Neste artigo fazemos um estudo comparado de dois poemas narrativos clássicos (Odisséia, de Homero e O Peregrino, de John Bunyan) com o intuito de demonstrar que os tipos de desafios enfrentados pelos heróis estão relacionados aos valores religiosos dos seus autores. Mostramos que a teologia de Homero era baseada na medida grega enquanto a de Bunyan voltava-se para a valorização da liberdade espiritual. Além da explicitação ideológica por meio das falas dos heróis, suas posições valorativas podem ser localizadas no gênero em que melhor se enquadra cada uma dessas narrativas. Por essa razão, recorremos a Mikhail Bakhtin (2006) e sua teoria dos gêneros narrativos para chegar a conclusões sobre os posicionamentos dos poetas por trás da espécie de desafios que escolhem para seus protagonistas. Recorremos ainda à Teopoética (FERRAZ, 2005; KUSCHEL, 1999), ramo da literatura comparada que nos fornece instrumentos de análise dos intertextos religiosos em poesia