados, dedicamo-nos a categorizar as construções e a investigar em que medida elas apresentam diferenças substanciais, já que nos pareciam formalmente idênticas. Buscamos ainda identificar suas principais funções linguísticas, bem como explorar possíveis contextos de variação entre elas. Para alcançar tais objetivos, apoiamo-nos teoricamente no modelo da Gramática de Construções, mais especificamente no Princípio da Não-Sinonímia (cf. BOLINGER 1968; HAIMAN 1985; CLARK 1989; GOLDBERG, 1995), e adotamos uma metodologia de interface entre a gramaticalização de construções e a sociolinguística laboviana (NEVALAINEN e PALANDER, 2012; POPLACK 2012). Nossos resultados evidenciam quatro tipos de construções com o verbo DAR: (i) mesoconstruções, (ii) construções de estrutura cristalizada, (iii) construções aspectuais e (iv) construções modais. Além disso, acusaram um contexto de variação possível apenas nas construções aspectuais
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