Biocca, E.

Memoria, J. M. Pompeu

Pellegrino, J.

Portuguese

Cadernos Espinosanos (E-Journal)

Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 4(2):136-139, março-abril 1962 CDU 616.995.122.22 :576.8.077.031:611. 771 A REAÇÃO INTRADÉRMICA NA ESQUISTOSSOMOSE MANSôNICA VII - Reações cruzadas com antígenos de Schistosoma japonicum e Schistosoma bovis J. PELLEGRINO (1), E. BroccA (2 ) e J. M. Pompeu MEMORIA (1) RESUMO A reação intradérmica foi praticada em 21 pacientes adultos, do sexo mas-culino, com esquistossomose mansônica parasito1ogicamente comprovada. Os se-guintes antígenos, preparados com esquistossomos adultos, foram empregados: a) S. mansoni (5, 20 e 80 f',g N/ml); b) S. japonicum (5 e 20 f',g N/ml); c) S. bovis (6 f',g N/ml). Comprovou-se a existência de relação linear entre as áreas médias das pá-pulas e o logaritmo das concentrações do antígeno de S. mansoni. As retas de regressão para os antígenos de S. mansoni e S. japonicum foram paralelas. As reações com o antígeno de S. japonicum foram menos intensas do que as obtidas com o antígeno de S. mansoni, quando empregados em concentrações equivalentes. O antígeno de S. bovis produziu resposta cutânea semelhante à verificada com o antígeno de S. mansoni contendo 5 f',g N/ml. Foi salientada a importância prática do emprêgo de antígeno homólogo, tanto no diagnóstico de casos individuais como em levantamentos epidemiológicos das esquistossomoses humanas pela reação intrndérmica. INTRODUÇÃO A injeção intradérmica de diversos extra-tos de Schistosoma (S. mansoni, S. haema-tobium, S. japonicu.m, S. bovis, S. spindale) em pacientes com esquistossomose, provoca, com grande freqüência, resposta cutânea do tipo imediato ou histamínico. Mesmo a in-jeção de antígenos heterólogos (Fasciola he-patica, F asciola gigantica, Pneumoneces me-dioplexus, Eurytrema coelomaticum, Plana-ria maculata) é capaz de desencadear rea-ções cutâneas de natureza alérgica ( cf. re-visão recente do assunto feita por KAGAN & PELLEGRINO 2 ). Entretanto, até o presente, nenhum estudo quantitativo destas reações cruzadas foi ainda realizado. No presente trabalho foram comparadas, com critério quantitativo, as reações intra-dérmicas obtidas com antígenos de S. man-soni, S. japonicum e S. bovis em pacientes com esquistossomose mansônica. MATERIAL E MÉTODOS Casos de esquistossomose - As observa-ções foram feitas em 21 pacientes adultos, do sexo masculino, com idades compreendi-das entre 20 e 35 anos. Em todos os casos foram encontrados ovos de S. mansoni nas fezes. (1) Instituto Nacional de Endemias Rurais, Centro de Pesquisas de Belo Horizonte e Instituto de Biologia, Faculdade de Filosofia da Universidade de Minas Gerais, Brasil. (2) Istituto di Parassitologia, Universidade de Roma, Itália. 136 PELLEGRINO, J.; BIOCCA, E. & MEMORIA, J. M. P. - A reação intra<lérmica na esquistossomose mansônica. VII. Reações cruzadas com antígenos de Schistosoma japonicum e Schistosoma bovis. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 4:136-139, 1962. Antígenos - Os antígenos de S. mansoni, S. japonicum e S. bovis foram preparados com esquistossomos adultos retirados de ani-mais experimentalmente infectados ( cobaia para o S. mansoni e S. japonicum e cabra para o S. bovis). Os vermes liofilizados fo. ram pesados em balança analítica e homo-geneizados em volume reduzido de solução de Coca mertiolatada a 1 :5.000. A homo-geneização foi feita em aparelho "Virtis 45" (The Virtis Co., Yonkers, New York), du-rante 10 minutos em alta rotação, em banho de gêlo. A extração do material alergênico foi feita na geladeira ( 6°C) durante 24 ho-ras. A suspensão foi centrifugada a 3.000 rpm durante 20 minutos e o sobrenadante aproveitado como antígeno. A