O estudo da dieta de aves pode fornecer informações importantes sobre a estrutura
trófica de comunidades, bem como das condições físicas do ambiente em que vivem.
Há poucos estudos detalhados sobre itens alimentares das aves brasileiras,
principalmente na região nordeste do Brasil. Este trabalho teve como objetivo geral
demonstrar a organização trófica em fragmentos de Mata Atlântica no Estado de
Pernambuco. Os registros das aves foram baseados em observações in situ, dados da
literatura, estudo da coleção científica de aves da UFPE, além de entrevistas com
moradores da região. A tipificação das categorias tróficas deu-se por meio de
observações de forrageio, análise do conteúdo fecal e dados da literatura. Esta última
análise foi realizada apenas nos fragmentos da Estação Ecológica do Tapacurá (EET),
onde as aves capturadas tiveram suas fezes coletadas e analisadas no laboratório de
entomologia da UFSCar. Durante esta pesquisa foram registradas 255 espécies de aves
para os três fragmentos estudados. Desse total, 225 espécies foram catalogadas para a
Reserva Estadual de Gurjaú, 183 espécies para o Camocim e 172 para o Toró, estando
distribuídas em 53 famílias e 11 subfamílias. Do total geral das aves listadas houve
predomínio das espécies insetívoras (n = 113), seguidas das onívoras (n = 65) e das
granívoras (n= 19). Em gurjaú o percentual de insetívoras foi de 44% e de onívoras,
26,22%; no Camocim o percentual foi de 45,90% para insetívoras e 27,32% para
onívoras; no fragmento do Toró 46,51% insetívoras e 29,07% onívoras. As aves de
dietas mais especializadas como as frugívoras, aparecem em terceiro lugar, com maior
número de espécies em Gurjaú (n = 18), em que se destacam aquelas espécies de maior
porte, como exemplo: Crypturellus soui, Pionus maximiliani, Pteroglossus aracari e
Pteroglossus inscriptus, foram observadas em todos os fragmentos da Reserva durante
a pesquisa. Entretanto, no Camocim e no Toró o número de espécies frugívoras foi bem
menor (n = 8 e 7 respectivamente), sendo menos da metade daquele encontrado em
Gurjaú; não houve registro de grandes frugívoras. Em Gurjaú, foram observadas
espécies insetívoras especialistas, seguidoras de formiga-de-correição e escaladoras de
troncos, e frugívoras de grande porte. Das 252 amostras de fezes analisadas, as espécies
insetívoras predominaram nos resultados (n = 31), seguidas daquelas onívoras (n = 8) e
frugívoras (n = 6). Entre as insetívoras, Tyrannidae (n = 16) foi a família com maior
número de espécies e a subfamília Elaeniinae se destaca, representando 68,75%. Dentre
as frugívoras, apenas três espécies da família Pipridae e três da subfamília Thraupinae
foram capturadas. Entre os indivíduos capturados predominaram os insetívoros
exclusivos (n = 184), e após, onívoros (n = 37), frugívoros (n = 28) e granívoros (n =
2). Os resultados deste trabalho demonstram que a Reserva de Gurjaú apresenta
capacidade de suporte para abrigar espécies insetívoras especialistas (e.g. Pyriglena
leuconota, Conopophaga melanops e Conopophaga lineata) e grandes frugívoros (e.g.
Pionus maximiliani, Pteroglossus aracari e Pteroglossus inscriptus). Os fragmentos da
Estação Ecológica de Tapacurá apresentam um menor número de insetívoros
especializados e nenhum grande frugívoro, devido à grande alteração antrópica ocorrida
na área e o isolamento dos fragmentos pela monocultura da cana-de-açúcar, impedindo
ou dificultando a permanência de aves mais sensíveis a alterações ambientais
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