Alvariz, Fernando Guerra

Carvalho, Francisca. Gonçalves de

Fonseca, Fátima de Barros

Sarno, Euzenir Nunes

Soares, Maria Consuelo Gondim

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. lnst. Med. trop. São Paulo 20(1):1-5, janeiro-fevereiro, 1978 CDU 616.988 IDENTIFICAÇÃO DO HBsAg EM TECIDO HEPÁTICO PELAS TÉCNICAS •DE ORCEíNA E ALDEíDO-FUCSINA DE GOMORI Euzenir Nunes SARNO (1), Francisca. Gonçalves de CARVALHO (2), Fernando Guerra ALVARIZ (3), Maria Consuelo Gondim SOARES (4) e, Fátima (de Barros FONSECA (5) RESUMO Utilizando tecido hepático incluido em parafina, foi pesquisado HBsAg, segundo téc-nicas histoquímicas desenvolvidas por SHIKATA e outros. Estudou-se uma série de 120 casos de patologia hepática proveniente de biópsia.s de agulha e autopsia. Observou-se positividade em 21 casos. Células vítreas, descritas por POPPER & HADZYANNIS, fo-ram encontradas em 17 dos 21 casos positivos. Sendo técnicas. de fácil execução, poder-se-ía introduzi-las na rotina, contribuindo assim, para a determinação da freqüência des-ses antígenos nas formas clínicas da infecção pelo vírus B da hepatite. INTRODUÇÃO A pesquisa de Antígeno Australia 1 no te-cido hepático desenvolveu-se a Partir da iden-tificação do HBsAg (antígeno da superfície) e HBcAg (antígeno "core"), por técnicas ultra-microscópica 2,3,5. O componente "core" se encontra no núcleo de hepatócitos e parece que aí é formado, adquirindo no citoplasma um envoltório com especificidade morfológica de antígeno de superfície 7,9 (HBsAg). Os estudos por imunofluorescência têm perfeita correspondência com os realizados por microscopia eletrônica 11, demonstrando que os dois antígenos se localizam em áreas distintas na célula hepática5,6. Assim, nas hepatites agudas. são observados tanto no nú-cleo como no citoplasma, e distribuídos difu-samente no lóbulo hepático 10. Nos quadros de imunossupressão a, nas leucemias rn, nos trans-plantes 12,13 há predomínio do antígeno nu-clear 14. Em contraste, os portadores sãos apre-sentam ·fluorescência intensa do antígeno de superfície 14, sugeririP,o menor replicação viral no núcleo e abundallte formação de proteína codificada pelo vírus no citoplasma 3,4. Tais portadores sãos, quando estudados por imu-noeletromicroscopia, , mostram o antígeno ar-ranjado em grupamentos,. no interior do retí-culo endoplasmático hipertrofiado e dilata-do :20,22. Recentemente, estudos histoquímicos 21 possibilitaram a indicação do antígeno de su-perfície no hepatócito. POPPER 19 e HJAD'." ZY ANNIS 10 descreveram, em lâminas corad~S pela HE, um aspecto peculiar de células cori-tendo HBsAg, a que. chamaram "ground glass cells". Essas células mostram citoplasma vi-treo eosinofílico, finament_e granular, quase homogêneo, Cbntrastando com o aspeito gra-nular e ligeiramente _basofílico do hepatócito normal. As. vezes essa área citoplasmática se apresenta circundada por halo claro seme-lhante a c_orpúsculo de inç~y._.§ã.0.~~---9 núcleo é . ;-::>~;:t rsr✓.,~~~ (1) Titular da Disciplina de Patologia Geral e Fisiopatologia, da Faculdade de C½P'.~i-ts- 'Médicas dâ:GT:!,1i)frsida-de do Estado do Rio de Janeiro .. Rio de Janeiro, Brasil. , f/ "';t ,--.. .. ,-.-.. _ _ '··~-;;,, \\ (2) Auxiliar de Ensino da Disciplina de Patologia Geral e Fisiopatologia da F1pild'ade:: qe:yCi~.nc.iáS, MÉ,9,i<\~s da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil. . / 1 ?·~ f , : .. · ·: - . : ,. , :' ; \ (:~) Chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital de Bonsucesso. Rio de Ja1úiir◊', .. ·BI'aSil.' "i' (4) Assistente do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Central do IASElRJ:. Rio de Janeiro; B;iJ'ú. (5) Acadêmica de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidad:~.