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Carlos Jorge Pessoa, Escrita da água: no rasto de Medeia
Medeia, heroína de antanho, é convocada à cena contemporânea pela escrita de Carlos Jorge Pessoa, particularmente porquanto se associa de modo incontornável ao desmoronamento inesperado – e fatal - da família, um dos motivos fulcrais da peça Escrita da água: no rasto de Medeia. Revisitar Medeia implica para o autor destacar a dimensão humana e familiar da figura, que é inserida no contexto quotidiano do comum dos mortais da atualidade
Com o diabo no corpo: os terríveis papagaios do Brasil colônia
Desde a Antiguidade, papagaios, periquitos e afins (Psittacidae) fascinaram os europeus por seu vivo colorido e uma notável capacidade de interação com seres humanos. A descoberta do Novo Mundo nada faria além de acrescentar novos elementos ao tráfico de animais exóticos há muito estabelecido pelos europeus com a África e o Oriente. Sem possuir grandes mamíferos, a América tropical participaria desse comércio com o que tinha de mais atrativo, essencialmente felinos, primatas e aves - em particular os papagaios, os quais eram embarcados em bom número. Contudo, a julgar pelos documentos do Brasil colônia, esses voláteis podiam inspirar muito pouca simpatia, pois nenhum outro animal - exceto as formigas - foi tantas vezes mencionado como praga para a agricultura. Além disso, alguns psitácidas mostravam-se tão loquazes que inspiravam a séria desconfiança de serem animais demoníacos ou possessos, pois só três classes de entidades - anjos, homens e demônios - possuíam o dom da palavra. Nos dias de hoje, vários representantes dos Psittacidae ainda constituem uma ameaça para a agricultura, enquanto os indivíduos muito faladores continuam despertando a suspeita de estarem possuídos pelo demônio. Transcendendo a mera curiosidade, essa crença exemplifica o quão intrincadas podem ser as relações do homem com o chamado “mundo natural”, revelando um universo mais amplo e multifacetado do que se poderia supor a princípio. Nesse sentido, a existência de aves capazes de falar torna essa relação ainda mais complexa e evidencia que as dificuldades de estabelecer o limite entre o animal e o humano se estendem além dos primatas e envolvem as mais inusitadas espécies zoológicas.Since ancient times, parrots and their allies (Psittacidae) have fascinated Europeans by their striking colors and notable ability to interact with human beings. The discovery of the New World added new species to the international exotic animal trade, which for many centuries had brought beasts to Europe from Africa and the Orient. Lacking large mammals, tropical America participated in this trade with its most appealing species, essentially felines, primates and birds - especially parrots - which were shipped in large numbers. It should be noted, however, that at times these birds were not well liked. In fact, according to documents from colonial Brazil, only the ants rank higher than parrots as the animals most often mentioned as agricultural pests. On the other hand, some of these birds were so chatty that people suspected them to be demonic or possessed animals, since only three classes of beings - angels, men and demons - have the ability to speak. Nowadays, several Psittacidae still constitute a threat to agriculture, and the suspicion that extremely talkative birds were demon possessed has also survived. More than a joke or a mere curiosity, this belief exemplifies how intricate man’s relationships with the “natural world” may be. In this sense, the existence of birds that are able to speak adds a further twist to these relationships, demonstrating that the problem of establishing a boundary between the animal and the human does not only involve primates, but also includes some unusual zoological species
A História da Alimentação: balizas historiográficas
