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    Da feitiçaria à luta por direitos. Qual o lugar dos afetos no trabalho etnográfico?

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    Discuto, neste artigo, três experiências etnográficas de autores distintos que privilegiaram relações de afecção estabelecidas com os interlocutores e seus universos de significação: a feitiçaria em uma comunidade rural francesa; o cruzamento da religião afro-brasileira com a política na Bahia; e a luta política em torno das reivindicações de direitos da população em situação de rua em Porto Alegre – esta última  vivenciada por mim em pesquisa de doutorado ainda em curso.  A noção de afecção é desenvolvida nestas experiências a partir da centralidade cedida às relações involuntárias e não-intencionais cujas mesmas forças e intensidades que afetam os interlocutores também afetam os pesquisadores. De minha parte, narro a experiência de inserção em campo a partir de crises e dilemas e, ao fim, evidencio o quanto ser afetado (pelo meu envolvimento nas investigações do suposto assassinato de um interlocutor) possibilitou tanto a edificação de um lugar analítico sobre as crises quanto o acesso a outro ângulo de percepção sobre as formas de luta coletiva daquelas pessoas. Palavras-chave: Afecção. Observação participante. Experiência etnográfica.From witchcraft to fighting for rights. What is the place of affection in ethnographic work?Abstract In this paper I discuss three different experiences of ethnographic work that privileged relations of affection among the interlocutors and their universes of significance. These researches were about witchcraft in a French rural community; the intersection between African-Brazilian religion and politics in Bahia; and the political struggle of the homeless population in Porto Alegre –an experience I had during my ongoing doctoral research. The concept of affection is developed in these experiments by the centrality of the unintentional relations which strengths and intensities affect both the interlocutors and the researchers.  Specifically about my work, I describe the insertion of fieldwork experience by the perspective of crises and dilemmas and, at the end, I made evident how much be affected (by my involvement in the investigation of an alleged brutal murder of an interlocutor) has enabled the construction of both an analytical perspective to understand these crises and an access to another perception angle to see the forms of collective struggle of those people.Key words: Affection. Participant observation. Ethnographic experience. 

    A máquina de guerra contra o Estado tóxico

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    O objetivo deste texto é circunscrever uma teoria nativa do Estado, tendo como substrato um conjunto de mecanismos utilizado por militantes do Movimento Nacional da População de Rua, em Porto Alegre (RS), para conjurar os efeitos perversos da presença estatal na luta por direitos. Para tal, lanço mão de experiências etnográficas para realçar ações cotidianas da militância política que expurgam autoridades, hierarquias e poder de comando entre os sujeitos que mantêm uma proximidade dúbia e perigosa com o Estado. Retomando contribuições de Gilles Deleuze, Félix Guattari e Piero Leirner sobre fenômenos simultâneos de captura e escape, proponho pensar a população de rua como máquina de guerra, cuja principal razão de existência reside na aversão à lógica neoliberal das políticas públicas e na contraposição ao Estado tóxico, do qual se deve manter certa distância para evitar, inclusive, indesejáveis sintomas físicos

    A cidade subvertida: vínculos, negociações e reinvenções urbanas

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    Neste texto, reflito sobre a trama de relações sociais tecidas na urbe interiorana, explicitada pela negociação de vínculos, corpos e espaços dinamizados por pessoas em situação de rua. A partir de vinhetas etnográficas, extraídas de pesquisa realizada entre 2010 e 2012, no município de Pelotas-RS, problematizo a subversão de noções estáticas e normativas do espaço urbano, analisando a apropriação e a negociação valorativa dos corpos, das atividades informais e dos vínculos cultivados. Por fim, explicito a potencialidade subversiva dos modos de produzir e compartilhar territórios existenciais frente às forças repressivas e ordenadoras da cidade.In this text, I discuss the social relations woven in the public space, made explicit by the negotiation of social bonds, bodies and spaces inhabited by homeless people. Based on ethnographic experiences, from a research carried out between 2010 and 2012, in the city of Pelotas (Brazil) I problematize the subversion of static and normative notions of urban space, analyzing the appropriation of public spaces and the negotiation of bodies, informal activities and the social bonds. Finally, I explain the subversive potentiality of the ways of producing and sharing existential territories in the face of the repressive and ordering forces in the city

    A máquina de guerra contra o Estado tóxico: captura e conjuração estatal na luta pelos direitos da população de rua

