Anna Carolina Engel do Lago Torre

Durigan, Alef Perini

Francescon , Giovanni Tortelli Veloso

Kawakami , Roselma Marcele da Silva Alexandre

Magalhães , Gabriel Henrique da Costa e Silva

Pereira , Gabriela Gentilin

Salomão , Lucas Pompeu

Portuguese

Publicações UNIVAG

 101 Saúde & Conhecimento – Jornal de Medicina Univag (v.11 – 2023) ISSN 2595-4148  AÇÃO EDUCATIVA INTERPROFISSIONAL PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA   Alef Perini Durigan1 Anna Carolina Engel do Lago Torre 1  Gabriel Henrique da Costa e Silva Magalhães 1  Gabriela Gentilin Pereira 1 Giovanni Tortelli Veloso Francescon 1 Lucas Pompeu Salomão 1 Roselma Marcele da Silva Alexandre Kawakami 2  Ao longo das últimas décadas, o modelo de atenção à saúde mental vem passando por mudanças em sua estrutura e ideologias, as quais têm sido embasadas, principalmente, na reforma psiquiátrica e buscam priorizar ações voltadas para a inclusão social, integralidade do cuidado e autonomia dos indivíduos. Para isso, a Estratégia Saúde da Família (ESF), atual organização da Atenção Primária no contexto do SUS, tornou-se fundamental, pois considera o contexto biopsicossocial na qual as pessoas portadoras de transtornos mentais e seus familiares estão inseridos e possibilitam ações comunitárias que favorecem um tratamento no próprio território onde vivem.1-2 Além disso, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço especializado que atua complementando a atenção básica, assim como o Núcleo de Apoio à Saúde da Família - NASF, o qual possibilita o acesso a profissionais de diferentes áreas de conhecimento para dar suporte a equipe de Saúde da Família.1 Entretanto, ao observar a realidade de alguns usuários desse sistema na área de abrangência de uma Estratégia de Saúde da Família em Várzea Grande, percebe-se que a oferta de serviços na abordagem psicossocial não é, ainda, suficiente para a demanda, e que muitos usuários desconhecem a Rede de Atenção Psicossocial. Ademais, nota-se a falta de informação sobre os transtornos psicológicos, como depressão e ansiedade, e sobre os cuidados com a saúde mental, o que corrobora com a permanência de estigmas. Levando esses fatos em consideração, foi desenvolvido um projeto de extensão                                                           1 Discente do Centro Universitário de Várzea Grande - UNIVAG 2 Docente do Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG. Mestre em Enfermagem. Especialista em Auditoria dos Serviços de Saúde. Especialista em Vigilância em Saúde. Graduada em Enfermagem.  Saúde & Conhecimento – Jornal de Medicina Univag (v.11 – 2023) ISSN 2595-4148 102  que busca dar suporte para uma Unidade de Saúde da Família (USF), em Várzea Grande para atuar nos problemas citados acima, os quais foram experienciados por estudantes de medicina do primeiro semestre do Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), durante as práticas da grade do Programa Extensionista Integrador (PEI) no primeiro semestre de 2023. Sendo assim, o objetivo deste estudo é relatar a experiência dos acadêmicos de medicina no projeto de extensão sobre as ações interprofissionais para a promoção da saúde mental na atenção primária.  Trata-se de um relato de experiência de seis acadêmicos de medicina do primeiro semestre, acerca do projeto desenvolvido durante as aulas da grade do PEI, acompanhados por uma preceptora. A instituição de ensino localiza-se em Várzea Grande e desenvolve atividades nas unidades de saúde da família, com o apoio da secretaria de saúde, os quais buscam integrar o ensino com a oferta de serviços em prol da comunidade.  Foi realizado o processo de territorialização que, em conjunto com a construção de um mapa inteligente, serviram como base na priorização do problema, seus valores e interesses. Dentre esses, foi observado uma maior prevalência de casos de ansiedade e depressão, o que motivou uma nova coleta de informações por meio de visitas domiciliares.  Os dados coletados e a teorização do projeto foram descritos nas ferramentas de planejamento estratégico (diagnóstico situacional e plano de ação), propostas pela coordenação do curso, além de organizados no Arco de Maguerez, o qual segue a Metodologia da Problematização, com os principais tópicos apresentados a seguir: 1. Observação da realidade: Problemas relacionados à saúde mental (esquizofrenia, ansiedade, depressão e autismo); déficit no acesso à atendimento especializado (psicóloga e psiquiatra). 