129f.A feminização da aids trouxe o maior risco de transmissão vertical, fazendo com que fossem adotadas pelo Ministério da Saúde uma série de medidas no sentido de impedir a transmissão do HIV das mulheres infectadas para seus (as) filhos (as). Uma dessas medidas foi a implantação dos testes rápidos anti-HIV, que devem ser realizados por mulheres que não apresentem resultado de sorologia do pré-natal no momento do internamento em trabalho de parto. Esse exame deve ser realizado com aconselhamento pré e pós teste, independentemente do seu resultado, como qualquer outro exame para HIV. Porém, observa-se que esse aconselhamento não vem sendo realizado pelos (as) profissionais na oferta do teste em trabalho de parto, sobressaindo o cumprimento de medidas profiláticas destinadas à interdição da transmissão vertical, desvinculando as necessidades de cuidado das mulheres nas suas especificidades. Frente a essa realidade, foi desenvolvido um estudo de caráter qualitativo, que teve como objetivo investigar como as mulheres percebem o cuidado profissional que lhes é prestado durante o processo de realização do teste rápido nos períodos pré e pós-parto. Foram utilizados como categorias analíticas gênero e integralidade. O gênero constitui categoria relacional utilizado para discutir a naturalização da função reprodutiva da mulher e as relações de dominação entre homens e mulheres, tornando-as mais vulneráveis à infecção. A integralidade é apontada como uma perspectiva que permite se escapar ao reducionismo das necessidades dos sujeitos e aprendê-las de maneira ampliada, tornando as relações de cuidado mais humanizadas e acolhedoras. A técnica de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada realizada com doze mulheres puérperas atendidas no Centro de Testagem e Aconselhamento estadual para conclusão de diagnóstico, conforme fluxograma definido pelo Ministério da Saúde. O material empírico foi analisado por meio da técnica de análise de discurso segundo Fiorin, que consiste no estudo dos elementos discursivos, através dos quais se monta, por inferência, a visão de mundo dos sujeitos. A análise dos discursos das entrevistadas confirmou que o aconselhamento na testagem anti-HIV não vem ocorrendo nem no pré-natal, nem no trabalho de parto e nem no puerpério. O exame vem perdendo sua especificidade ao ser incorporado à prática clínica como exame de rotina, sendo que em muitos casos a mulher sequer foi informada sobre a sua realização, o que fere o direito reprodutivo de autonomia das mulheres. Os cuidados técnicos prevalecem nesse processo, em que os profissionais mantêm suas condutas direcionadas a procedimentos destinados a impedir a transmissão materno-fetal do vírus, e apresentam uma série de dificuldades para realizar o aconselhamento. As relações superficiais e autoritárias norteadas pelo modelo de atenção hegemônico refletem mecanismos de poder entre profissionais e usuárias, dificultando o acolhimento e o vínculo e desconsiderando as especificidades das mulheres, o que dificulta a identificação e o atendimento ampliado das suas necessidades, distanciado as práticas de saúde da perspectiva da integralidade
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