'Instituto Superior de Ciencias Sociais e Politicas'
Abstract
Dissertação de Mestrado em Estudos AfricanosPesquisas empíricas indicam que nas zonas rurais da Guiné-Bissau, as mulheres têm conquistado relativa autonomia, nomeadamente nas questões da gestão dos seus agregados familiares. Contudo, existem ainda grandes desafios ao seu papel, notadamente o braço de ferro permanente entre a agenda feminista euro-americana, consolidada na ideologia de igualdade de género através da emancipação e independência da mulher sobre todos os aspetos da sua vida e corpo, contrariamente às circunstâncias africanas marcadas pela atualidade dos usos e costumes assentes na visão tradicional e patriarcal do papel do homem e da mulher na sociedade, que muitas vezes, aos nossos olhos, parece aliená-la da participação nos processos de tomada de decisão nos assuntos ligadas à sua comunidade, família e até mesmo da sua vida. Estas duas mundividências, tradicional e estrangeira/importada têm marcado a realidade das mulheres nas zonas rurais guineenses, particularmente das chefes-de-famílias, que apesar da relativa autonomia motivada pela ausência masculina em casa, o seu poder e espaço de ação permanecem limitados. A esta condição somam-se problemas como a pobreza e consequente marginalização no acesso aos direitos básicos. Para atenuar estes desafios, as organizações da sociedade civil têm levado a cabo vários projetos junto destas comunidades, com a finalidade de empoderar as mulheres, todavia, e apesar de alguns resultados positivos, têm surgido novos problemas, nomeadamente a criação de dependência face a estas ajudas. A efemeridade destes apoios, de modo geral não permite o desenvolvimento sustentável, o que demanda das mulheres diferentes estratégias e ações para a (sobre)vivência e manutenção dos seus agregados e criação de mudanças substantivas a nível socioeconómico perduráveis. Neste sentido, as mulheres chefes-de-família têm resistido através do mutualismo feminino; cultivo e comercialização de produtos; criação de fundos monetários para a escolarização dos filhos, aquisição de terras para cultivo e até mesmo construção de casas.Empirical research indicates that in rural areas of Guinea Bissau, women have gained relative autonomy, particularly in matters of household management. However, there are still great challenges to their role, notably the permanent tug-of-war between the Euro-American feminist agenda, consolidated in the ideology of gender equality through women's emancipation and independence from all aspects of their lives and bodies, contrary to the African circumstances marked currently by the uses and customs based on the traditional and patriarchal vision of the role of men and women in society, which often, in our eyes, seems to alienate them from participating in decision-making processes in matters related to their community, family, and even their lives. These two worlds, traditional and foreign/imported, have marked the reality of women in rural Guinean areas, particularly these who are household heads, who despite the relative autonomy motivated by the absence of male authority at home, continue to feel their power and space for action limited. This condition is compounded by problems such as poverty and consequent marginalization in access to basic rights. To alleviate these challenges, civil society organizations have carried out several projects in this communities to empower women, although some positive results, new problems has arisen, namely the creation of dependence on these aids. The ephemeral nature of these assistances, in general, does not allow for sustainable development, which demands from women different strategies and actions for the subsistence and maintenance of their households and the creation of lasting substantive changes at the socioeconomic level. In this sense, women heads of households have resisted through female mutualism; cultivation and commercialization of these products; creation of monetary funds for the schooling of children, acquisition of land for cultivation and even construction of houses.N/