2. Pontos-chave: Demora do atendimento especializado; Desinformação e estereótipos sobre os transtornos mentais; Desconhecimento sobre os pontos de atenção psicossocial. 3. Teorização: Conceito de saúde mental; Rede de Atenção Psicossocial; Dicas para relaxamento mental; Fisiopatologia dos transtornos de ansiedade e depressão. 4. Hipóteses de solução: Mobilizar a comunidade a participar das atividades da USF por meio das redes sociais ; Dar dicas para melhorar a saúde mental; Informar a população sobre a Rede de Atenção Psicossocial; Promover o conhecimento sobre  Saúde & Conhecimento – Jornal de Medicina Univag (v.11 – 2023) ISSN 2595-4148 103  sinais e sintomas da ansiedade e da depressão; Propiciar o acesso a especialistas (psicólogo e psiquiatra). 5. Aplicação à realidade: Criar um instagram para a USF; Elaborar um banner para a unidade; Organizar uma roda de conversa interprofissional; Realizar uma dinâmica explicando sobre a rede de atenção à saúde, especificamente a rede de atenção psicossocial. Diante disso, os alunos convidaram os indivíduos da microárea a participarem de uma roda de conversa interprofissional sobre saúde mental, por meio de panfletos, distribuídos diretamente nas casas, e de convites virtuais no grupo do bairro. Assim, as atividades propostas na teorização foram realizadas em uma capela próxima a USF, no período da manhã, e foram coletadas 19 assinaturas de presença, tendo em vista que alguns participantes não preencheram a lista. O encontro foi realizado no dia 16 de junho de 2023, sexta-feira, às nove da manhã, no qual compareceram os discentes de medicina, a preceptora (enfermeira), os profissionais da equipe de saúde da família, incluindo a gerente da unidade, uma psicóloga, uma psiquiatra e alguns moradores da comunidade.  Inicialmente, os estudantes propuseram alguns exercícios de alongamento e respiração, como uma forma de superar a timidez dos participantes e relaxá-los. Logo, foi iniciado o primeiro assunto da roda de conversa interprofissional, sobre promoção da saúde mental, no qual uma discente apresentou dicas de relaxamento cognitivo e como inserir tais técnicas no cotidiano e alguns dos participantes comentaram os métodos que utilizavam. O assunto também foi enfatizado pela psicóloga, que explicou a importância da atividade física e a necessidade de ter hábitos diários saudáveis, além de sanar as dúvidas que surgiram durante a discussão.  Adiante, dois alunos apresentaram os principais sinais e sintomas de ansiedade e depressão, etapa importante para que a parcela da comunidade presente se identificasse com alguns sintomas emocionais e entendesse que esses distúrbios também apresentam sintomas físicos, o que era desconhecido pela maioria. Os novos conhecimentos adquiridos fizeram com que houvesse participação real dos indivíduos presentes na roda de conversa, fazendo com que compartilhassem emoções, acontecimentos, sintomas semelhantes e histórias pessoais. Nesse mesmo período foi evidenciando a importância do tratamento dos transtornos psíquicos, contribuindo para melhor compreensão da população sobre o assunto, sendo a etapa que mais perdurou.   Saúde & Conhecimento – Jornal de Medicina Univag (v.11 – 2023) ISSN 2595-4148 104  A psiquiatra esteve presente na roda de conversa com o objetivo de abordar a importância de buscar assistência psicológica e psiquiátrica, para solucionar casos de problemas psiquicossociais. Sendo assim, sua menção foi importante para abordagem dos estigmas sobre essas doenças, que ainda assim, continuam prevalentes na atualidade.  Por fim, foram apresentados os serviços de saúde envolvidos na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), esclarecidos sobre o papel da USF, dos CAPS, da UPA, do Pronto-socorro e do SAMU, além das maneiras de contato com cada serviço de saúde. A última etapa foi constituída de uma dinâmica para melhor entendimento da rede pelos integrantes, para isso, foi construído um caso fictício de uma família que necessitava de atenção psicossocial, sendo questionado aos participantes a respeito do fluxo e contrafluxo de cada integrante da família com base na necessidade de seu tratamento, sendo todas as perguntas respondidas satisfatoriamente e utilizado barbantes para representar a teia de cuidados da rede.  