Microinfiltração com contaminação salivar em restaurações classe V (estudo in vitro)

Abstract

Tese de Mestrado, Medicina Dentária, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Dentária, 2013The main aim of the present study was to evaluate the influence of saliva contamination in the microleakage of a glass ionomer material and a resin composite bonded with two different adhesive systems. In this study 30 teeth are half cut, longitudinally with a diamond blade and in each half a class V cavity was performed. Specimens were randomly divided by three groups according to the material to study; (Group 1 Ionofill molar, VOCO; Group 2 Solobond M, VOCO and Grandioso, VOCO; Group 3 FuturabondM, VOCO and Grandioso, VOCO). In each group 10 specimens were restored according to the manufacturer´s instructions and 10 were contaminated with fresh saliva prior to the restorative material and after curing the adhesive in the groups where adhesive was used (groups2 and 3). Composite resin were inserted in groups 2 and 3 with 2 increments of 2mm and cured for 40sec each. All specimens were thermal cycled by immersion in two interchanging baths of 5ºC and 55ºC, for 500 cycles. Specimens were isolated with wax and nail polished and immersed in a 2% methylene blue solution for 4h. Each specimen was sectioned across the restoration in three segments of 1mm each with a diamond saw at a cutting device and microleakage degree evaluated under a stereomicroscope. According to Kruskall-Wallis, both enamel and dentin microleakage revealed differences between groups (p<0,05). Enamel microleakage was lowest for the self-etch/composite restoration system either with saliva or without saliva contamination (p<0,003). In dentin, etch-rinse/composite and glass ionomer without saliva contamination groups yielded significantly lower microleakage than the other groups (p<0,003). The self-etch/composite was the only restoration system where saliva contamination did not influenced enamel and dentine microleakage (p<0,003). The degree of microleakage for the self-etch/composite groups with and without saliva contamination, was found to be lower in enamel than in dentin (p<0,05). These results suggest that microleakage at the enamel and dentine margins of a restoration performed with saliva contamination is affected by the restorative system used.O desenvolvimento da medicina tem promovido um aumento da esperança média de vida nos últimos tempos (Mackenbach., 2013). O aumento significativo no número dos idosos é acompanhado por um conjunto de problemas muito específicos no que respeita aos cuidados de saúde oral, já que os estes estão a viver mais e a reter e os seus dentes naturais durante mais tempo (Chalmers., 2006). Os idosos são mais vulneráveis à cárie devido a várias condições médicas, tais como o Síndrome de Sjogren e radiação da cabeça e pescoço que reduzem a produção de saliva (Turner et al., 2007). Além disso, estes pacientes são frequentemente medicados com drogas que também reduzem o fluxo de saliva e causam xerostomia (Gareri et al., 1998; Baldoni et al., 2010). Um dos problemas específicos da população idosa relaciona-se com a maior prevalência de cárie radicular em comparação com os adultos jovens. A localização da cárie radicular está associada à idade e à recessão gengival, que expõe a superfície da raiz (Watanabe., 2003; Meneghim et al., 2002). Um dos principais problemas destas lesões é a maior susceptibilidade das superfícies radiculares à cárie, devido ao elevado pH crítico da dentina (de 6,8 a 6,0) em comparação com o pH crítico do esmalte ( 5,9 a 5,2.).Outro problema deste tipo de lesão está associado ao isolamento em relação à contaminação salivar, devido à proximidade com tecidos gengivais e dificuldades de acesso interproximal; à grande quantidade de água e menor quantidade de matéria inorgânica na dentina. São factores críticos porque afetam a resistência de união à dentina (Hoppenbrouwers et al., 1986). A microinfiltração corresponde à passagem indetectável de bactérias, fluidos, moléculas ou iões entre as paredes da cavidade e do material de restauração (Kidd., 1976 apud Alani and Toh., 1997). A integridade marginal depende de numerosos factores, incluindo o tipo de material restaurador utilizado, do tipo de cavidade e as condições de isolamento (Murray et al., 2000). Portanto, a selecção de um material em detrimentos de outro é de importância crítica para a diferença entre o sucesso e falha de uma restauração a longo prazo (Maryniuk et al., 1986). O ionómero de vidro modificado por resina, o ionómero de vidro convencional, os compómeros, resinas compostas e amálgama são os materiais restauradores frequentemente usados para restaurar lesões profundas de cárie (Nicholson., 2006; Mickenautsch et al., 2011; Sakrana et al., 200). Objectivo O principal objetivo do presente estudo é avaliar a influência da contaminação com saliva na microinfiltração de restaurações classe V restauradas com de ionómero de vidro e resina composta com dois diferentes sistemas adesivos (etch-and-rinse e self-etch) Materiais e métodos 30 dentes foram seccionados ao meio, longitudinalmente com uma lâmina de diamante (Diamond Wafering Blade Buehler, Série 15HC Diamante N º 11-4244, Deutschland);em cada metade foi realizada uma cavidade de classe V (3 × 2 × 2 milímetros) na superfície da raiz com uma de broca cilindríca de diamante, sob refrigeração a água. As amostras foram divididas aleatoriamente em três grupos de acordo com o material a estudar, (Grupo 1 Ionofill plus, VOCO; Grupo 2 Solobond M, VOCO e Grandioso, VOCO; Grupo 3 FuturabondM, VOCO e Grandioso, VOCO). Em cada grupo de 10, os espécimes foram restaurados de