O caçador e a caça: um estudo comparativo do comportamento predatório de violadores e abusadores sexuais de menores

Abstract

Tese de doutoramento em Psicologia (área de conhecimento em Psicologia da Justiça)Research on sex offenders’ modus operandi, geographic decision-making and hunting behavior has increased over the past few years. However, much of this work presents limitations of two general types, one concerned with the dimensions and variables studied, and the other with the type of offender in question. Most of the studies still tend to overlook the geographic dimension of the offending process, thus impairing our understanding of the criminal event as a whole. Criminal motivation and its internal causes are still emphasized and sought out, whereas the role of situational and environmental factors is often neglected. Furthermore, the majority of these studies have been conducted using samples comprised either of rapists or child molesters alone, and those studies resorting to mixed samples have neglected to conduct comparative analysis between both types of offenders. Because the focus of the studies on rapists has proven consistently diverse from that of those on child molesters, the real depth of the distinction between rapists and child molesters is not clear to us, even more so as we come across versatile sex offenders, crossover or polymorphous, who target victims from various age groups. Hence, it is necessary at this point to study both types of offenders with resort to the same variables and the same theoretical constructs, so that accurate comparisons can be made and the similarities and differences between these two types can be explored. Thus, and in order to better understand the nature and the dynamic of the offending process of sexual aggression, this study explores the question from a different theoretical perspective and also from different analytical frameworks, using a sample of 216 incarcerated offenders convicted for sexual offenses involving direct physical contact with their victims. First, hunting behavior and modus operandi characteristics that constitute accurate predictors of the type of offender (rapists versus child molesters) were identified. Second, hunting behavior patterns were identified in this mixed sample of rapists and child molesters, and tested to establish which hunting behavior patterns were associated with each type of offender. Finally, the relationships between modus operandi characteristics and geographic decision making process and the emerging hunting behavior patterns were examined. Results demonstrate that there are clear differences between rapists and child molesters, as to their hunting behavior, their modus operandi characteristics and their geographic decision-making. Three predictive models were developed, and three types of offender were identified: (1) manipulative, (2) opportunist, and (3) coercive. The manipulative offender is typically a child molester, and the coercive is typically a rapist, whereas the opportunist type is comprised of both rapists and child molesters. This finding emphasizes the relevance of the polymorphous, crossover or versatile sex offenders and their role in bringing about new ways of conceptualizing sex offenders, in blurring prototypical lines and shifting research focuses.A investigação acerca do modus operandi, da tomada de decisão geográfica e do comportamento predatório dos ofensores sexuais tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. Contudo, muito deste trabalho apresenta limitações de dois tipos gerais, um dos quais diz respeito às dimensões e variáveis estudadas, e o outro ao tipo de ofensor em questão. A maioria dos estudos ainda tende a ignorar a dimensão geográfica do processo criminal, limitando assim a nossa compreensão do evento criminal como um todo. A motivação criminal e as suas causas internas ainda são enfatizadas e procuradas, enquanto o papel dos factores situacionais e ambientais é frequentemente negligenciado. Para além disso, a maioria destes estudos foram realizados utilizado amostras compostas exclusivamente de violadores ou abusadores de menores, e aqueles estudos que recorreram a amostras mistas negligenciaram a realização de análises comparativas entre os dois tipos de ofensores. Dado que o enfoque dos estudos acerca dos violadores tem sido consistentemente diverso daquele dos estudos sobre abusadores de menores, a real profundidade da distinção entre violadores e abusadores de menores não é clara para nós, tanto mais quando nos deparamos com ofensores sexuais versáteis, crossover ou polimorfos, que procuram vítimas de diversos grupos etários. Assim, é necessário estudar ambos os tipos de ofensores com recurso às mesmas variáveis e aos mesmos constructos teóricos, para que comparações precisas possam ser feitas e as semelhanças e diferenças entre estes dois tipos possam ser exploradas. Por conseguinte, e com vista a uma melhor compreensão da natureza e da dinâmica do processo criminal da agressão sexual, este estudo explora a questão partindo de uma perspectiva teórica diferente e recorrendo a modelos analíticos também diferentes, utilizando uma amostra de 216 reclusos condenados por crimes sexuais envolvendo contacto físico directo com as vítimas. Em primeiro lugar, foram identificadas as características de comportamento predatório e de modus operandi que constituem preditores precisos do tipo de ofensor (violadores versus abusadores de menores). Em segundo lugar, foram identificados padrões de comportamento predatório nesta amostra mista de violadores e abusadores de menores, e estes foram testados com vista a determinar quais os padrões associados a cada tipo de ofensor. Finalmente, foram examinadas as relações entre as características do modus operandi e o processo de tomada de decisão geográfica e os padrões de comportamento predatório emergentes. Os resultados demonstram a existência de diferenças claras entre violadores e abusadores de menores, no que concerne ao seu comportamento predatório, às suas características de modus operandi e à sua tomada de decisão geográfica. Foram desenvolvidos três modelos preditivos, e foram identificados três tipos de ofensor: (1) manipulador, (2) oportunista, e (3) coercivo. O ofensor manipulador é tipicamente um abusador de menores, e o coercivo é tipicamente um violador, enquanto o oportunista é composto tanto por violadores como por abusadores de menores. Este dado enfatiza a relevância dos ofensores sexuais polimorfos, crossover ou versáteis e o seu contributo para o surgimento de novas formas de conceptualizar os ofensores sexuais, para o esbater das linhas prototípicas, e para a mudança de enfoque da investigação.Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) - SFRH / BD / 30487 / 200

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