Conforme o planejado, o projeto finalizou às 11 horas da manhã e, posterior a isso, os participantes foram liberados ao Coffee Break e orientados a avaliar a roda de conversa interprofissional, que resultou em 100% avaliada com nota máxima de satisfação. Tanto no processo de territorialização como durante a realização da roda de conversa, constatamos que a população apresenta dificuldades no acesso ao atendimento psicológico e psiquiátrico, visto que muitos dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde, devido aos altos custos das consultas, sendo que a região coberta pela USF não propicia nenhum profissional dessas áreas.  Associado a isso, os discentes identificaram que muitos participantes desconheciam os pontos da RAPS e os tratamentos indicados para cada situação, evidenciando uma falha do sistema de saúde, que tem como princípio a divulgação da informação aos usuários quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização prevista pelo Art. 7.º da Lei 8.080.3 Também foi observado a presença de estigmas por parte dos participantes, impedindo muitos de buscarem ajuda, tanto familiar como profissional. Isso reflete uma mentalidade estigmatizada, que perdura desde os séculos passados, nos quais transtornos psicológicos eram tratados como loucura, demonização e até mesmo castigo divino, resultando em julgamentos equivocados pelos membros da comunidade e  Saúde & Conhecimento – Jornal de Medicina Univag (v.11 – 2023) ISSN 2595-4148 105  possível piora dos sintomas. Sendo assim, o projeto apresentou o potencial de promover a saúde mental, informando a comunidade sobre como melhorar o próprio estado psicológico, com atividades cotidianas, direcionando-a a procurar apoio nas Redes de Atenção Psicossocial. Foi notável o interesse por parte da população em conhecer os sintomas de ansiedade e depressão, bem como os métodos de tratamento, afirmando a relevância do projeto no território e o potencial de transformar a realidade que é o foco do desenvolvimento dos projetos de extensão na comunidade. Além disso, o grupo propiciou um fácil acesso a profissionais da saúde mental, no qual a psicóloga e a psiquiatra estavam à disposição para direcionar de forma coletiva ou individual, caso a pessoa desejasse. Entretanto, a falta desses especialistas para atuar na região, por meio do Sistema Único de Saúde, dificulta o encontro periódico do grupo.  Conclui-se então que os objetivos de tornar o indivíduo um agente de sua própria saúde, de informar a população acerca dos serviços oferecidos pelo SUS nas RAPS e de derrubar estigmas relacionados a transtornos psíquicos e seus tratamentos foram alcançados com sucesso. Além disso, é notório mencionar a efetividade do projeto realizado pelos discentes e pela docente do Univag, em conjunto com a equipe multiprofissional da Unidade de Saúde da Família, proporcionando a integração ensino-serviço e contribuindo com a saúde da comunidade de maneira eficaz.  Também é válido mencionar a fulcral importância da presença da psicóloga e da psiquiatra no dia da atividade, visto que o papel de cada profissional foi importante para a conclusão dos objetivos, contribuindo para a publicidade do projeto e impacto na promoção da saúde mental, bem como o incentivo de tornar o indivíduo promotor da própria saúde, ainda demonstrando a potencialidade do desenvolvimento de ações interprofissionais, quando dois ou mais profissionais se juntam para a realização de atividades.  Dessa forma, os conhecimentos adquiridos ao longo de todo o projeto colaboram com a formação de futuros médicos que estarão em concordância com a atuação humanizada, à qual é preconizada pelo Ministério da Saúde.  Dito isso, este relato mostra a validade dos projetos de extensão na Atenção Primária à Saúde, visto que a inserção de alunos de medicina, mesmo que no ciclo  Saúde & Conhecimento – Jornal de Medicina Univag (v.11 – 2023) ISSN 2595-4148 106  básico, corroboraram para a melhora da situação de saúde mental de uma comunidade, o que torna esse um subsídio para a produção de novos estudos acerca da temática.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  1. Universidade Federal do Maranhão. UNA-SUS/ UFMA redes de atenção à saúde: rede de atenção psicossocial-RAPS/ Paola Trindade Garcia; Regimarina Soares Reis(Org)/ São Luís: edufma, 2018. 2. Wenceslau LD, Ortega F. Mental health within primary health care and Global Mental Health: international perspectives and Brazilian context. Interface (Botucatu). 2015; 19(55):1121-32.  3. Brasil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm.  

AÇÃO EDUCATIVA INTERPROFISSIONAL PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

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