determina-ção do nitrogênio total nos antígenos foi pra-ticada pelo método de KocH-McKEEKING 4 • Em relação ao N total, os antígenos foram usados nas seguintes concentrações: S. mansoni: 5, 20 e 80 µg N/ml; S. japonicum: 5 e 20 µg N/ml; S. bovis: 6 µg N/ml. A ajustagem do nitrogênio para os diver-sos valores referidos foi feita com solução de Coca mertiolatada. Reação intradérmica - As reações intra-dérmicas foram feitas na parte média da face flexora dos antebraços, tendo-se injeta-do 0,05 mi de cada diluição dos antígenos, em todos os 21 pacientes, com seringa BD de 0,25 mi munida de agulha adequada. Foi feita prévia casualização em relação aos an-tígenos e locais do antebraço. A leitura dos resultados foi feita após 15 minutos, tendo-se determinado as áreas das pápulas nos decal-ques tomados em papel absorvente, ligeira-mente umedecido, após delimitar com tinta o seu contôrno (PELLEGRINO & MACEDO 5 ). RESULTADOS Os resultados das reações intradérmicas ob-tidas com os antígenos de S. mansoni e S. japonicum acham-se resumidos no Quadro I. As reações cutâneas foram menos intensas com o antígeno de S. japonicum. É interes-sante observar que a área média correspon-dente ao antígeno de S. mansoni, na con-centração de 5 µg N/ml, foi muito prox1-ma da obtida com o antígeno de S. japonicum na concentração de 20 µg N/ml. QUADRO I Reação intradérmica com antígenos de S. mansoni e S. japonicum. Area média das pápulas (cm') para as diversas concentrações dos antígenos. Concentração em µg N/ml Antígenos 1 1 5 20 80 s. 1nansoni ~ 1,43 1,71 s. japonicum 1,20 -3 :Erro padrão das médias ±0,06 A regressão entre as áreas médias das pá-pulas e os logaritmos das concentrações do antígeno de S. mansoni foi linear. As retas de regressão para os antígenos de S. man-soni e S. japonicum apresentaram a condi-ção de paralelismo (Fig. 1). 2t> e -1 .g e ,;:, 1,0 ~ REAGÃO INTRADÉRMICA COM ANTÍGENOS DE s. monsoni + S. joponicum °''li< "l-o· 1/ x = log, concentraçõo dos ootígenos{µgN/mJ) Fig. 1 - Regressão linear da área média das pápulas (cm2 ) em relação ao logaritmo das concentrações dos antígenos de S. mansoni e S. japonicum. Notar o paralelismo das duas retas. 137 PELLEGRINO, J.; BIOCCA, E. & MEMORIA, J. M. P. - A reação intraclél'mica na esquistossomose mansônica. VII. Reações c1·uzaclas com antíg·enos ele Schistosoma japonicum e Schistosoma bovis. Rev. Inst. Mecl. trop. São Paulo 4:136-139, 1962. Com o antígeno de S. bovis, na concen-tração de 6 µ.g N/ml, foi obtida uma área média de 1,17 + 0,03 cm2, aproximadamen-te igual àquela verificada com o antígeno de S. mansoni na concentração de 5 µ.g N/ml. DISCUSSÃO Em vista das limitações dos métodos pa-rasitológicos, quando aplicados ao diagnós-tico da esquistossomose, os métodos imuno-lógicos têm recebido cada vez maior aten-ção, especialmente quando se trata de levan-tamentos epidemiológicos. Nos últimos anos, a reação intradérmica vem ocupando papel de destaque entre os métodos imunológicos e o seu valor diagnóstico tem sido investiga-do em diferentes regiões endêmicas, graças especialmente à iniciativa da Organização Mundial da Saúde nesse sentido. Entretan-to, desde que o homem pode ser parasitado por diferentes espécies de Schistosoma, as-sume grande importância a elucidação do seguinte problema: pacientes infectados com uma determinada espécie de Schistosoma rea-gem mais intensamente quando a reação in-tradérmica é praticada com antígenos da mesma espécie? Nossas observações mostram que pacientes com esquistossomose mansônica reagem mais intensamente ao antígeno homólogo do que ao antígeno de S. japonicum, empregado em concentrações equivalentes (µ.g N/ml). Le-vando-se em conta a diluição dos antígenos em relação ao pêso dos esquistossomos