Assis, Marco Antonio

Pinto, Sérgio dos Anjos Ferreira

Prata, Eduardo Magalhães Borges

Em Questao

O mosaico florístico e estrutural de uma floresta ribeirinha em Rio Claro, SP

Archives of the Faculty of Veterinary Medicine UFRGS

NOTA CIENTÍFICA Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 984-986, jul. 2007   Introdução A composição florística nas florestas tropicais tende a acompanhar fatores de perturbação natural (queda de árvores, inundações, fogo e outros) e/ou antrópicos, definindo manchas que podem caracterizar um mosaico sucessional de espécies [1,2]. Em florestas tropicais ribeirinhas, o regime de inundação e saturação dos solos é um fator de forte influência no estabelecimento de muitas espécies [3,4]. A variação na intensidade luminosa no interior da floresta também é um fator que pode definir a presença de espécies [1,2,3]. Neste sentido, este estudo teve como objetivo, caracterizar a composição florística e a estrutura de um trecho de mata ribeirinha e, investigar possíveis associações entre distribuição de espécies e as variáveis ambientais: regimes de inundação e saturação hídrica dos solos e luminosidade.       Material e métodos A. Caracterização da área  A área estudada situa-se na região de confluência do Córrego do Jardim Bandeirantes com o Ribeirão Claro, entre as coordenadas 22o23’29’’S e 47o32’11’’W, próximo ao campus da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Rio Claro, SP. Localmente ocorrem solos aluviais hidromórficos e orgânicos, associados a litologias da Formação Rio Claro e da Formação Corumbataí [5]. O clima atual da região de Rio Claro enquadra-se na categoria Tropical (Cwa na classificação de Köppen) com verão chuvoso (outubro-março) e inverno seco (abril-setembro). A precipitação média anual é de 1.482 mm e a média de temperatura anual é de 200C, conforme dados da estação meteorológica do Centro de Análise e Planejamento Ambiental da UNESP-Rio Claro. A comunidade vegetal amostrada apresenta fisionomia bastante heterogênea, com presença de clareiras, bordas bastante alteradas e variações na largura ao longo deste trecho de floresta.   B. Coleta e análise de dados O levantamento florístico e fitossociológico foi realizado em 44 parcelas contíguas de 10 x 10 m. Foram amostrados (medidos a altura e o perímetro) todos os indivíduos arbustivos ou arbóreos com perímetro a altura do peito (PAP a 1,3 m) ≥ 10 cm. As plantas tiveram um ramo vegetativo ou reprodutivo coletado. O material botânico foi herborizado e identificado, a partir de literatura específica e por comparação com espécimes do acervo do Herbário Rioclarense (HRCB).  Foram calculados os seguintes descritores fitossociológicos: densidade, freqüência e dominância absolutas e relativas e valor de importância (VI). Também foi calculado o índice de diversidade de Shannon & Weaver (H’). Os cálculos foram processados no pacote de programa Fitopac [6]. Foi aplicada uma Análise de Correspondência Destendenciada (ACD) e de Cluster (utilizando o índice quantitativo de Bray-Curtis), ambas a partir de uma matriz de abundância de indivíduos por espécie em cada parcela (considerando somente as espécies com mais de dez indivíduos na área), visando investigar a distribuição espacial florística. Estas análises foram realizadas no programa PC-ORD versão 4.1 [7]. O regime de saturação hídrica e de inundações foi avaliado mensalmente de abril 2005 a março de 2006. Cada parcela foi subdividida em sub-parcelas de 5x5m, onde foi registrado, de forma visual, a ocorrência de uma das categorias qualitativas: (a) solo seco (ausência de saturação), (b) solo saturado superficialmente (encharcado) e (c) solo inundado (sob lâmina d’água), adaptado de Teixeira [8].  A cobertura de dossel foi caracterizada com a utilização de Densiômetro Esférico. No centro de cada sub-parcela de 5x5m foram realizadas quatro leituras (sentidos N, S, L e O). A média entre as quatro leituras foi considerada a medida da abertura do dossel (em porcentagem) em cada sub-parcela, como em Souza & Martins [9]. Para análise de alterações na paisagem, aerofotografias da área referentes aos anos 1962, 1972, 1978, 1988 e 1995, foram processadas em um Sistema de Informações Geográficas (software ArgGIS 9.1), onde procedeu-se a geração de mapas temáticos e armazenamento de informações em um banco de dados relacional.  Resultados e discussão  Foram encontradas 22 espécies arbóreas distribuídas em 13 famílias botânicas, num total de 1696 plantas amostradas. A comunidade estudada apresenta altura média de 7,3 m, com árvores que ultrapassam 15 metros O mosaico florístico e estrutural de uma floresta ribeirinha em Rio Claro, SP  Eduardo M. B. Prata1, Marco Antonio Assis2 e Sérgio dos Anjos Ferreira Pinto3  ________________ 1. Eduardo Magalhães Borges Prata é aluno (bolsista PIBIC) do curso de Ciências Biológicas, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. Av. 24-A, 1515, Rio Claro, SP, CEP 13506-900. E-mail: dufloresta@yahoo.com.br 2. Marco Antonio de Assis é Professor Assistente Doutor do Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. Av. 24-A, 1515, Rio Claro, SP, CEP 13506-900. E-mail: massis@rc.unesp.br 3. Sérgio dos Anjos Ferreira Pinto é Professor Assistente Doutor do Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento, Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. Av. 24-A, 1515, Rio Claro, SP, CEP 13506-900. E-mail: sanjos@rc.unesp.br  Apoio financeiro: CNPq.  Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 984-986, jul. 2007  985 de altura. Croton urucurana Baill. é a espécie que apresenta o maior valor de VI (67,20), devido aos elevados valores de dominância (33,49) e de freqüência relativas (18,43). Myrcia laruotteana Cambess. ocorre com o segundo maior VI (59,13), seguida de Sebastiania membranifolia Mull. Arg. (50,84) e Actinostemon sp. (41,65), evidenciando a importância da família Euphorbiaceae na comunidade. Terminalia triflora Griseb., Alchornea glandulosa Poepp. & Endl., Allophyllus edulis Radlk. Ex Warm., Myrciaria tenella (DC.) Berg, uma espécie não determinada e Rapanea gardneriana (A.DC.) Mez. ocorrem com apenas um indivíduo. As famílias de maior riqueza florística são Euphorbiaceae e Myrtaceae, com cinco espécies cada. O índice de diversidade de Shannon-Weaver (H’) para espécie é relativamente muito baixo (1,803 nats/ind.). A partir da avaliação do regime de saturação hídrica e de inundação dos solos, foram identificadas duas áreas distintas em condições edáficas de umidade (Fig. 1-A). Os solos das parcelas localizadas à jusante da confluência do Córrego do Jardim Bandeirantes no Ribeirão Claro, apresentam manchas de saturação hídrica por períodos de mais de seis meses e permanecem inundados por pelo menos dois meses, durante as cheias do Ribeirão Claro (Planície de inundação). Nas parcelas à montante da confluência (Interflúvio) foram registrados pontos de saturação hídrica por no máximo seis meses ao longo de um ano. Neste grupo ocorrem parcelas livres de inundação e parcelas que são inundadas por no máximo um mês. Os dados sobre cobertura de dossel foram categorizados em quatro classes e transformados em um mapa temático em um Sistema de Informações Geográficas. Os resultados deste procedimento mostram a heterogeneidade espacial da estrutura do dossel neste trecho de floresta (Fig. 1-B). O resultado da Análise de Correspondência Destendenciada (Fig. 1-C e 1-D) sugere a existência de três grupos florísticos. Estes mesmos grupos foram identificados pela análise de Cluster (dados não apresentados). O primeiro (Grupo 1), à esquerda no gráfico, é caracterizado principalmente pela abundância relativa das espécies Sebastiania membranifolia (exclusiva deste grupo) e Actinostemon sp. As parcelas que compõem este grupo (1-21,23 e 32) são exatamente aquelas inseridas na planície de inundação (exceção da 32). O segundo Grupo (2), na parte inferior direita do gráfico (parcelas 33-35, 37-43), é caracterizado pela abundância relativa das espécies Myrcia sp. e Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez. Todas as parcelas livres de inundação (exceto a 44) compõem este grupo. O terceiro Grupo (3) de parcelas (22,24-27,29-31,36 e 44), acima à direita no gráfico, está associado à abundância relativa de Croton urucurana. Estas parcelas apresentam solos bem drenados, mas que podem sofrer inundações por até um mês. A variável que mais parece estar associada à composição deste grupo é a luminosidade decorrente das elevadas taxas registradas de abertura no dossel (clareiras), como observado na Fig. 1-B. No gráfico da ACD, a primeira coordenada principal (eixo 1) representa 42% e, a segunda (eixo 2) 22% (as duas somam 64%) da variância total da matriz de correlação entre objetos (parcelas) e descritores (espécies). Foi constatado, a partir de análises de evolução da paisagem por aerofotointerpretação, que o ambiente estudado se trata de uma floresta secundária em regeneração há pelo menos quatro décadas. Neste contexto, considera-se que as variáveis umidade do solo e luminosidade são determinantes para o estabelecimento e distribuição de algumas espécies nesta comunidade  florestal ribeirinha.  Os resultados levantados neste trabalho definem o ambiente estudado como um mosaico de floresta ribeirinha secundária, caracterizado pela heterogeneidade na composição florística, na estrutura fitossociológica e das variáveis abióticas analisadas.   Referências [1] GANDOLFI, S.; LEITÃO-FILHO, H.F.; BEZERRA, C.L. 1995. Levantamento florístico e caráter sucessional das espécies arbustivo-arbórea de uma floresta mesófila semidecídua no município de Guarulhos, SP. Rev. bras. de Biologia 55(4): 753-767 [2] HARTSHORN, G.S. 1980. Neotropical Forest Dynamics. Biotropica, 12(suppl.): 23-30SANTOS, R.P. 1995.  [3] RODRIGUES, R.R. & NAVE, A.G. 2000. Heterogeneidade Floristica das Matas Ciliares. In: RODRIGUES, R.R.; LEITÃO-FILHO, H.F. (eds.). Matas Ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: Edusp/Fapesp. p.45-71. [4] OLIVEIRA-FILHO, A.T. 1989. Composição florística e estrutura comunitária da floresta de galeria do Córrego da Paciência, Cuiabá, MT. Acta bot. bras. 3(1): 91 – 111. 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Spatial variation and dynamics of flooding, canopy openess, and structure in a Neotropical swamp forest. Plant Ecology 180: 161-173.         Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 984-986, jul. 2007  986 Figura 1. Fig. 1-A, distribuição das 44 parcelas na região de confluência do Córrego do Jardim Bandeirantes (canal fluvial sentido NO-SE) no Ribeirão Claro (ribeirão sentido N-S neste trecho). Fig. 1-B, mapa de cobertura de dossel das 44 parcelas amostradas no trecho florestal da região de confluência do Córrego do Jardim Bandeirantes no  Ribeirão Claro. Fig. 1-C, diagrama de ordenação resultante da Análise de Correspondência Destendenciada (ACD) considerando oito espécies encontradas nas 44 parcelas de amostragem. Fig. 1-D, localização geográfica dos 3 grupos considerados no diagrama de ordenação da ACD.  

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