Relações áridas: ausência de humanidade em <i>O céu que nos protege</i>

Abstract

O presente artigo surgiu com o intuito de trazer à luz a análise do filme O céu que nos protege, de Bernardo Bertolucci (1990). Baseado no livro homônimo de Paul Bowles – publicado pela primeira vez em Londres (1949), pela John Lehmann Ltda. – o filme O céu que nos protege narra a história de um casal (Kit, Debra Winger, e Port, John Malkovich) que, em meio à deterioração que se instalou na Europa após a Segunda Guerra Mundial, decide conhecer o deserto africano, ao lado de um amigo, Tunner (Campbell Scott), que mais tarde tornar-se-ia amante de Kit. Na trajetória pela África, o casal e o amigo terão parcialmente a companhia da família Lyle (Jill Bennett, sra. Lyle, e Timothy Spall, Eric Lyle). Ainda que sob o impacto de uma nova geografia, e, portanto, distante do caos que varria a Europa, Port e Kit traziam consigo a aridez afetiva de um casamento que se arrastava há mais de dez anos. O deserto do Saara anunciar-se-ia como o espelho do próprio estado desertificado do casal – a incomunicabilidade. Frente à ausência de um diálogo genuíno, restava-lhes a frivolidade comportamental, fato que os levaria a uma avalanche de acontecimentos. Impossibilitados de dizerem a verdade acerca de seus anseios e aversões, Port e Kit deixavam sempre em suspenso aquilo que mais lhes incomodava. Diante de um turbilhão de sentimentos, restava-lhes o medo do ridículo, da impotência, já que é comum tornarmo-nos vulneráveis diante do “outro” para o qual confessamos o nosso sentimento: dá-lhe força e insubmissão; e a nós, que despimos nossa alma, dão-nos suscetibilidade e fraqueza, como se estivéssemos à beira de uma mendicância de afeto – seria humilhante. Portanto, Port e Kit caminhavam para o oposto do que pulsava internamente – para o silêncio, e, por conseguinte, para a fugacidade da própria verdade submersa de ambos.Simposio escritores que van al cine (y se les nota)Centro de Estudios de Teoría y Crítica Literari

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