lio-filizados, esta diferença torna-se ainda mais nítida. Assim, na concentração de 20 µ.g N/ml, o extrato de S. mansoni estava diluí-do a 1 :2.000 e o de S. japonicum a 1 :1.000. WRIGHT i& col.6 observaram que em áreas de endemia pelo S. japonicum a reação in-tradérmica praticada com antígeno de S. mansoni não fornece resultados favoráveis. Assim, pelo menos em relação ao S. man-soni e S. japonicum, o antígeno homólogo deve ser preferido. Êste fato é de grande importância em levantamentos epidemiológi-cos. O valor diagnóstico da reação intradér-mica praticada com antígeno de S. bovis precisa ser melhor investigado. Resultados satisfatórios são relatados na literatura (KHA-138 LIL & HASSAN 3 1932; GoLDSTEIN 1, 1946) e os nossos dados, embora muito limitados, pa-recem confirmar as observações anteriores. SUMMAR Y T he intradermal test in schistosomiasis man-soni. V II. Cross reactions with "S. japoni-cnm" and "S. bovis" antigens. The intradermal test was performed in 21 patients with active schistosomiasis mansoni using the following adult-worm antigens: a) S. mansoni (5, 20 and 80 /.tg N/ml); b) S. japonicnm (5 and 20 µ.g N/ml); c) S. bovis ( 6 µ.g N/ml) . The regression of the mean wheal areas on log concentrations of S. man:;oni antigen was linear. The regression equations for S. mansoni and S. japonicnm antigens had the sarne regression coefficients, which shows that the lines are parallel. The cutaneous re-sponse to S. japonicnm antigen was lesse intense than to S. mansoni antigen when used in equivalent concentrations. The mean area with S. bovis antigen, at the concentration of 6 µ.g N/ml, was ap-proximately that obtained with S. mansoni antigen at the concentration of 5 µ.g N/ml. The practical importance of the selection of the antigen to be used in different re-gions endemic for S. mansoni, S. japonicum and S. haematobium was emphasized. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Dr. Benedito Afonso Ro-drigues as determinações do nitrogênio total nos diversos antígenos e ao Dr. W. Lobato Paraense por nos ter fornecido cercárias de S. japonicum eliminadas por exemplares de Oncomelania nosophora. REFERÊNCIAS 1. GOLDSTEIN, A. C. - Dépistage rapide de la bilharziose en milieu indigéne aux colo-nies par l'intradermoréaction a Schistosoma bovis. Ann. Parasitol. hum. & comp. 21:129-137, 1946. PELLEGRINO, J.; BIOCCA, E. & MEMORIA, J. M. P. - A reacão intradérmica na esquistossomose mansomca. VII. Reacões cruzadas com antígenos de Schistosoma japonicum e Schistosoma bovis. Rev. Inst. Med. trop. São Paulo 4:136-139, 1962. 2. KAGAN, I. G. & PELLEGRINO, J. - A cri-ticai review of immunological methods for the diagnosis of bilharziasis. Buli. World Health Organ. [No prelo.] 3. KHALIL, M. & HASSAN, A. - A preliminary note on a new skin reaction in human schi-stosomiasis. J. Egyptian med. Assoe. 15: 129-130, 1932. 4. KOCH, F. C. & HANKE, M. E. - Praticai Methods in Biochemistry. 5th ed. Baltimore, William Wood, 1948. 5. PELLEGRINO, J. & MACEDO, D. G. - Novo critério de leitura da reação intradérmica na esquistossomose. Rev. brasil. Malariol. & Doenças trop. 8: 499-509, 1956. 6. WRIGHT, W. H.; BOZICEVICH, J.; BRADY, F. J. & BAUMAN, P. M. - The diagnosis of schistosomiasis japonica. V. The intra-dermal and serological tests. Amer. J. Hyg. 45:150-163, 1947. Recebido para publicação em 15 janeiro 1962. 139 

The intradermal test in schistosomiasis mansoni. VII - Cross reactions with S. japonicum and S. bovis antigens

Brocca, E.

The intradermal test in schistosomiasis mansoni. VII. Cross reactions with S. japonicum and S. bovis antigens

https://www.revistas.usp.br/rimtsp/article/download/202637/186726

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