Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.Trata-se de um estudo do tipo qualitativo, desenvolvido com um grupo de trabalhadores do Programa Saúde da Família - PSF, lotados em uma unidade de saúde de Maringá PR. O estudo buscou identificar o potencial do programa para superar os problemas decorrentes do modelo biomédico hegemônico, a partir da reflexão com estes trabalhadores sobre a sua prática. Participaram do estudo, 11 trabalhadores de duas equipes do PSF, e os dados foram colhidos através dos seguintes instrumentos: estudo documental, entrevista semi-estruturada, observação participante e sessões em grupo focal. Buscou-se conhecer a realidade dos trabalhadores do PSF, destacando-se as condições de trabalho, as facilidades e dificuldades na implementação das diretrizes propostas pelo programa, bem como as propostas para o enfrentamento do desafio de construir um novo modelo assistencial em saúde. A partir da observação participante e entrevista semi-estruturada, os dados foram sistematizados em categorias, que foram devolvidos aos trabalhadores para reflexão nas sessões do grupo focal. A condução do processo reflexivo foi baseada na concepção teórico-metodológica de Freire (1987, 2001, 2002) que propõe uma prática educativa e libertadora. As categorias trabalhadas foram relações com o sujeito cuidado e sua família; organização do trabalho; condições de trabalho; concepções sobre o perfil profissional para atuar no PSF; concepções sobre o modelo assistencial do PSF e preparo profissional para atuar no PSF. Cada uma destas categorias foi discutida considerando-se três aspectos: dificuldades relativas ao trabalho, facilidades relativas ao trabalho e estratégias para o enfrentamento dos limites e dificuldades do trabalho no PSF. Os resultados obtidos indicam que o processo de trabalho em saúde do grupo estudado está organizado, predominantemente, pelos condicionantes do modelo biomédico hegemônico e as suas ações estão centradas no tratamento das doenças e na figura do médico. Com relação ao sujeito cuidado e sua família, há um conflito de entendimento e de expectativas em relação às ações de saúde desenvolvidas pela equipe e as ações esperadas pelos sujeitos cuidados. Além disso, os trabalhadores do PSF apontaram dificuldades no atendimento domiciliar com relação às condições sociais e econômicas das famílias. No que diz respeito à organização do trabalho observou-se que não há planejamento das ações, ficando a cargo de cada equipe decidir como organizar seu trabalho e há uma ausência de trabalho interdisciplinar. Nas condições de trabalho destacaram-se a falta de meio de transporte para as visitas domiciliares, um acúmulo de funções, ausência de local específico para os trabalhadores das equipes do PSF, carência de materiais de consumo e de proteção e carga horária elevada. Foi observado um despreparo profissional para atuar no PSF, destacando-se as visitas domiciliares. Nestas, a assistência prestada é realizada como se fosse uma extensão da unidade de saúde, centrando-se na realização de curativos, administração de medicamentos e outros cuidados voltados para a doença. Destacaram-se também a ausência de treinamento das equipes para atuar no PSF e despreparo para procedimentos técnicos. Com relação ao modelo assistencial do PSF, identificou-se que o trabalho está organizado a partir das condutas do médico e o atendimento é feito a partir da demanda espontânea. O trabalho do médico está centrado na unidade de saúde e é desenvolvido no consultório, com pouca participação desse profissional nas demais atividades de grupo. Observou-se uma migração de profissionais de saúde da área hospitalar para o Programa sem preparo para uma atuação segundo as diretrizes do mesmo. Alguns indicativos foram propostos pelos trabalhadores com vistas a concretizar o PSF no seu potencial de superação dos problemas do modelo biomédico hegemônico, os quais são: necessidade de organização do trabalho em equipe; estabelecer um melhor diálogo com as famílias e comunidades, debatendo as mudanças contidas no PSF; preparo dos trabalhadores para a abordagem com famílias; melhores condições de trabalho, reformulação dos currículos de graduação, com práticas educativas emancipatórias; treinamento e reciclagem das equipes em relação à saúde, priorizando a promoção de saúde e treinamento apropriado sobre as diretrizes do PSF; reorganização do atendimento da demanda com base em um planejamento em saúde; garantia dos recursos necessários com o apoio do município e intersetorial e continuidade de processos reflexivos coletivos com os trabalhadores do PSF
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