3 research outputs found
Quitandeiras, colonialidade e branquitude : uma história social da alimentação no Rio de Janeiro (século XIX)
Orientador: Prof. Dr. Otávio Luiz Vieira PintoDissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História. Defesa : Curitiba, 20/02/2025Inclui referênciasResumo: A partir dos trânsitos transatlânticos fomentados pela colonização europeia de terras ao sul das Américas, o território brasileiro e as Áfricas foram conectados durante séculos de tráfico humano e de mercadorias, promovendo que aqueles e aquelas que foram sequestrados de suas terras de origem transplantassem suas memórias vivas ao Brasil. Assim, as kitandas africanas foram renegociadas nas quitandas brasileiras, que representam o ofício de venda de alimentos desempenhado – em maioria – por mulheres negras em diferentes estados do país desde o século XVII. Dessa forma, através da Decolonialidade, da História Social da Alimentação e do questionamento da Branquitude, essa dissertação objetiva introduzir as agências de resistências socioculturais, políticas, intelectuais e alimentares das quitandeiras da cidade do Rio de Janeiro do século XIX, especialmente entre os anos 1800 e 1888, junto ao distanciamento do racismo, da branquitude e do sexismo que atravessaram a existência dessas mulheres e que as impuseram o resistir, demonstrando os discursos históricos que permearam suas existências. Para tanto, uma vasta base metodológica é empreendida, sendo dividida em três grandes classes. A primeira, a de fontes históricas, é composta por relatos dos viajantes norte-americanos James Cooley Fletcher e Daniel Parrish Kidder; por iconografias de Jean-Baptiste Debret e Henry Chamberlain; por publicações periódicas dos jornais "Diário do Rio de Janeiro", "Gazeta do Rio de Janeiro", "A Patria: Folha da província do Rio de Janeiro" e "O Homem de Côr"; e por cartas legislativas e documentos oficiais. A segunda se destina a críticas historiográficas sobre dois autores canônicos da História da Alimentação brasileira, Luís da Câmara Cascudo e Gilberto Freyre, que, apesar de serem relevantes para a consolidação do campo de estudos, podem ser investigados enquanto atravessados pelo racismo, pela branquitude e pelo sexismo. Por fim, a última classe elabora uma revisão bibliográfica pautada em produções contemporâneas que dialogam com a Decolonialidade, a História Social da Alimentação e o questionamento da Branquitude. Em conclusão, o resistir sociocultural, político, alimentar e intelectual das quitandeiras do Rio de Janeiro oitocentista pôde ser verificado e exemplificado através das fontes históricas propostas e das metodologias utilizadas nessa investigaçãoAbstract: Along with the transatlantic transits encouraged by the European colonization of lands south of the Americas, the Brazilian territory and the African continent were connected for centuries by human and merchandise trafficking, causing those who were kidnapped from their lands of origin to transplant their living memories to Brazil. Thus, African kitandas were renegotiated in Brazil, being transformed into Brazilian "quitandas", which represent the food sales profession performed – mostly – by black women in different states of the country since the XIX century. In that way, through Decoloniality, the Social History of Food and the questioning of Whiteness, this dissertation aims to introduce the agencies of sociocultural, political, intellectual and food resistance of the "quitandeiras" of the city of Rio de Janeiro in the XIX century, especially between the years 1800 and 1888, together with the distancing from racism, whiteness and sexism that impacted the existence of these women and that forced them to resist, demonstrating the historical discourses that permeated their existence. To this end, a vast methodological basis is undertaken, being divided into three large classes. The first, of historical sources, is composed of reports by North American travelers James Cooley Fletcher and Daniel Parrish Kidder; iconography by Jean-Baptiste Debret and Henry Chamberlain; periodical publications from the newspapers "Diário do Rio de Janeiro", "Gazeta do Rio de Janeiro", "A Patria: Folha da Província do Rio de Janeiro" and "O Homem de Côr"; and legislative letters and official documents. The second is intended for historiographical criticisms of two canonical authors of the History of Brazilian Food, Luís da Câmara Cascudo and Gilberto Freyre, who, despite being relevant to the consolidation of the field of studies, can be investigated as promoters of racism, whiteness and sexism. Finally, the last class elaborates a bibliographical review based on contemporary productions that dialogue with Decoloniality, the Social History of Food and the questioning of Whiteness. In conclusion, the sociocultural, political, food and intellectual resistance of the "quitandeiras" of nineteenth-century Rio de Janeiro could be verified and exemplified through the proposed historical sources and the methodologies used in this investigatio
O tabuleiro como expressão de resistências das negras quitandeiras no Brasil (século XIX): : Uma revisão bibliográfica
“Quitandeiras” were called the African and African-Brazilian women, enslaved, freed enslaved and free, who incorporated selling several foodstuffs as a craft in nineteenth-century Brazil. Being inserted in a world-system based on white and racializing ideals, the exercise of selling foodstuffs meant a possibility of resistance to the racism, abuse and exploitation experienced by these women. On this way, in order to ensure that coloniality is questioned and not reproduced in this article, decoloniality and the questioning of whiteness encompass the research methodology used, besides the food social history. Thus, two titles form the basis of this bibliographic review, namely the MA Dissertation “Das kitandas de Luanda aos tabuleiros das Terras de São Sebastião: conflito em torno do comércio das quitandeiras negras no Rio de Janeiro do século XIX”, by master of Urban and Regional Planning Fernando Vieira de Freitas; and the PhD Dissertation “‘Um pé na cozinha’: uma análise sócio-histórica do trabalho de cozinheiras negras no Brasil”, by doctor of Sociology Taís de Sant’Anna Machado. In short, the uses of food social history, decoloniality and the questioning of whiteness as theoretical presuppositions in the analysis of power relations and subalternization proposed in the Brazilian colonial society includes the understanding of the different forms of sociocultural, intellectual and dietary resistance exercised by the “quitandeiras” in the 19th century.Quitandeiras eram chamadas as mulheres africanas e afro-brasileiras, escravizadas, escravizadas ao ganho, libertas e livres, que incorporaram a venda de gêneros alimentícios diversos como ofício no Brasil oitocentista. Estando inseridas em um sistema-mundo organizado a partir de ideais brancos e racializantes, este exercício significou uma possibilidade de resistir ao racismo, abuso e exploração experimentados por essas mulheres. Dessa forma, a fim de garantir que a colonialidade seja questionada e não reproduzida neste artigo, a decolonialidade e o questionamento da branquitude abarcam a metodologia de pesquisa utilizada, além da história social da alimentação. Assim, dois títulos formam o tripé desta revisão bibliográfica, sendo eles a dissertação Das kitandas de Luanda aos tabuleiros das Terras de São Sebastião: conflito em torno do comércio das quitandeiras negras no Rio de Janeiro do século XIX, do mestre em Planejamento Urbano e Regional Fernando Vieira de Freitas; e a tese ‘Um pé na cozinha’: uma análise sócio-histórica do trabalho de cozinheiras negras no Brasil, da doutora em Sociologia Taís de Sant’Anna Machado. Em suma, o uso da história social da alimentação, da decolonialidade e o questionamento da branquitude como pressupostos teóricos nas análises das relações de poder e subalternização estabelecidas na sociedade colonial brasileira possibilitam a compreensão das diversas formas de resistências socioculturais, intelectuais e alimentares exercidas pelas quitandeiras no século 19