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Violence and death: an ethnographic view of the daily practices and strategies of the expert teams of the Forensic Institute of the city of São Paulo
Introdução - A morte violenta permeia o cotidiano do cidadão brasileiro, assim como o cotidiano laboral das equipes da perícia criminal do município de São Paulo. Os servidores forenses têm como atribuição representar o Estado na execução pericial dos locais de crimes envolvendo vítimas humanas. Objetivo - Compreender as práticas cotidianas do trabalho pericial, identificando a percepção dos fatores de risco e as estratégias de trabalho imbuídos no atendimento pericial da morte violenta. Métodos - Pesquisa qualitativa com perspectiva etnográfica. Os registros empíricos são oriundos das anotações etnográficas em diário de campo de 61 locais de crimes periciados pela equipe de peritos criminais e fotógrafos técnico-periciais do Núcleo de Perícias em Crimes contra a Pessoa do Instituto de Criminalística do município de São Paulo. Entrevistas individuais semiestruturadas foram realizadas com 28 servidores periciais. De modo complementar, aplicou-se um formulário para caracterização sociodemográfica dos participantes. Reportagens veiculadas nas mídias digitais e impressas foram utilizadas como dados secundários. Os dados foram analisados por meio de codificação temática. Para tal, utilizou-se o software MAXQDA, versão 18. Resultados - As naturezas criminais predominantes nas requisições periciais foram: morte suspeita, suicídio e homicídio de autor conhecido. A idade dos participantes variou entre 28 e 65 anos, e o tempo de experiência na perícia variou entre 1 e 31 anos. O perfil do público foi predominantemente do sexo masculino, casado com filhos e possuidor de alguma crença religiosa. O treinamento profissional fornecido pelo Instituto de Criminalística variou de 3 a 12 meses. Com relação à pesquisa empírica, a codificação do material nos conduziu a quatro categorias temáticas: 1) A atividade do trabalho pericial; 2) Crimes periciados; 3) Violência naturalizada; 4) Amplificação da violência pela mídia. Os relatos e as observações em campo revelaram práticas cotidianas de um trabalho perigoso e insalubre nos sentidos biológico e psíquico. Ao lidarem com o corpo da vítima de violência letal, as equipes são expostas à vitimização direta e indireta. Atuam em escalas de trabalho extensas, com déficit de servidores, tempo de recuperação curto e relatos de presenteísmo. A falta de transparência no planejamento da carreira forense somada aos significados de ser policial forense foram mobilizadores de sentimentos e ressignificados ao longo da trajetória profissional. Fatores de risco foram revelados, como: riscos associados à categoria policial; antevisão do processo de morrer ao se sentirem suscetíveis à naturalização da violência urbana; amplificação da violência pela mídia, que reverbera discursos estereotipados sobre a ação policial e sobre os \"bandidos\", incitando o ódio; manifestação de sentimento de não reconhecimento institucional. Os participantes revelaram que criam estratégias visando conciliar tais dimensões com a manutenção de sua saúde, sendo elas: sublimação, desconstrução do herói, uso do humor cítrico, distanciamento e não pertencimento à realidade da periferia e valorização da vida em sua simplicidade. Conclusão - Atuar na perícia criminal exige que o trabalhador desenvolva estratégias coletivas e individuais constantemente, pois a violência e os crimes não são estáticos. O Instituto de Criminalística vivencia uma reestruturação em seu organograma que impacta diretamente a operação pericial. Faz-se necessário oferecer ações psicológicas preventivas e treinamento contínuo aos servidores periciais no sentido de manter a saúde desses trabalhadores.Introduction - Violent death permeates the daily life of the Brazilian citizens as well as the daily routine of the criminal investigation teams of the municipality of São Paulo. The forensic servers have to represent the State, as attribution, in the expert execution in the sites of crimes involving human victims. Objective - to understand the daily practices of the expert work, identifying risk factors and work strategies imbued in the expert assistance of violent death. Methods - Qualitative research with an ethnographic perspective. The empirical records are derived from the ethnographic field work diary notes of 61 crime sites, experienced together with the on-call staff. These crime sites were investigated by the team of criminal experts and technical-expert photographers who belong to the Center for Expertise in Crimes against the Person (NPCCPessoa) of the Institute of Criminalistics (IC) of the city of São Paulo. Individual semi-structured interviews were conducted with 28 expert servers. In a complementary way, a form of sociodemographic characterization of the participants was applied. Reports on digital and printed media were used as secondary data. Data were analysed using thematic coding. For that, the software MAXQDA, version 18 was used. Results - The predominant criminal natures in the investigative requisitions were: suspicious death, suicide and homicide of a known perpetrator. The age of the participants ranged from 28 to 65 years and the time of experience in the profession is between 1 to 31 years. The participants are predominantly composed by males, married, with children and most of them have a religious belief. The professional training provided by the Institute of Criminalistics varied from 03 to 12 months. With regard to empirical research, the codification of the material generated four thematic categories: 1) The activity of the expert work; 2) Crimes that underwent expert work; 3) Naturalized violence; 4) Amplification of violence by the media. The reports and field observations revealed daily practices of a dangerous and unhealthy work in the biological and psychological senses. The teams dealing with the body of a victim of lethal violence are exposed to a direct and indirect victimization. They work with extensive work scales, server shortages, short recovery times and present-day reports. The lack of transparency in the planning of the forensic career added to the meaning of being a forensic police worker were mobilizers of feelings such as non-recognition and institutional belonging, which were re-signified throughout their professional trajectory. Risk factors were revealed, such as: risks in belonging to the police category itself; the anticipation of the process of dying when they feel susceptible to the naturalized urban violence; the amplification of media violence by reverberating stereotyped discourses about police action and \"bad guys\", inciting hatred. The participants revealed that they created strategies to reconcile these dimensions with the maintenance of their health, such as: sublimation, deconstruction of the hero, use of dark humor, creating distance, not belonging to the reality of the periphery, valorisation of life in its simplicity. Conclusion - Acting in the criminal expertise requires that the worker constantly develop strategies, collectively and individually, as violence and crimes are renewed. The IC experiences a restructuring in its organization chart that directly impacts on the expert operations. It is necessary to offer preventive psychological actions and continuous training to the expert servants in the sense of maintaining the health of these workers. To the managers, it is suggested mobilization to plead legislations that, in fact, untie the IC from the Civil Police, as well as a modernization of the work processes