Os M. pretenderam traçar um quadro da História da Alimentação, não como um novo ramo epistemológico da disciplina, mas como um campo em desenvolvimento de práticas e atividades especializadas, incluindo pesquisa, formação, publicações, associações, encontros acadêmicos, etc. Um breve relato das condições em que tal campo se assentou faz-se preceder de um panorama dos estudos de alimentação e temas correia tos, em geral, segundo cinco abardagens Ia biológica, a econômica, a social, a cultural e a filosófica!, assim como da identificação das contribuições mais relevantes da Antropologia, Arqueologia, Sociologia e Geografia. A fim de comentar a multiforme e volumosa bibliografia histórica, foi ela organizada segundo critérios morfológicos. A seguir, alguns tópicos importantes mereceram tratamento à parte: a fome, o alimento e o domínio religioso, as descobertas européias e a difusão mundial de alimentos, gosto e gastronomia. O artigo se encerra com um rápido balanço crítico da historiografia brasileira sobre o tema
Suetónio e os Césares : teatro e moralidade
Tese de doutoramento em Estudos Clássicos (Literatura Latina) apresentada à Fac. de Letras de CoimbraEste estudo apresenta-se, antes de mais, como uma leitura das Vidas dos Césares. Depois de uma introdução propedêutica e de uma primeira parte sobre as técnicas usadas pelo biógrafo na construção das Vidas, a parte II constitui o núcleo do trabalho, onde predomina a análise textual. A consideração Vida por Vida, meramente metodológica a princípio, acabou por impor, em definitivo, a estrutura desta secção, depois de verificarmos que, com outra divisão, se perderia muito do encadeamento entre as partes das Vidas e da noção de conjunto: pois foi precisamente a leitura extensiva do texto que nos despertou para o empobrecimento resultante de uma abordagem esparsa de Suetónio. Intitulámos esta parte "evolução das personagens": evolução externa — no palco de Roma; e evolução interna — a progressiva manifestação do carácter. Para compreender alguns recursos do biógrafo era preciso confrontar o texto com opiniões de outros autores antigos e modernos: optámos por fazê¬ lo geralmente nas notas. Além de servir de demonstração do tema proposto, procura também esta parte preparar o material e fornecer informações que possam ser úteis a dramaturgos ou novelistas que elejam o biógrafo ou este período da história romana como fontes de inspiração. Depois de se verificar, pelo desenvolvimento da segunda parte, que a estrutura das Vidas assentava, em grande parte, em valores morais, impunha¬ se naturalmente o tratamento do conteúdo da mensagem de Suetónio: é este o assunto da terceira parte
Un certo giorno di un certo anno in Aulide” of Vico Faggi. The myth of Iphigenia as a symbol of resistance to evil
It’s a three-act play that was represented in 1963 with the title Ifigenia non deve morire. Vico Faggi revisits the story told by Euripides and through the myth of Iphigenia approaches to problems as civil responsibility, the concept of homeland, religion and superstition. Un certo giorno di un certo anno in Aulide turns into a reflec- tion on different ways to tell and represent the history and the possibilities to resist and fight against the barbarity of the world
Between Circe and Medea: rewriting the myth in Adriana Assini
Resumo - En el 2012 se publica un relato titulado “L’eterno abbraccio del biancospino”, donde aparece una Medea en la que se funden diferentes personajes y diosas. Adriana Assini modifica el carácter clásico de Medea, que actúa aquí de forma reflexiva, premeditada, fundiendo en sí los poderes de las otras magas: Circe y la dama del lago (Viviana o Morgana), pero conservando su rasgo de mujer enamorada y vengativa. Se enamora de Werner después de haberle concedido el don de la juventud y cuando su amante quiere dejarla, utiliza un encantamiento para retenerlo para siempre entre las ramas de un Blancoespino. En esta venganza se nos muestra
su rostro de diosa primigenia, a mitad de camino entre la Ponia Theron y la diosa Hécate.In the short story “L’eterno abbraccio del biancospino”, published in
2012, Medea personifies different characters and goddesses. Adriana Assini modifies
the Classical Medea, who acts here in a reflexive and premeditated manner, blending
the powers of other female magicians: Circe and the Lady of the Lake (Viviana or
Morgana). Yet, she preserves her distinctive feature of revengeful woman in love.
Medea falls in love with Werner after having granted him with the gift of youthful
-
ness and, when her lover is willing to abandon her, she uses a spell to entangle him
in the branches of a white hawthorn. This revenge unveils the face of a primitive
goddess, in between Ponia Theron and Hecat