\lo Estado do Rio de _.i"_'._fieiro. Rio de Jari.eiro, Brasil. \ \ , \~ -":.::, '-._"-, 1 SARNO, E. N.; CARVALHO, F. G. de; ALVARIZ, F. G.; SOARES, M. C, G. & FONSECA, F. de E. - Identi-ficação do HBsAg em tecido hepático pelas técnicas de orceina e aldeido-fucsina de Gomori. Rcv. Inst. Med, trop. São Paulo 2-0 :1-5, 1978. normal e frequentemente duplo às vezes des-locado para a periferia. As células que con-têm antígeno estão difusamente distribuídas, isoladas ou em grupo, sem predileção por ne-nhuma parte do lóbulo hepático. MATERIAL E MÉTODOS Foram estudadas biópsias de 52 casos de hepatite aguda (51 habitual e 1 fatal), 29 de hepatite crônica (1 subaguda, 4 persistente e 24 crônica agressiva) e material de autopsia de 15 casos de cirrose, 12 de hepatoma (4 as-sociados a cirrose), 8 de linfoma e 4 de leuce-mia (Tabela I) . A pesquisa de HBsAg no so-ro pelas técnicas de contra imunoeletroforese e hemaglutinação foi realizada em 39 casos de hepatite aguda e 19 de hepatite crônica. Não foram realizadas pesquisas de HiBsAg no soro dos demais casos incluídos no trabalho. Con-sideramos controles os pacientes com hepatite viral aguda com HBsAg negativo no soro (pes-quisa feita nas primeiras semanas de icterícia) e portadores de hepatopatias não relacionadas a vírus. Tanto o material das biópsias como os de autopsia foram fixados em formo! a 10% e incluídos em parafina. As lâminas fo-ram coradas por hematoxilina eosina (HE), retículo de Gomori e tricrômico de Go-mori. Para pesquisa de HBsAg, cortes de 5µ foram corados pela orceína, aldeído-fucsi-na básica de Gomori e aldeído-fucsina básica associada ao metanil amarelo 21. A técnica al-deído..:.fucsina de Gomori é a mesma descrita para fibras elásticas no "Manual of Histologic Sta'ining Methods of the Armed Forces Insti-tute of Pathology" 16. Como coloração de con-traste podem ser usados o tricrómico de Go-mori, o metanil amarelo ou Van Gieson, sendo g_ue, obtivemos melhores resultados com o pri-TABELAI Patologias diversas estudadas pelos métodos de colora-ção da orceína e aldeído-fucsina de Gomori Patologia N• de casos Hepatite aguda 52 Hepatite crônica 29 Cirro.se 15 Hepatoma 12 Linfoma 8 Leucemia 4 Total 120 melro, com exposição do material por apenas alguns segundos ao corante. A técnica pela cir-ceína segue as etapas do método de Hart para fibras elásticas 16, com algumas alterações de·-senvolvidas. pelo grupo de Mount Sinai 10. Utilizamos, para testar os corantes ma-terial comprovadamente positivo de duas au-topsias, oferecido pelo Dr. M. A. Gerber, do Hospital Mount Sinai de New York. RESULTADOS Obtivemos 21 casos positivos, assim distri-buídos: 6 de hepatite vira! aguda, 2 de hepa-tite crônica, 7 de cirrose e 6 de hepatoma (Ta-bela II). Nos casos considerados positivos po-díamos observar células com massas intraci..; toplasmáticas, coradas em castanho pela or-ceína, e cor rosa-violeta quando coradas pela fucsina básica (Fig. ll. Células estreladas, isoladas ou em grupo mostravam citoplasma totalmente corado. As células positivas eram vistas predominantemente à periferia do ló-bulo, junto aos septos de tecido conjuntivo e espaço porta. Podiam-se ver também células coradas isoladas, com aspecto de corpúsculo de Councilman (Fig. 3). Na.s hepatites agu-das todos os aspectos acima descritos foram encontrados·. Nas hepatites crônicas e cirrose, não se encontraram corpúsculos acidófilos,. e o aspecto de células vítras era mais freqüente (Fig-. 4). Nos hepatomas, só se observou posi-tividade no tecido hepático não tumoral, com exceção de um deles. no qual houve envolvi-mento simultâneo nas células malignas (Fig. 2). Todos os casos de doenças linfoproliferati-vas foram negativos. HBsAg sérico foi pesqui-sado em 39 pacientes com HV A e 19 de hepa-tite crônica, encontrando-se 23 e 2 casos. po-sitivos, respectivamente. TABELA II Evidenciação da distribuição histológica de I-IBsAg, pe-las tecnicas de orceína e aldeido-fucsina de Gomori Patologia Hepatite aguda Hepatite crônica Cirrose Hepatoma Total NQ de casos HBsAg positivo 6 2 7 6 21 :$AHN(.), l•j, N. ; C'Al-:VALHO. F·. (;. 11•·: A L,\'ARtz, F' . C. : S0ANB$. ?oi . C. G. & FONSECA. Ji·. 1h• H. - h l•·nli• fi r1u:i)u do H&AJt" ., .... , t <•l'l•I<> h ,•11:ilko J•{•lu:o: t~ nicas •lt• ,, .