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    The aim of this text is to highlight a native theory of the State, based on a set of mechanisms used by militants of the Movimento Nacional da População de Rua, in Porto Alegre (RS), to mitigate the perverse effects of the state presence in the struggle for rights. For such purpose, I analyze the ethnographic experiences to highlight the relations between the militants and the agents who are dangerously near to the State. Considering the contributions of Gilles Deleuze, Félix Guattari and Piero Leirner on simultaneous phenomena of capture and escape, I propose to think the action of the homeless people as a war machine whose main reason lies in its aversion to the neoliberal logic of public policies and in the opposition to the toxic State, from which one must keep a safe distance. O objetivo deste texto é circunscrever uma teoria nativa do Estado, tendo como substrato um conjunto de mecanismos utilizado por militantes do Movimento Nacional da População de Rua, em Porto Alegre (RS), para conjurar os efeitos perversos da presença estatal na luta por direitos. Para tal, lanço mão de experiências etnográficas para realçar ações cotidianas da militância política que expurgam autoridades, hierarquias e poder de comando entre os sujeitos que mantêm uma proximidade dúbia e perigosa com o Estado. Retomando contribuições de Gilles Deleuze, Félix Guattari e Piero Leirner sobre fenômenos simultâneos de captura e escape, proponho pensar a população de rua como máquina de guerra, cuja principal razão de existência reside na aversão à lógica neoliberal das políticas públicas e na contraposição ao Estado tóxico, do qual se deve manter certa distância para evitar, inclusive, indesejáveis sintomas físicos

    O sangue das ruas. Sobre agência e normatividade na mobilização política da população em situação de rua.

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    From my ethnographic experiences at spaces for claiming rights, heldby the Homeless Political Movement, I discuss in this paper the construction ofdiacritical elements mobilized in the homeless process of insertion at politicalstruggles and state dialogue spaces. In this complex scenario, I seek to highlighttheagencyof these people in their relationships with the relevant frameworks ofpolitical mobilization, focusing on both their battles against the State officersand on the way they actively inhabit the normativity of the Modern State orga-nizational logic. I specifically highlight the dynamics in which the militants clas-sify different agents of dialogue, by manipulating narratives involving the “streetexperiences”. I argue that the militants either turn these experiences positive orshow their perverse dimension, having in mind the agents and the intentions atstake.A partir de experiências etnográficas em espaços de organização políticae reivindicação de direitos, discutirei neste artigo a construção de elementosdiacríticos mobilizados por integrantes do Movimento Nacional da Populaçãode Rua (MNPR-RS), destacando a dimensão da agência contida na relação dossujeitos com instituições e agentes estatais e não estatais envolvidos na mobilizaçãopolítica. O destaque será dado para a dinâmica com a qual os militantesdo MNPR-RS classificam diferentes agentes de interlocução a partir da manipulaçãodas narrativas que envolvem a “experiência das ruas”, acionando discursosque ora positivam essa experiência, ora expõem sua dimensão perversa, de acordocom os agentes e as intenções em jogo, movimentando, também, determinadaspráticas, saberes e proposições que perpassam essas arenas de mobilização e reivindicação

    Pedra, cimento, corpos e moralidades: sobre crack e enfrentamentos urbanos

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    Pedra, cimento, corpos e moralidades: sobre crack e enfrentamentos urbano

    Produção de etanol de segunda geração a partir de Arundo donax L.

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    Tese (Doutorado) - Instituto de química programa de pós-graduação em química - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientadora: Maria do Carmo Ruaro Peralba

    O lado brutal da modernidade e a produção histórica da “mendicância” como argumento para a violência estatal no Brasil

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    A partir de uma crítica à literatura específica sobre “população em situação de rua”, que tem silenciado a articulação entre Estado, racismo, violência e modernidade, o texto persegue as práticas, políticas e modos de intervenção estatais sobre populações assistidas ou eliminadas no Brasil. Potencializando a crítica a partir das inferências pós-coloniais e decoloniais, estabelece diálogo com uma historiografia referente ao período de transição do sistema escravista para o republicano, para argumentar que a cruzada contra a “vadiagem” foi um destes planos absolutamente marcados por elucubrações racistas, potencializadas ante a inevitabilidade do fim da escravidão, com incrível continuidade na contemporaneidade do espaço colonial
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