Aumento de retenção das memórias falsas através de estimulação emocional negativa durante reconsolidação

Abstract

Tese de mestrado, Ciência Cognitiva, Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Faculdade de Letras, Faculdade de Medicina, Faculdade de Psicologia, 2013Finn and Roediger and collaborators (2011, 2012) found that emotionally arousing negative pictures presented to subjects in the period immediately following a retrieval of a veracious memory enhances subsequent cued-recall test performance in comparison to non-arousing neutral pictures or blank screen had been shown. This finding suggests that the period just after retrieval, called reconsolidation, together with negative emotion influence, plays a significant role in enhancing memory performance. In the present study, we investigated whether such effect would be valid for the phenomenon of false memories. Participants studied lists of associated words (DRM lists). On a subsequent free-recall test, participants’ generation of non-presented critical items (false memories) was immediately followed by pictures inducing a negative or neutral emotion or by a blank screen. Although we did not observed the expected significant memory enhancement for false memories followed by arousing images the results revealed less decline of memory retention (less forgetting effect) for those items compared to other retrieved words followed by neutral pictures or blanks. The results and their possible theoretical implications are further analyzed and discussed.A presente dissertação visa examinar a hipótese de que a retenção de falsas memorias - ou seja a retenção de experiências mentais consideradas erradamente como representações verídicas de um acontecimento do passado (Johnson, 1998) - é susceptível de melhoria por meio da manipulação de emoções negativas no período de reconsolidação após recuperação. O objectivo do estudo é assim investigar se emoções negativas podem facilitar o processo de recuperação e aumentar a retenção das memórias falsas quando estas ocorrem. O presente estudo pode ser visto como uma tentativa de continuação e extensão dos estudos precursores de Finn and Roediger (2011, 2012) que exploraram o efeito acima mencionado para as memórias verídicas. Com o intuito de contextualizar o objectivo de estudo deste trabalho, começa-se por explicar em que consiste o fenómeno de falsas memórias e apresenta-se um panorama dos estudos pioneiros nesta área. Em seguida, explica-se o paradigma DRM (acrónimo de Deese-Roediger-McDermott) que usa listas de palavras semanticamente associadas e é actualmente um dos principais procedimentos de evocação de falsas memórias em condições laboratoriais. Seguidamente, descreve-se de forma breve as teorias e os mecanismos causais que fundamentam e esclarecem a ocorrência de falsas memórias. A primeira teoria, de activação-monitorização, aborda a estimulação de representações conceptuais preexistentes na memória semântica quando um item é processado dentro do mesmo domínio conceptual. Enquanto a activação converge para itens semanticamente relacionados e pode levar à recuperação de uma informação errada, a monitorização refere-se aos processos de correção e tomada de decisão que possibilitam a identificação da fonte da informação falsamente recordada (Gallo, 2010). A teoria do traço difuso faz por seu lado a distinção entre traços perceptuais (verbatim) e conceptuais (gist) de uma experiência subjectiva de codificação de informação. De acordo com esta teoria, a ocorrência de falsas memórias baseia-se na recuperação de traços gist (no paradigma DRM corresponde à extração temática do significado das palavras da lista). A recuperação é causada pela interrelação semântica entre os itens. A investigação em neurociências tem revelado, ao nível neuronal, fortes relações entre o funcionamento de zonas cerebrais particulares e a ocorrência de falsas memórias no paradigma DRM. Nos estudos que utilizaram a técnica de ressonância magnética funcional (fMRI) descobriram-se bases neurais diferentes de processos de activação e monitorização das falsas memórias. Esta investigação fundamentou os resultados obtidos nos estudos cognitivos, proporcionando e aprofundando ideias relativas aos processos de codificação, recuperação e de tomada de decisão nas falsas memórias. Em seguida, reflecte-se sobre a importância da prática de recordação na facilitação de recuperação de memórias. Esboça-se o