-<;,•h1f1 ,, i:~l th•ido •íucsina d .. (;omvrL }t('\' . ln:-:1. M1•cl. ("'q). ~ ii(, J'1iulo ti>:I• (>, 1~78. l''tg. 1 - Cfluln. <-Om Ílrf•3 l'i1<>t>la~mt1ti c1.1 ))íJ~i tH'l\ d N.'t111doda í,Ol' h alo Cl:lrf•. A.ld1•ido íuesina aa.s.o<:l:Vl tl ,~o ni,,rnnll :uniw<•lo. 1500 X. Ji'ig, 2 - lnch1,!!ii.O cilopl asmá.Llca 1)<>:<lth·1,1 ..rn <.:•~lula neoJ)láalc:a . 01"<'':hm. 600 X, F'ig. :~ - O'•h1J t1. ii: r,Jud~., 1,,:,sith-a. CorpMCulo :tc1dontlf1) em h••1J<•t it~ aguda. A lde1<.to•ru~,;inu de Coniori. 1600 X. Fig. '1 - C4'1u1:1~ ,•IU'cll.~ ('!'li h,•1,0l it" crônica. II.E., 600 X. OISCUSSAO A identificação do ~Ag em tecldo hepá-tico tem colaborado uo esclarecimento da pa-togênese das hepatopatlas crônicas pr incipal-men te através de técnicas de imunofluores-cêncla G.3. A utilização de técnicas pam HBsAg em ma terial fixado em tormol facilitou e a,m .. pliou as possibllldactes de identificação desse antígeno, j á que sabemos das dificuldades de obtenção de amostras adequadas para imuno-fluorescência . Slil.KATA 21 desenvolveu uma técnica para HB.sAg, cm material inclutdo em parafina, corando-o pela aldeido-rucsina e a l-deído- tionina. que demonstraram especificida-de pelas pon tes dlsulfet.o do antígeno de su-perficie n .23_ Utili~ou também a orceina que se mostrou altamen te especi/lca não se sabendo, en~relanto. a i.é o n1omcnto, cm que ,·eaçõr-~ químicas se basela e.ssa positividade . A lite-ra tura tem con firmado a especificidade das técnicas, através de estudos comparativos, por imunofluorescência, microscopia eletrônica e imtmoeJetromicroscopia em gr ande número de casos 1.21. Os padrões por nós identificados se asse-melham a.os descritos na literatura ◄ .7.H. S1-ll-KATA 21 rela ta positividade em corpúsculos acidófilos sem, entretanto, esclarecer se se tra-tava de hepatite aguda , o que ocorreu em al-gmtS dos nossos casos. As células vitras, <"ground glass cells"l descritas por POP-PER 1!), t oram observadas na maioria dos nos-sos casos (80%). Notamos, entretan to, que nem todas as células positivas pela orceina ou fucsina básica, tinham aspecto de células vi-tras na hematox.illna eosina . Sua relação com n. presença de HBsAg não Lcm s ido comprova.-da por todos os Autores 21 . Não observamos 3 SARNO, E. N.; CARVALHO, F. G. de; ALVARIZ, F. G.; SOARES, M. C. G. & FONSECA, F. de B. - Identi-ficação do HBsAg em tecido hepático pelas técnicas de orceína e aldeído-fucsina de Gómori. Rev. Inst. Med. trop-. Sã.o Paulo 2-0 :1-5, 1978. TABELA III Correlação en~re a prc2enç:a de HBsAg no soro e no tecido hepático pelas técnicas do orccina e fucsina básica HBsAg soro I-IBsAg soro HBsAg soro Total positivo negativo não pesquisado HBsAg Patologia HBsAg tecido HEsAg tecido HBsAg tecido tecido positivo positivo HVA o 1 HC 1 o HVA - Hepatite vira! aguda - HC - hepatite crónica correlação entre a presença de HBsAg no soro e no tecido. Com relação a hepatite aguda, dos 6 casos positivos no tecido, em cinco não ha-via sido pesquisado HBsAg e um fora negati-vo. Na hepatite crônica dos dois casos positi-vos no tecido só em um, HBsAg fora pesquisa-do e positivo (Tabela III). Acreditamos que a utilização- dessas técni-cas, como método simples para identificação de HBsAg, pOde auxiliar muito na determina-ção da freqüência deste antígeno e sua rela-ção com as formas clínicas da hepatite. SUIMIMA,RY Identification-of HBsAg in hepatic tissue trough rorcein and Gomori's aldehyde fuchsin technics We have investigated thc presence of HBsAg in hepatic tissue in paraffin-mounted sections as related by Shikata and other Au-thors. Twenty one positive cases were found in 121 examined. Ground glass cells were seen in 17 cases. These technics are easHy carried out and we believe them to be convenient as laboratory routíne procedures. 4 REI<'ERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. BLlll[BE'RG, B. S. - Polymorphisms of the se-rum proteins and the development of isoprecipi-tins in transfused patients. Bull. New York Acad. JUed. 40: 377-386, 1964. 2. DANE, D. S.; CAMERON, C. H. & BRIGGS, M. - Virus-like particles in serum of patients with Australia antigen associated-hepatitis. 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