acordo com as instruções do fabricante e os outros 10 foram contaminados com saliva antes do material restaurador. Contaminação Saliva foi realizado com saliva fresca e aplicada durante 5 segundos com uma microescova antes da inserção do material restaurador e após a fotopolimerização do adesivo o adesivo nos grupos em que se utilizou adesivo (groups 2 e 3). Nos grupos 2 e 3 após a contaminação salivar, a resina composta foi inserida em incrementos de 2 milímetros e fotopolimerizados por 20seg. (600mW/cm2- Fotopolimerizador de halogénio XL3000 de série n º 105944, 3M ESPE Dental Products, St Paul, MN, EUA). Todos os espécimes foram sujeitoa a termociclagem. As amostras foram isoladas com cera na câmara pulpar e ápex com e cera e verniz deixando uma margem de 1 milímetro à restauração As amostras foram, em seguida, imersas em solução de azul de metileno a 2%, durante 4 h e cuidadosamente lavadas com água corrente destilada. Cada amostra foi seccionada longitudinalmente em 2 segmentos com uma lâmina de diamante 0,3 (Diamond wafering Blade -Buehler, Série 15HC Diamante N º 11-4244, Alemanha), com um dispositivo de corte (Isomet 1000 Buehler, Illinois, EUA). As superfícies expostas foram polidas e examinadas em um microscópio estereoscópico (Meiji Techno EMZ-8TR n serial. º 411.479-Meiji Techno Co., Saitama, Japão), com aquisição da imagem digital, a fim de quantificar o grau de infiltração. Cada superfície foi classificada de acordo com a classificação ISO 14765 (2003). Os dados foram analisados com testes estatísticos de Kruskal-Wallis, Mann-Whitney com correcção Bonfferroni. O teste Wilcoxon foi realizado para permitir comparações de 2 variaveis dependentes (infiltração no esmalte e infiltração na dentina). Resultados Nas margens de esmalte a percentagem de grau de microinfiltração variou de 18% no grau 2, para 46% a de grau 0. Nas margens de dentina, a percentagem variou de 5% no grau de 1 a 75% no grau 3. De acordo com o Teste de Kruskall-Wallis, a microinfiltração no esmalte e na dentina revelaram diferenças entre os grupos (p <0,05). Para os 15 comparações realizadas com os testes de Mann-Whitney posthoc, o teste de Bonferroni corrigiu a significância estatística para p <0,003. No esmalte o grau de microinfiltração foi inferior para o sistema de restauração self-etch/composito tanto com contaminação como sem contaminação salivar (p <0,003). Estes valores foram seguidos pelo etch-rinse/composite e ionómero de vidro sem contaminação com saliva e, finalmente, por etch-rinse/composite e de ionómero de vidro com contaminação salivar. Em dentina, os grupos etch-rinse/composito e ionómero de vidro sem contaminação salivar obtiveram menor infiltração do que os outros grupos (p <0,003). O self-etch/composito foi o único sistema de restauração onde a contaminação salivar não influenciou a microinfiltração no esmalte e na dentina (p <0,003). O grau de microinfiltração foi mais baixa no esmalte do que em dentina (p <0,05) para os grupos do self-etch/composito (3a e 3b), com e sem contaminação salivar. Para os demais grupos testados não houve diferenças no grau de microinfiltração entre esmalte e dentina. Discussão No presente estudo os materiais utilizados demonstraram ter comportamentos diferentes. O maior grau de microinfiltração, em dentina e esmalte, foi registado nas restaurações de etch-and-rinse/composito e ionómero de vidro. Os resultados estão em concordância com o esperado no que respeita ao etch-and-rinse, mas são controversos no caso do ionómero, uma vez que é tido como um material mais tolerante à contaminação salivar (McLean et al. 1985) e por aderir melhor a estruturas humedecidas (Burges and Gallo, 2002) . Este facto sugere por um lado que mais estudos têm que ser realizados com diferentes marcas de materiais, além de que o tecido dentário é uma variável que é difícil de controlar e pode interferir com os resultados. O sistema de restauração self-etch/compósito não foi influenciado pela contaminação em ambas as margens, apesar de ter sido menos eficaz nas margens em dentina. Este resultado não seria de esperar uma vez que o pH do self-etch não suficientemente baixo para acondicionar o esmalte tanto quanto a dentina, uma vez que o grau de mineralização é diferente (Moszner et al., 2005). Apesar disso este resultado é semelhante a estudos anteriores nos quais os self-etch também teve piores resultados em dentina (Brackett et al, 2003; Fabianelli, 2003). Nesse sentido os materiais utilizados tiveram influência nas diferenças registadas entre o esmalte e a dentina, apesar deste facto só se verificar no grupo do self-etch. Dada a sobrevalorização da microinfiltração pelo azul de metileno, pode não ser correto selecionar um material em detrimento de outro só com base num estudo, além de existirem variáveis não desejáveis que podem contribuir para alterar os resultados como a marca do material a sensibilidade do operador e a variabilidade da estrutura dentária. Conclusões A partir da análise dos resultados obtidos no presente estudo in vitro, concluiu-se que: O grau de microinfiltração nas margens em esmalte e dentina foi semelhante nas restaurações em ionómero de vidro e etch-and-rinse/composito, diferindo apenas no grupo do self-etch/composito. A microinfiltração foi diferente em dentina e esmalte apenas nas restaurações em self-etch/composito. O mesmo estudo deveria de ser realizado com outras marcas comerciais dos mesmos materiais: de ionómero de vidro, self-etch e ecth-and-rinse. Outro tipo de estudo, in vivo ou in vitro (para além do estudo da microinfiltração), deveria ser realizado de modo a atingir o mesmo objectivo deste estudo

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