efeito de melhoria de memorização baseada sobretudo na variante activa de recuperação, explica-se o conceito do efeito de teste (testing effect) e os processos que ocorrem na recordação livre dos itens. Contudo, o presente estudo concentra-se no período que segue a recuperação. Finalmente, o fenómeno de reconsolidação (onde uma informação recuperada da memória de longo prazo entra num estado breve e instável e é susceptível a modificações) é considerado como uma parte relevante e integral dos processos de retenção de memória. São analisadas correlações entre excitação, stress e emoção, e desempenho mnésico através das quais se mostra que a indução de excitação, causada pelas emoções negativas, pode melhorar a memória. Papel particular parecem ter as hormonas de stress que activam a amígdala – zona do cérebro responsável pelo conteúdo emocional das memórias. A activação da amígdala modula processos mnésicos no hipocampo, onde ocorre a consolidação das informações da memória de curto para memória de longo prazo. Em seguida, apresenta-se os primeiros estudos que mostraram melhoria da memória através de excitação causada pelas emoções negativas na fase de reconsolidação da informação (Coccoz et al., 2011; Finn & Roediger, 2011, 2012). O presente estudo é depois introduzido como uma tentativa de verificar se também as falsas memórias são susceptíveis de sofrer o mesmo efeito de melhoria da memória. A primeira tarefa do estudo é baseada no paradigma DRM clássico para gerar memórias falsas. Com este propósito usam-se listas DRM portuguesas (Albuquerque, 2005). Numa primeira tarefa de recordação livre, cada vez que uma palavra crítica foi recuperada, uma imagem de carga emocional negativa ou neutra foi apresentada imediatamente depois. Um teste final de recordação livre de todas as palavras das listas é utilizado para verificar se falsas memórias, obtidas na primeira tarefa e seguidas de imagens negativas (condição facilitadora), eram melhor recordadas em comparação com as seguidas por imagens neutras.Com base nos estudos anteriores, que mostraram melhor desempenho mnésico quando a recuperação de uma memoria verídica é acompanhada por um acontecimento negativo (em comparação com um positivo ou neutro), espera-se obter um efeito de reconsolidação também para itens críticos (falsas memórias). Na análise dos resultados o foco centra-se no efeito de retenção das palavras críticas e verídicas nas duas condições principais do estudo – de tarefa (recuperação inicial e final) e de imagem (recuperação em função de valência de imagem). Por conseguinte, examina-se a interação entre estas duas variáveis. Ao examinar os resultados de memórias falsas o segundo item crítico (IC2) tornou-se impossível de analisar. Ocorreram somente quatro únicos casos de recuperação deste item na tarefa inicial e nenhum na tarefa final. Consequentemente, ficou excluído da análise. Os dados da análise estatística (ANOVA) revelam o efeito principal significativo para condição de recuperação, indicando uma melhor recordação das memórias falsas na tarefa inicial do que na tarefa final. Estes dados estão de acordo com a curva de esquecimento que demonstra a queda de retenção da memória com a passagem de tempo. O efeito principal de imagem é marginal, o que indica uma incongruência inexplicável entre a taxa de falsas memórias seguidas de imagem negativa ou neutra. Contudo, a análise de resultados revelou, em linha com o esperado, uma maior queda de memórias falsas seguidas de imagens neutras do que negativas. Todavia, um teste adicional, onde se controla a discrepância inicial entre a proporção de memórias falsas seguidas de imagens neutras ou negativas, mostra que a condição de imagem não tem o efeito de consolidação esperado. A análise de resultados das memórias verídicas foi consideravelmente limitada por causa do pequeno número de targets obtido, devido ao uso do paradigma oddball (ver Finn e Roediger, 2011). Agregando os dados por sujeito e por item, de forma a aumentar o número de respostas, não se obtiveram diferenças significativas na recuperação entre memórias verídicas nas três condições de imagem (negativa, neutra e ecrã em branco). Deste modo, os resultados do presente estudo não replicam os obtidos por Finn e Roediger (2011, 2012). Por fim discutem-se os presentes resultados, as limitações assim como sugestões para as ultrapassar em estudos futuros

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